Jardeson Kennedy tinha dívida real de R$ 1,9 mil que, com juros estava alcançando R$ 59 mil. O Desenrola trouxe abatimento de 93%. Ele pagou R$ 193,50 e ainda liberou o score de consumo
De domingo a domingo. Quem passa pela Avenida Antônio da Rocha Viana, na altura da primeira árvore após a parada de ônibus do Horto Florestal, no sentido de quem caminha do Centro para o bairro, verá Núbia dos Santos Bastos, 40, deitada em uma rede, acompanhada da filhinha Ana Júlia, a mais nova dos quatro filhos que cria vendendo estrume.
Ela e o marido vivem disso: vendem “estrume orgânico”. Moram na entrada do bairro Tancredo Neves e quase sempre precisam da “ajuda da igreja e de amigos” para complementar o orçamento. “Nesse fim de ano mesmo, recebemos três sacolões”, disse, um pouco envergonhada. “Foi o que nos segurou” (sic). As vendas não foram boas como no ano anterior.
Para Núbia, o esposo e os quatro filhos, a lista de “despesas de início de ano” faz pouco sentido. Já existe até uma ordem pré-estabelecida na cabeça dos integrantes da classe média. Citam de memória: IPVA; licenciamento do carro ou moto (ou os dois); IPTU; seguros; despesas escolares. Quem tem essa sequência na cabeça são os clientes de Núbia, que param com carros semi-novos, enchem o bagageiro de estrume para cultivar o jardim de uma casa “solta dos dois lados”.
Para quem mora de aluguel e paga a rotina à vista todo dia, expressões como “planejamento estratégico” ou “organizar custos em planilhas” não fazem parte do roteiro de vida.
Mas, levando em conta a necessidade de organização das finanças, independente da classe social a que se pertence, existem algumas despesas que se renovam de tempos em tempos. Para quem tem condições, é preciso estar preparado para elas. Algumas despesas precisam ser quitadas até o primeiro trimestre para evitar a inadimplência.
IPVA_ Para quem tem veículo, o Imposto sobre Propriedade de Veículo Automotor é uma das principais despesas de início de ano. O percentual da alíquota do IPVA varia de um estado para outro e tem como referência o que prevê a tabela da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (Fipe). Teoricamente, sem esse imposto pago, não se pode transitar com o veículo. Porque sem o IPVA pago, não há como licenciar o carro para circular.
Licenciamento do veículo_ É outro custo. O pagamento guarda relação com o final da placa do veículo. Mas o proprietário tem a opção de poder quitar junto com o IPVA. É preciso avaliar e isso varia de acordo com a condição de cada um. É preciso consultar o site do Detran para saber a data limite. Mas, sem dúvida, quitar essa despesa regular logo no início do ano tranquiliza o motorista.
IPTU_ O Imposto Predial Territorial Urbano varia de município para município. Pode ser negociado, quitado de uma única vez anual ou parcelado. Os descontos variam de cidade a cidade. Quem não valoriza o pagamento desse imposto não sabe a dor de cabeça que se evita para o futuro, sobretudo quando se quiser vender o imóvel ou por questões relacionadas a inventário.
Escola_ Para a classe média, esse é um custo típico. E, em alguns casos, é alto. Matrículas e materiais (antes com compra de livros didáticos e, atualmente, com as apostilas) e as mensalidades pagas mesmo durante período de férias abocanham parte significativa da renda dos pais. Os mais previdentes já separam parte da remuneração no final do ano anterior para essa despesa. Nesse tópico, há também o custo com o uniforme. Os especialistas em finanças orientam que, nesse caso das despesas escolares é uma oportunidade que os pais têm de ensinar “o custo das coisas”. É um momento importante para que a criança vá, aos poucos, formando uma percepção sobre a ideia de custos e utilidade.
Pendências do ano anterior_ As pendências do ano que passou precisam ser sanadas o mais urgente possível. Sempre há parcelas de compras natalinas ou faturas de aquisições que foram divididas. Se tiver alguma em atraso, a dica é não deixar acumular.
Uma pesquisa feita com 390 entrevistados pela equipe do Fórum Empresarial de Inovação e Desenvolvimento, em parceria com a Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino, Pesquisa e Extensão Universitária do Acre, constatou que 63% das famílias têm alguma conta a pagar. O estudo foi feito em novembro.
É o dado mais recente que analisa o “endividamento das famílias” no plano regional e compõe o 6º Boletim de Conjuntura Econômica, uma iniciativa do Fórum Empresarial de Inovação e Desenvolvimento que busca traçar diagnósticos econômicos regionais. Esse fórum existe em todos estados do país e reúne instituições de ensino, pesquisa, órgãos de Estado e da iniciativa privada para que sejam gerados dados locais. Com isso, as reações da classe empresarial podem estar fundamentadas em um cenário econômico mais real e menos subjetivo, como é comum em dados que traçam panoramas mais genéricos em um país de dimensões continentais como o Brasil.
Do total de entrevistados, 51% disseram que têm dívidas formalizadas em menos de 30 dias. 28% afirmaram que as dívidas foram feitas nos últimos três meses. Outro dado grave: 33% dos entrevistados disseram estar negativados em cadastro de inadimplentes.
Um dado que mostra a deformação do acreano quando o assunto é finança pessoal, registrado pelo Fórum Empresarial, é o que aponta que 67% disseram não saber se estão negativados. É um número significativo porque esse tópico demonstra uma pessoa sem o mínimo controle dos gastos.
Aquelas pessoas que tinham consciência da restrição ao crédito e inadimplentes, 70% estavam com registro no Serasa e 30% no SPC.
De acordo com o 6º Boletim de Conjuntura Econômica, 55% dos devedores são formados por mulheres e 43% são formados por homens. A faixa etária de 30 a 39 anos responde por 22,36% dos endividados. 20,33% de 40 a 49 anos. São os maiores percentuais.
Entre 18 e 24 anos, 19,51% estão endividados; entre 25 a 29 anos, 17,07%. De 50 a 64 anos, 15,45% dos entrevistados estão endividados e de 65 a 84 anos apenas 5,28%.
Mais de 70% dos entrevistados recebem até três salários mínimos. Entre os entrevistados que possuem renda mensal variando de 3 a 5 salários mínimos, 14% estão inadimplentes. Com renda entre 5 e 10 mínimos, 10% estão endividados. E aqueles com renda mensal acima de 10 salários apenas 2% estão com dívidas não pagas.
O estudante de mestrado em Produção Vegetal da Ufac, o biólogo Jardeson Kennedy Moraes Souza, 25, era um desses acreanos endividados. Tudo começou em 2018 com a aquisição de um computador. Na verdade, foi um investimento que ele fez para dar suporte à carreira acadêmica.
O combinado era o seguinte: ele arcaria com seis meses das parcelas e a mãe com os outros seis meses. Além do computador, foi comprada também uma bicicleta. Os seis meses que ficaram sob a responsabilidade de Kannedy foram pagos com recursos do PBID (o programa federal de incentivo à iniciação científica).
“O que ninguém contava é que a minha viesse a ser demitida. Ela foi demitida e nós tínhamos que optar: ou pagávamos a parcela ou pagávamos aluguel”, recorda o acadêmico, morador do bairro Pista, região da baixada da Sobral, periferia de Rio Branco.
A situação foi se agravando. A dívida real, segundo o estudante, era de R$ 1,9 mil. “Os juros elevaram o endividamento para 59 mil reais”, indigna-se. “Eu não iria ter condições de quitar essa dívida”.
Jardeson Kennedy tinha dívida real de R$ 1,9 mil que, com juros estava alcançando R$ 59 mil. O Desenrola trouxe abatimento de 93%. Ele pagou R$ 193,50 e ainda liberou o score de consumo
O “Desenrola” criou outro cenário para o estudante e a mãe dele. “O ‘Desenrola’ fez um desconto de noventa e três por cento e eu paguei cento e noventa e três reais e cinquenta centavos”, anima-se. “E ainda liberou e melhorou o meu score de consumo. eu nem estava acreditando. Vi que a coisa era séria mesmo quando o meu score melhorou e eu estava adimplente de novo”.
O Programa “Desenrola Brasil” foi prorrogado até dia 31 de março. O acesso à plataforma de renegociação de dívida do Governo Federal com conta bronze já está liberado desde dezembro. Antes, esse acesso era restrito a quem tinha classificação prata ou ouro. Mas o Ministério da fazenda ampliou acesso.
O programa já beneficiou 11 milhões de pessoas no país que deviam até R$ 100. O programa também renegociou R$ 30 bilhões com descontos médios de 90% da dívida para que quitasse em uma única parcela. É o caso do estudante da Ufac citado. O desconto médio foi de 85% da dívida para quem decidiu parcelar.
“Essa ampliação significa que mais 7,3 milhões de dívidas que estavam disponíveis para pagamentos à vista poderão ser divididas em até 60 meses, sem necessidade de entrada. São dívidas negativadas entre 2019 e 2022 e cujo valor atualizado seja inferior a R$ 20 mil”, informa o site do Ministério da Fazenda.
Jornalista, apresentador do programa de rádio na web Jirau, do programa Gazeta em Manchete, na TV Gazeta, e redator do site ac24horas.
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