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Como será 2024 para as microempresas com produtos com bom potencial de venda?

Itaan Arruda (Texto) e Jardy Lopes (Fotos)

Vendedor de saltenha. Vendedora de “café da manhã” nas calçadas, oferecendo tapioca, pão com manteiga, café, refresco de caju, graviola e maracujá. Vendedora de roupas em brechó. Há também “consultores” de cosméticos. Tacacazeiras e boleiras. São centenas de atividades comerciais que poderiam ser notícia. Todas têm importância. Mas o site ac24horas buscou agentes econômicos que obedecessem a três critérios: fossem microempresas (ou MEI), com baixo custo operacional e que atuassem tendo como referência a ideia de inovação. Quais são as perspectivas econômicas para 2024 entre profissionais com essas características? Essa era a dúvida.


O objetivo do site eram dois. Primeiro: respeitar as características regionais. No Acre, ser pequeno empresário é um privilégio para uma casta. Aqui, a maior parte é MEI ou microempresário. Segundo objetivo: buscar agentes econômicos inquietos, que formulem ideias novas, busquem parceiros e ofereçam produtos ou serviços com grande aceitação no mercado. Não há muitos. Mas eles existem.


Não são muitos porque ser inovador é síntese de um processo que tem a Educação como instrumento estratégico. Não é possível entender “inovação” como uma espécie de resultado vinculado à inventividade de uma pessoa, um “insight”, uma inspiração. Inovação é consequência de um longo processo que envolve educação, pesquisa, investimento e tempo. Esse conjunto não se encontra em todo canto. Mas há exemplos. E, para eles, 2024 chega com possibilidades reais de crescimento.


O trio do “Encantos da Floresta” que o diga. Rafael Diniz Rosa (CEO do grupo), Daniel Carneiro e Valdir Linhares tinham uma ideia trivial: levar produtos da floresta para serem vendidos nos grandes centros. Isso há 13 anos. Em 2010, eles queriam fazer o que já se fazia por aqui há mais de 100 anos.


Após 13 anos de muito trabalho, viagens, doenças, experiências, vivências, eles sofisticaram o entendimento do que queriam compartilhar. Descobriram o “Sangue de Dragão” (Croton lechleri). A “descoberta” surgiu pela necessidade. A experiência vivida por Daniel Carneiro foi crucial. Ele fez uma visita à comunidade do Céu do Mapiá, no Sul do Amazonas. Foi infectado pela leishmaniose. A ferida se agravava a cada dia. A busca por um tratamento local foi uma decisão do próprio Daniel. Ele quis ficar e se tratar no lugar.
Assim foi feito. O tratamento à base de “Sangue de Dragão” e Ayauasca diminuiu não apenas a gravidade da ferida. A cicatrização ocorreu de uma maneira que impressionou a todos. Era preciso compartilhar a experiência.


“Fizemos o primeiro ‘invase’ em 80 frascos”, lembra Rafael Diniz Rosa, CEO do grupo. “Foi tudo feito na base da paixão, do coração, muito artesanal, querendo dividir aquela experiência incrível”. A ideia teve aceitação. Os 80 frascos foram vendidos. Mas o desempenho do grupo se limitou a isto, inicialmente. A ideia precisava de maturação, para além do Mínimo Produto Viável focado no “Sangue do Dragão”.


Nove anos se passaram e os três sócios voltaram a investir na ideia em base renovada. “No, digamos assim, ‘segundo lote’, procuramos um laboratório parceiro que adotava todas as práticas da Anvisa”, afirmou Rosa. Isso ocorreu entre os anos de 2019 e 2020.


Era a gênese de uma empresa que deixava de ser uma simples mediadora para ser uma empresa de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação. No jargão empresarial, uma PDI. “Chegamos a um consenso no grupo de que se quiséssemos ter sustentabilidade no negócio era preciso cuidar de toda a cadeia produtiva, desde a extração até a comercialização”. Agora, o foco da Encantos da Floresta é cuidar de manter o fornecimento de bioinsumos amazônicos para confecção de farmácos fitoterápicos de alta performance.


Isso colocou o trio Rafael, Daniel e Valdir em outro nível de conversa. Em 2021, participaram do edital Inova Amazônia, do Sebrae. Foram contemplados. E ano passado passaram pela refinada seleção do edital PPBio da Suframa. A empresa teve acesso a R$ 500 mil.


Conscientes de que meio milhão de reais não é dinheiro suficiente para produção de um fármaco, os sócios estão conquistando espaços pouco a pouco, acreditando no poder cicatrizante do “Sangue de Dragão”: buscam a certificação Grau 1 da Anvisa que atua no nível cosmético. “É o primeiro dermo-cosmético para pós-procedimento dermatológico”, explica Rafael Rosa. “A aplicação deve ser feita após realização de cirurgias plásticas, tatuagem, pieling. O Sangue de Dragão atenua as cicatrizes, fazendo com que a pele volte a produzir colágeno natural”.


Sangue de Dragão mostrou viabilidade e pode expandir para além da ação cosmética

“Queremos crescer”_ E quais as perspectivas para 2024 para a Encantos da Floresta? “Queremos crescer. Estamos contratando o primeiro extrator, um mateiro, a pessoa que vai orientar outras pessoas em várias comunidades a extrair o Sangue de Dragão de maneira a manter a planta viva e produtiva. Essa contratação ocorre agora em janeiro”, alegra-se o jovem CEO. A empresa não tem loja física. Trabalha com empresas parceiras terceirizadas. Nas comunidades em que atua, está sendo feito um inventário florestal para que sejam avaliadas novas possibilidades de investimentos no segmento de fármacos. Há relatos de ação cicatrizante a partir do uso do Sangue de Dragão em pacientes diabéticos.


Floresta em frascos

Jéssica Amaral Guimarães Jucá e Carlos Eduardo Jucá de Oliveira (Foto: Cedida)

Casal de fisioterapeutas Jéssica Amaral Guimarães Jucá e Carlos Eduardo Jucá de Oliveira, fundadores da Ozo, uma empresa que trabalha com ozonioterapia. O casal tem domínio do processo da ozonioterapia desde 2017, mas a ideia da Ozo ganhou força mesmo em 2020, ano da pandemia, durante atendimentos de pacientes de fisioterapia. Um deles tinha uma ferida na perna, consequência da diabetes. Eles indicaram um curativo com óleo de coco ozonizado. O resultado surpreendeu a todos. “Cada vez mais mais, percebemos que o poder terapêutico das plantas era maior do que imaginávamos”, afirmou Carlos Eduardo. O casal faz parte do grupo Elas Fazem Acontecer e ampliaram o negócio para linha de óleos essenciais da Ozo. São três tipos de produto da empresa: óleos ozonizados, óleos vegetais e óleos essenciais e ainda há uma quarta linha de “blends” (mistura de óleos vegetais e essenciais): sinergias próprias para situações específicas. Tudo é natural, com laudo técnico de pureza. O negócio tem possibilidade e potencial para crescer. É mais um exemplo de negócio que relaciona a floresta, a natureza com a economia.


Jogos de inclusão e ousadia

Marimélia Soares. Dito assim ninguém se lembra da professora de libras Nelinha Soares. Ela tem se destacado na área da Educação não apenas no Acre. Os jogos educativos para crianças com TDH, com deficiência auditiva ou na fala, com Transtorno do Espectro Autista tornam a servidora pública do Município de Rio Branco conhecida em várias partes do Brasil e até no Chile, onde os seus produtos já começam a ser conhecidos.


O talento para formulação de apostilas e para o uso das tecnologias digitais como instrumentos de Educação levaram Nelinha Soares a reforçar o time de Formação Continuada de Professores da Secretaria de Educação de Rio Branco.


No início, o talento não encontrava os recursos ideais. “Quando eu vi o ‘Elas Fazem Acontecer’, eu percebi que ali me daria energia necessária para continuar. Minha primeira feira foi debaixo de uma ponte no bairro Cidade Nova”, recorda Nelinha, fazendo referência ao coletivo que alimenta o empreendedorismo feminino em vários segmentos do comércio e serviços. “Semana passada eu estava no Empório das Artes, uma loja colaborativa no Via Verde Shopping.


Entre o vão de uma ponte em um bairro de periferia de Rio Branco para uma refinada vitrine do condomínio de vendas mais prestigiado da cidade, Nelinha Soares tentou muitos parceiros. Encontrou na rondoniense PPToy a união ideal.


Com sede em Vilhena, a PPToy é uma indústria com inserção em feiras especializadas em brinquedos educativos por todo país. Nos principais encontros do segmento, a PPToy participa. Em 2021, o trabalho que Nelinha desenvolvia gratuitamente em um blog chamou atenção dos empresários da indústria de Rondônia. “Isso aconteceu em 2021. Eu estava desempregada, tinha um blog e 20 ideias de jogos”, contabiliza a professora. “Eles [da PPToy] escolheram nove”. O trabalho foi levado pela empresa para a 38ª Feira Internacional de Brinquedos (Abrin).


Foi aí que Nelinha passou a se destacar. A renda que passou a ter estava vinculada às vendas da PPToy. “Do que a indústria vende, eu recebo um percentual, por causa dos royalties, o trabalho intelectual necessário para a elaboração dos jogos”, explica.


Professora Nelinha Soares tem trabalho reconhecido em vários estados do Brasil e até no Chile (Foto: Jardy Lopes)

“Vendas maiores”_ Clínicas, escolas, hospitais infantis têm adotado os jogos da professora Nelinha Soares. “Para 2024, quero que as vendas sejam maiores e não tão ‘picadinho’”, almeja a educadora. Ela já tem duas colaboradoras aqui na Capital e uma em Feijó. “Tem dias que eu estou em três feiras diferentes. Outro dia, me arrumei todinha para ir a uma feira e estraguei meu cabelo na chuva. Fiquei toda molhada e me deu um desânimo, perguntando se isso seria mesmo pra mim. Mas depois eu me alegrei. Quero aumentar o número de colaboradores em 2024”.


Um detalhe importante: a professora não concentra conhecimento. No trabalho que desenvolve na Secretaria de Educação de Rio Branco, ela compartilha o que sabe. “Não tenho receio disso”, diz, sobre a possibilidade de estar formando futuros concorrentes. “Nem todos têm perfil de venda. Muitos querem usar a tecnologia para melhorar o ensino de uma disciplina específica. e não se pode ter medo de compartilhar o que se sabe”.


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Sebrae aponta os rumos: bioeconomia, agronegócio, tecnologia da informação e comunicação

O Sebrae/Acre já fez um diagnóstico. Na região Norte, os quatro eixos estratégicos para as micro e pequenas empresas são bioeconomia, agronegócio, tecnologia da informação e comunicação. A referência dos consultores para se chegar a essa síntese foi descobrir como gerar valor nos pequenos e micro negócios, respeitando a geografia e a cultura regionais?


O diretor Técnico do Sebrae/AC, Kleber Campos, em uma rápida entrevista apontou os rumos para quem precisa empreender, mas está inseguro em qual direção seguir.


Há vida econômica fora dos governos no Acre?


Há. Existe, sim.


Mas não me refiro a negócios ligados ao varejo de baixa qualificação. Estou falando de viabilidade econômica que possa exigir escala de produção?


O Sebrae fez um diagnóstico. Três mil pessoas. O que ficou evidente é que as pessoas estão buscando cada vez mais produtos personalizados, que preservem a sensação de pertencimento, de que aquele produto espelhe o seu lugar, a sua história.


Onde há isso por aqui?


Há exemplos. E fortes. Tem gente que está investindo no Sangue de Dragão, por exemplo, um produto com alto poder cicatrizante, usado em pós-cirurgias, em pacientes diabéticos. Há outra empresa que está em processo de regulação junto à Anvisa para uso da ibogaína, um fármaco poderoso para uso na redução de danos, diminuir dependência química, depressão. Você imagina como isso pode ser valioso? Esta empresa, aliás, é uma start up com muito potencial.


De fato, são exemplos de produtos que têm relação com o meu lugar.


Sim. Esse diagnóstico do Sebrae apontou que biotecnologia, agronegócio, tecnologia da informação e comunicação são eixos estratégicos. O Sebrae estimula o surgimento de ideias e de novas lideranças empresariais por meio dos editais, que funcionam como uma espécie de aceleração de empresas. É preciso ficar atento a esses editais.


Tem exemplos?


O Inova Amazônia, por exemplo. Concede uma bolsa de seis mil reais ao empreendedor. É um estímulo para que o negócio se viabilize. A lógica, claro, é que o empreendedor tenha esse estímulo inicial, mas que multiplique essa renda com a viabilidade do empreendimento no mercado.


E formação pra isso?


Bom… é preciso dedicação, planejamento e ideias alinhadas às tendências de mercado. Não dá para brigar com o mercado. É preciso compreendê-lo.


Kleber Campos, diretor Técnico do Sebrae/AC: “produtos personalizados, que preservem a sensação de pertencimento, de que aquele produto espelhe o seu lugar, a sua história” (Foto: Jardy Lopes)

Fim de 2023 apresenta uma tendência positiva no mercado de trabalho

De acordo com o IBGE, o número de pessoas trabalhando bateu recorde em série aferida desde 2012. São aproximadamente 100,5 milhões de pessoas trabalhando. Isso fez o desemprego cair no país. Foi a menor taxa desde 2015.


Gráfico mostra queda na taxa de desemprego no país
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Itaan Arruda

Jornalista, apresentador do programa de rádio na web Jirau, do programa Gazeta em Manchete, na TV Gazeta, e redator do site ac24horas.


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