O grande desafio do Acre é crescer e se desenvolver. Isso é lugar comum, opinião geral. De Raimundo Barros, o Raimundão, fundador do STR de Xapuri, extrativista e companheiro de Chico Mendes, a Assuero Veronez, pecuarista e presidente eterno da FAEAC, o consenso está dado: é preciso fortalecer a economia, gerar empregos, melhorar os serviços públicos e promover dignidade para as pessoas, sem descuidar de apontar caminhos promissores para os jovens. A questão é o como fazer. Aí os desalinhos começam. A verdade é que o caminho a ser seguido irá fatalmente definir quem, lá na frente, fica com a maioria do bolo, ou, dito de outra forma, da nova riqueza gerada. Então, acaba que o debate do caminho trava tudo, comprometendo o presente e o futuro. É preciso, portanto, que se estabeleçam consensos mínimos que destravem acordos e possibilitem que sigamos para algum lugar, afinal, o pior dos mundos é ficarmos parados enquanto o país e o mundo avançam.
Desenvolvimento não é obra do acaso. Precisa ser projetado, dirigido; precisa de boas iniciativas públicas e privadas; requer fortes investimentos e uma base de conhecimento da realidade que seja consistente a tal ponto que todos os elos da cadeia de acontecimentos sejam devidamente considerados e dinamizados. Demanda compreensão sobre as determinantes locais do crescimento econômico e as interações da economia local com o contexto econômico nacional e internacional.
Tudo isso, obviamente, precisa ser acompanhado da elevação da qualidade e da cobertura dos serviços públicos básicos, além de uma infraestrutura produtiva mais robusta. Outro aspecto importante diz respeito à melhoria das cidades, que precisam oferecer ambientes humanizados, harmônicos e sustentáveis, como saneamento básico, habitação, ruas descentes, praças e parques, enxergando com inteligência o fato que, daqui em diante, passaremos por uma forte transição etária, com nossa população adulta e idosa rapidamente substituindo a maioria jovem que nos caracterizou até aqui.
Para que essas coisas aconteçam, entretanto, é preciso algum grau de alinhamento entre governos, empresários, trabalhadores, sociedade civil, instituições de Estado e mídia. Os tais consensos mínimos. Coisa que só acontece quando grandes líderes – aqueles capazes de pôr as necessidades da sociedade acima de suas vaidades e interesses mesquinhos – assumem a condução e promovem diálogos e negociações que levam à partilha dos benefícios gerados.
Dia desses, aqui mesmo neste espaço, falei sobre o acerto do Governo Gladson ao lançar a Agenda Acre 10 Anos, que vem a ser uma proposta de desenvolvimento regional elaborada em parceria com a Fundação Dom Cabral e que fez uso do Diagnóstico Socioeconômico Acre 60 Anos, do CEDEPLAR/TCE. As virtudes da proposta residem na visão do Acre como um estado amazônico e na ideia de que, por isso mesmo, a matriz econômica deve contemplar atividades, ramos e segmentos diversos, combinando floresta em pé, agricultura em larga escala, produção familiar, agroextrativismo e pecuária, com algum grau de complexidade industrial embutido. Algo muito superior ao exclusivismo do agronegócio presente no plano de governo vencedor em 2018.
Outras boas notícias recentes são o forte investimento que a COOPERACRE vem fazendo na expansão da cadeia de valor da fruticultura e a iniciativa da APEX, sob o comando do ex-governador Jorge Viana, de trazer para Rio Branco o Exporta Mais, uma rodada de negócios presencial em que são confrontados produtores e possíveis compradores, o que pode ser uma excelente oportunidade para a abertura de canais de negociações comerciais de alto nível para as empresas acreanas. O investimento na fruticultura, por outro lado, é algo já consolidado. A planta industrial está sendo instalada, os equipamentos já foram adquiridos e os produtores, por meio das cooperativas parceiras, estão sendo incentivados a intensificar a produção primária. A expectativa é avançar nos mercados nacional e, principalmente, internacional, com derivados de frutas com alto valor agregado. Para a COOPERACRE, trata-se de um investimento de média maturação, com previsão de uso de cem por cento da capacidade instalado somente após cinco ou seis anos de funcionamento, o equivalente a aproximadamente dez mil toneladas de polpas de frutas processadas e exportadas por ano.
Outro fato de imensa relevância é a mudança de postura do Governo Federal em relação ao tema do desenvolvimento regional. O Governo Lula, diferente do anterior, encara o desenvolvimento de regiões com fortes restrições, como a nossa, como obrigação federal, e, por isso, posiciona suas agências de fomento e bancos públicos para estimular iniciativas e investimentos. Algo muito diferente do ultraliberalismo do ministro Paulo Guedes, que tende a deixar para trás áreas desprezadas pelo mercado.
Apesar dessas boas novas, os desafios são ainda imensos. E eles passam também pela mudança de postura da sociedade em relação ao valor do empreendedorismo e a importância da escolha de bons líderes nos processos eleitorais. Bons empresários e boas empresas são fundamentais. Governos honestes e competentes, capazes de transformar o dinheiro e as capacidades públicas em soluções para as demandas sociais e das empresas, são imprescindíveis, seja aqui ou na China. Fica claro, portanto, que a responsabilidade de fazer nossa região dar certo é de todos, assim como, os resultados do desenvolvimento necessariamente devem ser disponibilizados para todos, ao invés de ficar concentrado no topo da pirâmide social, como sempre aconteceu no Brasil.
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