O ac24horas foi buscar um profissional liberal bem sucedido, adulto, que já transitou nas badalações mais disputadas da cidade, para tratar da “cena sexual” acreana. Um homem bem educado, com boa formação, que não mora mais aqui. Diz o que viveu com a serenidade de quem fala a verdade. O critério para a escolha dele foi justamente o fato de estar morando agora em outro cenário, mais cosmopolita, com amarras mais diluídas, após ter vivido por aqui no Acre alegrias sufocadas por uma discrição que não era bem uma escolha. A discrição era, na prática, uma imposição social. Ele sempre mostrou o que era. Mas os parceiros acreanos eram silenciosos. Exigiam isso. Serviam-se do “prato perfeito”
. Depois voltavam para casa, como todos homens de bem, plenos de Justiça e com os preceitos morais prontos a serem compartilhados.
Tem algum lugar aqui em Rio Branco que da porta pra dentro a regra é “transe com tudo o que se mexer”?
Em Rio Branco, não existe nenhuma cena sexual… assim… Por exemplo, aqui tem ‘saunas’. Então, quando eu quero fuder eu vou lá… dou uma e volto pra minha casa. Entendeu?
E em Rio Branco não existe isso.
Não existe. Rio Branco é uma cidade totalmente avessa a isso. Ainda é muito provinciana. E, por ser uma cidade pequena, as pessoas têm por princípio não se expôr em relação a nada relativo à sexualidade. Quando eu morava em Rio Branco, e depois que eu saí de Rio Branco e voltei, geralmente, as pessoas aí usam o bate papo da UOL, entendeu? É o canal que você entra, muita gente com objetivos diferentes, mas a maioria das pessoas que entra no bate papo da UOL é pra marcar sexo mesmo. Querem putaria.
No quesito gay… qual a realidade de Rio Branco? É muito homem casado que já tem filhos, tem vida social e tudo, mas que curte uma putaria por fora. Então, a realidade de Rio Branco é essa: muita gente que vive dentro do armário e que quer sair pra fazer uma putariazinha fora, mas não quer perder a imagem que a vida social proporciona, família e tal. E fazem tudo na entoca.
Você disse que muita gente curte uma “putaria por fora”. Que tipo de putaria??
Quando eu morava aí, eu lembro de duas situações específicas. Uma vez, eu mantive contato pelo bate papo da UOL e troquei telefone com um cara que era casado e ele, geralmente, ficava comigo quando ia buscar os filhos na escola. Ele saía do trabalho dizendo que ia buscar os filhos na escola e ele dava uma passada na minha casa. Por quê? Porque eu era o “prato perfeito”
: eu morava sozinho; eu tinha já a minha vida; eu era independente; eu morava em um lugar discreto. Então, ele ia… parava o carro, entrava, a gente transava e ele ia embora. E eu lembro que esse cara sempre chegava na minha casa de farda.
Ele era da PM. E pelo uniforme que ele usava… ele era alguma coisa de alto escalão. E era uma coisa sempre bem oculta… assim: ele não falava o nome dele, a pessoa não se identifica. É uma troca de sexo mesmo: entrar, fuder, meter… ele me comia e eu comia ele (sic). E depois o cara vai embora. Lava o pau e depois vai embora. E depois ele ia buscar os meninos no colégio.
Isso é uma coisa corriqueira em Rio Branco. E, quando rola… rola, realmente, dessa forma. Quando você fica com um cara casado, geralmente, eles têm a maior preocupação com DST’s. Então, eles sempre transam com camisinha. Inclusive, exigem. Fazem o maior auê para que isso aconteça assim. Eu nunca transei com ninguém aí em Rio Branco… assim… de vacilar… de transar ‘na pele’… essas coisas assim, né? Até porque eu mesmo sou muito chato com isso. E eles também, por causa da condição deles.
E qual a segunda situação?
A segunda situação é: você me perguntou se aí em Rio Branco existe algum lugar de referência para swing. A resposta é não. Mas eu vou te contar uma situação minha. Eu já me envolvi com um cara… que esse cara era mototaxista aí em Rio Branco. Inclusive, eu conheci esse cara em uma época que tinha uma boate gay chamada ‘Cá Entre Nós’, que funcionava na Floresta [bairro]. E ele me ‘secava’ muito, toda vez que ele me via na boate. E eu falei pra mim mesmo: ‘Vou ver qual é a dele!’ Paguei uma corrida de mototáxi e pedi para ele me deixar na frente da minha casa. E assim foi feito. E, a partir daí, eu tive um rolo com esse cara por muito tempo. E eu lembro que ele me relatava a seguinte situação:
Agora, é a hora do swing…! [já se empolgando]
Não, menino. Te acalma! [risos] Quer dizer: mais ou menos. Ele falava que ele participava de um grupo de sexo que as pessoas se encontravam tipo… era um encontro sazonal, marcava-se tudo pelo grupo e era um encontro que acontecia da seguinte forma: porque até agora o cara se julgava hétero, né…? Mesmo comendo homem, ele se julga hétero. E aí ele disse que tinha um rapaz nesse grupo que tinha uma chácara e que aconteciam essas festas de sexo na chácara.
E como eram essas festas?
Eles combinavam. Eram, inclusive, pessoas bem conhecidas da sociedade acreana. Mas ele nunca falava nomes. Ele era sempre muito discreto. E uma vez ele deixou eu ver esse grupo. Eu vi as trocas de mensagens. E realmente rola. Trocam vídeos de putaria do que acontece lá.
Mas conta como era a festa nessa chácara.
Geralmente, eles pegam uma mulher. Eles pagam uma mulher para o encontro. E… tipo… nesse encontro vão oito caras.
Oito caras para uma mulher?
Essa mulher é como se fosse o ‘prato principal’. Eles vão para essa chácara. Lá… todo mundo leva bebida, fica à vontade e tudo… e tem essa mulher que… tipo… fica lá transando com eles o tempo todo. E a tara e o fetiche deles é exatamente ser ‘uma pra todo mundo’. E eu lembro que ele me contava essa história… e eu sou curioso e eu ficava perguntando. Então, aí no Acre, essas coisas são combinadas, geralmente, no privado [em contraposição ao fato de não haver um lugar sabidamente usado para encontros sexuais como há em outras cidades]. Em Rio Branco, não existe nenhum lugar que você possa frequentar… no quesito sexual.
As coisas acontecem. Mas não é pra todo mundo ver.
Aí em Rio Branco, tem uma cena sexual oculta muito forte. Mas ela acontece sempre dessa forma. Tudo com muita discrição: as pessoas não querem se comprometer, entendeu? E é tudo feito na entoca. É tudo combinado ocasionalmente. Vou até te dar uma dica.
[risos] Menino, doido! Se você quiser, cria, um dia, um personagem. Pode até dizer que você é mulher, por exemplo, e entra em uma sala da UOL e começa a puxar assunto… e começa a conversar com essas pessoas que estão lá e você vai começar a ver o que essas pessoas estão procurando. Porque aí… o UOL é o canal mais forte pra isso. A pessoa entra, ela conversa, ela fala o que tem que fazer, ou fala o que tem vontade… É muito comum o homem estar em casa se masturbando e fica puxando conversa pela sala de bate papo. Porque ninguém tem compromisso de abrir webcam. Você cria uma pessoa e você entra lá e começa a conversar. Eu mesmo já me deparei com todo tipo de situação possível no UOL.
Há muita mentira também, né?
Pois é. Se é verdade ou não… porque a internet, nesses casos, você pode ser o que você quiser. Mas lá é o melhor canal para rolar qualquer tipo de putaria.