Em seu mais recente estudo “Cartografia da Violência na Amazônia”, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que a taxa de homicídios de mulheres no Acre é de 5,3 assassinatos por 100 mil habitantes e que “é difícil tecer explicações que justifiquem índices tão elevados de violência letal contra a mulher na região Amazônica”. Especialmente, diz o estudo, na comparação com o resto do país.
Já outro estudo atualizado mensalmente pelo Observatório Criminal do Ministério Público do Acre, mostra que em outubro, oito das 175 mortes violentas intencionais (MVIs) foram feminicídio — a mulher foi morta pelo fato de ser mulher.
Esse número representa 4,6% do total de MVIs, lideradas há anos pelos conflitos de facções. Nesse contexto, o feminicídio é a quinta maior causa de assassinatos no Acre. Além do confronto de facções, o feminicídio perde para motivos fúteis, crimes ainda sem causa definida e intervenções policiais.
Em setembro, o percentual de feminicídio foi de 4,3% do total de MVIs. Em agosto, 4,7%, e julho, 4,6% – ou seja, todos os meses um grande número de mulheres morrem por serem mulheres no Acre, mantendo o feminicídio entre as grandes causas da violência no Estado.
“Porque as mulheres amazônicas morrem mais do que as demais brasileiras, seja por feminicídios, seja por outras dinâmicas de violência?”, questionam os responsáveis pela pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Buscando compreender tal contexto, uma das hipóteses aventadas pela literatura tem relação com o processo colonizador muito particular pelo qual passou a região, majoritariamente masculino, marcado pelo silenciamento e exploração da mulher e sob uma perspectiva utilitarista, baseada em um olhar para a Amazônia como espaço provedor de matérias-primas, sem preocupação com o desenvolvimento local.
O estudo discorre sobre variados fatores aos quais se somam os desafios relativos a regiões fronteiriças e a expansão do narcotráfico na região Amazônia, que impuseram novas dinâmicas às relações de gênero. Se historicamente o crime organizado também foi retratado como um campo dominado por homens, a partir dos 2000 temos o crescimento exponencial da população carcerária feminina, direcionando novos olhares e análises para este universo.
“Seja como agentes do mundo do crime, inclusive com protagonismo nos negócios criminais, ou por seus vínculos afetivos com homens faccionados, o fato é que o quadro que se desenha no século XXI permanece pautado pelas desigualdades de gênero e pela lógica patriarcal. Se no século XIX as mulheres eram vistas como propriedades dos seringueiros, hoje são vistas como propriedades de homens faccionados, sujeitas a punições duras caso não cumpram com as expectativas de gênero, tal como com a raspagem da cabeça ou das sobrancelhas – atingindo centralmente elementos da feminilidade – ou até mesmo a morte”, conclui o FBSP.
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