Levantamento feito por pesquisadores da Universidade Federal do Acre (UFAC); do Centro de Pesquisa Climática Woodwell, Falmouth, Massachusetts, Estados Unidos; da Universidade Estadual do Ceará (UECE); e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), mostra que extremos climáticos que antes atingiam o Acre a cada cinco décadas agora acontecem todos os anos.
E, mais do que isso, são vários eventos ocorrendo no mesmo ano, segundo alerta a professora Sonaira Silva, pesquisadora do Campus Floresta da Universidade Federal do Acre. “A gente está tendo um colapso de vários eventos ao mesmo tempo com vários danos de grande proporção”, diz a cientista que recentemente foi eleita para o grupo de afiliados da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Publicado na revista “Perspectives in Ecology and Conservation” e Intitulado “Extremos climáticos na Amazônia: aumento das secas e inundações no estado brasileiro do Acre”, o estudo diz que a intensificação dos eventos climáticos extremos já é uma realidade em todo o mundo e que o estado do Acre registrou 254 eventos extremos entre 1987 e 2023, sendo 60% incêndios florestais e queimadas em áreas desmatadas, 33% inundações e 6% crises hídricas. Em média, seis municípios foram afetados por ano por crises hídricas, incêndios ou inundações.
O estudo ampliou a documentação sobre eventos extremos de enchentes, crises hídricas, queimadas e incêndios florestais no estado do Acre, no sudoeste da Amazônia brasileira. Foram analisados eventos climáticos extremos em decretos estaduais e municipais de estado de emergência e de calamidade pública, relatos de pessoas que enfrentaram os impactos desses eventos, artigos científicos e reportagens de imprensa.
O documento cita 24 decretos municipais e estaduais de calamidade ou emergência pública que foram emitidos no estado do Acre entre 1997 e 2023. As cidades de Rio Branco e Cruzeiro do Sul registraram 14 e 21 eventos extremos, respectivamente, ou aproximadamente um evento a cada dois anos. A partir de 2005, os resultados anuais indicam um aumento no número de municípios que vivenciam mais de um tipo de evento extremo, apontando para a necessidade de políticas públicas eficazes de adaptação e mitigação no estado do Acre.
Os eventos extremos no estado do Acre concentram-se nas regiões mais populosas, especialmente nas duas mais populosas: Rio Branco e Cruzeiro do Sul. No período analisado, todos os municípios do Acre registraram pelo menos três eventos extremos. No entanto, os municípios de Rio Branco e Cruzeiro do Sul registraram de 17 a 26 eventos extremos, correspondendo a um evento a cada dois anos.
As inundações foram mais concentradas em Cruzeiro do Sul, no oeste do estado, registrando 19 eventos, enquanto os eventos de crise hídrica, incêndios florestais e queimadas em áreas desmatadas estão concentrados no leste do estado.
“O estado do Acre tem se destacado como uma região onde os eventos extremos se intensificaram nas últimas décadas, com impactos em escala regional que são evidentes, principalmente para a população mais exposta. Eventos marcantes, como os incêndios de 2005 que queimaram mais de 500 mil ha em áreas agrícolas e pecuárias e 350 mil ha em floresta nativa e queimaram incontrolavelmente por cerca de dois meses, fechando aeroportos e escolas. Em 2015, os municípios ribeirinhos do rio Acre sofreram as piores enchentes já registradas, onde o Rio Branco passou 32 dias sob efeito do evento, afetando mais de 71 mil pessoas, com prejuízos econômicos estimados em 60–200 milhões de dólares americanos”, diz um trecho do estudo.
Nas conclusões, o estudo diz que o Acre pode estar entre os estados brasileiros mais críticos impactados por eventos climáticos extremos e que os registros documentados no trabalho servem como um alerta para a Amazônia como um todo, devendo mais estudos como esse serem realizados para todos os estados da região e do Brasil.
Os dados mostram a urgência de implementar ações de adaptação aos extremos climáticos e que os processos de adaptação e mitigação devem ser considerados não apenas nos municípios de Rio Branco e Cruzeiro do Sul, mas em todo o estado do Acre, especialmente nos municípios com maior vulnerabilidade social e econômica.