Geógrafos da Universidade Federal do Acre trouxeram luz aos acontecimentos sísmicos recentes na região de Tarauacá, no interior do Acre, que causaram repercussão na mídia nacional e no mundo. Poucas pessoas dizendo sentir o tremor, mas segundo estudos, isso deve mudar no futuro, já que de acordo com as projeções, os abalos podem ocorrer de maneira cada vez mais intensa e em intervalos menores.
Nos dias 20 e 28 de janeiro, a Agência de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos (USGS) e o Centro de Redes de Terremotos da China foram os primeiros a informar os abalos de 6,6 graus na Escala Richter, numa região entre Tarauacá (AC) e Ipixuna (AM). A profundidade estimada do epicentro foi entre 614,5 e 630 quilômetros da superfície.
De acordo com o professor da Universidade Federal do Acre, Ivam Castro, a região entre Tarauacá e Ipixuna é responsável por boa parte dos tremores registrados no Brasil, mas diferente do que foi veiculado por meios de comunicação, o maior terremoto já registrado naquela região foi em 2015, quando as agências de monitoramento flagraram 7,6° na Escala Richter.
Tremores na região indicam falha na placa tectônica abaixo do Acre
Estudos de especialização dos sismos feitos por pesquisadores do Laboratório de Geomorfologia e Sedimentologia da Universidade Federal do Acre indicaram haver uma falha geológica na placa tectônica sul-americana (que está abaixo da maior parte amazônica) . A falha foi denominada como “Falha de Tarauacá” e divide o Acre em duas partes, a Placa do Purus e Placa do Juruá. A hipótese dos cientistas explica como, apenas nesta região, ocorreram 120 tremores no período de 1950 a 02 de fevereiro de 2024. Vale ressaltar que em 17 registros durante este tempo, o epicentro dos terremotos foi identificado a menos de 100 metros da superfície (veja imagem abaixo), mas em menor intensidade. O que levanta a seguinte: o que acontecerá quando um terremoto de grau severo acontecer com o epicentro mais próximo da superfície?
Um gráfico com os locais georreferenciados das ocorrências registradas pelos serviços geológicos com dados encontrados de 1963 a 2016 mostra, com certa clareza, que os eventos sísmicos na região ocorrem em linha (veja a imagem abaixo).
Nos Estados Unidos, uma falha entre a Placa do Pacífico e a Placa Norte-americana abaixo da Califórnia produziu rupturas tão grandes que o solo se rompeu em algumas regiões. Cientistas americanos alertaram para a possibilidade de uma grande ruptura iminente, apelidada de “Big One”, que em simulações, mostrou ser capaz de provocar a morte de 2 mil pessoas e deixar mais de 50 mil feridos. Mas será que isso poderia acontecer no Acre?
“A região do Acre permanece como baixa probabilidade, mas, em se tratando de um planeta vivo, em termos geológicos, pode ocorrer falhas mais severas no futuro”, disse Waldemir Lima dos Santos, professor do curso de Geografia da Universidade Federal do Acre.
Falha de Tarauacá pode estar provocando mudanças no solo e nos rios da região
Os impactos dos terremotos na região entre o Acre e Amazonas causaram elevações de terreno tão drásticas que afetam as chuvas da paisagem. Pode parecer um pouco, mas talvez seja o suficiente para mudar o curso dos rios Tarauacá e Gregório, principalmente.
“Considerando que o movimento é convergente, há alteração no relevo e nas bacias, com a subida de bloco seguidas de áreas com rebaixamento. Esse é o efeito inicial e que já ocorre naquela região”, comentou Waldemir Lima.
Ivam Castro alerta que os estudos indicam que há evidências de que mudanças climáticas climáticas para a intensificação no número de terremotos e, também, para um aumento na intensidade dos abalos sísmicos. Por isso, é necessário pensar no que fazer quando os terremotos forem fortes ou suficientes para causar danos à superfície.
“Principalmente Tarauacá, que é a região mais atingida, a Prefeitura tem que começar a se preparar para alguma emergência em relação aos terremotos. A incidência de tantos terremotos já deve ser suficiente para a criação de planos que mudem os padrões das construções, edificações. As informações sobre a repetição desses terremotos já devem ser suficientes para exigir alguma ajuda do Governo Federal para o apoio em pesquisas. Embora os eventos aconteçam a mais de 600 quilômetros da superfície, uma hora pode ocorrer algum abalo próximo da superfície que cause algum desastre “, chama a atenção o professor Ivam Castro.
Veja o artigo que embasou as informações dadas nesta matéria.
Ivam Castro é professor da Universidade Federal do Acre, mestre em Desenvolvimento Regional, especialista em Geoprocessamento Aplicado e Análise Ambiental, e doutorando em Geografia. Ele escreve para o blog geografia.com
Waldemir Lima é professor da Universidade Federal do Acre, mestre em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais pela Universidade Federal do Acre, doutor em Geografia pelo Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais, docente nas áreas de Hidrogeomorfologia da Amazônia, Neotectônica da Amazônia, Geomorfologia Estrutural e Climática, Geomorfologia Fluvial e Planejamento Ambiental.
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