A arquiteta e urbanista Anna Paula Costa de Sousa, 29. Bem sucedida profissionalmente, com bom trânsito no ambiente empresarial, empreendedora. Tem resolvidos muitos problemas de ordem material que a maioria dos acreanos nem sonha. Aparentemente, não teria motivos para viver crises de ansiedade. Mas a história não é bem assim.
Por que você decidiu cuidar da saúde mental?
Resolvi procurar ajuda quando tive um problema com compulsão alimentar, devido á minha ansiedade. Na época, em 2017, não se falava tanto quanto hoje, na pós-pandemia, e não se sabia direito identificar o que era uma crise de ansiedade. Então resolvi procurar ajuda sem falar para ninguém, com vergonha. Fui para o atendimento público que era feito na universidade à época, na FAAO. Eu me senti imediatamente acolhida, mas com muito receio.
A expressão “Saúde Mental” te traz quais ideias?
Essa expressão me traz um conforto e apoio imediatos, especialmente por ter sido tão bem acompanhada até 2021 e depois a alta chegou. Quando lembro do meu processo, onde avancei na minha vida, a autoconfiança, o auto amor, a qualidade de ser mais amiga de mim mesma. Procurar respeitar os meus sentimentos, emoções e observar pensamentos sabotadores, o porquê estou sentido determinada coisa. Isso me traz à realidade e me possibilita um controle melhor.
E a familia?
Após esse início, meu pai começou a me levar algumas vezes. Mas foi um baque. Ficava a pergunta, ‘por que uma jovem, formada, simpática estaria procurando esse tipo de ajuda?’
Em algum momento, o teu pai ou algum outro familiar sugeriu que essa tua busca era “frescura”?
Quando contei o que estava acontecendo comigo, sem nem mesmo saber o que era aquilo, poucos entendiam. Mas quando viram, ao longo do tempo, o que eu movimentava para a minha vida de bom, todos pediram o contato de onde eu estava indo. Meu pai nunca havia ido ao psicólogo. Ver ele me acompanhando com certeza quebrou barreiras até pra ele. Afinal, ele é meu grande amigo.. Lembro bem: muitos sentaram na mesma sala que eu para conversar com o doutor, pessoas amigas e familiares. Isso gerou uma rede de conversação em família no churrasco de domingo bem positiva. Hoje, sempre observamos quem pode estar precisando e conversamos para ir ao psicólogo.
Compreenderam e aderiram.
Nunca chegaram a falar, mas depois que fui, abriram a caixa de parênteses. Como se dissessem: ‘olha isso pode dar muito certo e me ajudar!’).
A terapia usa muito a palavra como forma de auto-conhecimento. Você percebeu isso? Você percebeu que o terapeuta é um condutor, mas que, na verdade, você é quem tem “as cartas”?
Esse autoconhecimento me atrai. No momento em questão da terapia. Mas para outras áreas da minha vida. Sempre quis saber mais além do que está nos livros. Queria e quero experiências. Muito do que sou hoje na minha vida pessoal, social, profissional e espiritual foi melhorada em conversação na terapia. Colocar em prática o que é falado na terapia não é tão fácil. ‘Será que eu consigo isso?’ e muitas coisas devemos pensar e fazer por nós. Meu terapeuta sempre fala das cartas, mas no final era eu quem decidia.
É, normalmente, um processo muito “dolorido”. Não há nada de romântico ou agradável. Você sentiu isso? Outro detalhe: você foi medicada?
Senti. Especialmente em 2021, no pós-covid. Perdi um trabalho. Entrei em isolamento, estava com um problema de saúde. Vi tudo sair da minha vida. Mas creio que o que é seu chega e ponto. Foi uma fase muito difícil. Especialmente, porque não falei para ninguém. Apenas minha irmã e uma amiga. Elas estavam longe fisicamente. Então, por incrível que pareça, voltei à terapia para tratar o meu lado profissional. Estava em um alto cargo, em uma grande empresa, consumida pelo trabalho e exigiria melhorias em minha comunicação assertiva. Foi Deus, a minha fé e o meu terapeuta que me ajudaram no meu salvamento, no meu barquinho. Quando estive no fundo do poço, dá ansiedade, dá depressão. Era com ele que eu conversava. Várias vezes ao dia. Até eu ir melhorando.. Mas eu recaía.
Pensou em mudar de terapeuta?
Ele mesmo disse que não estava fazendo mais efeito e que me encaminharia para um psiquiatra. Eu relutei, óbvio. Fiquei muito tensa, mas não desisti de mim e nem ele. Fomos conversando e eu agindo. Sempre junto ali e as coisas foram voltando ao normal. Depois de alguns meses, ele me deu alta. Lembro até hoje da sensação que causou a minha alta. que dia feliz! Quanto à medicação, não tomei.
A ansiedade… como era?
Bem… quando tinha um dia estressante, eu acordava para comer. Passava o dia em dieta, treinava na academia mais pesado, após o dia de trabalho. Mas não era suficiente. No outro dia, vinha a ressaca moral. Meu corpo só tranquilizava para dormir se eu comesse algo e depois desligava. Batimentos cardíacos acelerados, suor, sensação de desmaio, dor no estômago e ânsia de vômitos. Na época, eu estava começando a empreender. Então, era um gatilho. Ou passando por problema pessoal, familiar, também era um gatilho.
Isso durou quanto tempo?
Foram dois anos assim. Não controlava esse acordar noturno. Como se fosse sonâmbula. Até mudar minha rotina. Mudei hábitos, lugares, pessoas. Tudo em prol da minha saúde.
Quando você fala em “gatilho”… você buscava trabalhar mais como fuga? treinar mais como fuga?
Eu estava esgotada psicologicamente na época que tinha um empreendimento. Trabalhava muito. Malhava mais pesado, especialmente corria mais na esteira para ter a sensação de aliviar os pensamentos e depois o pedal. Essa foi a minha virada de chave. Eu me apaixonei por pedalar. A melhor coisa que fiz.