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Carta aberta de um sobrevivente da Unimed

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Rio Branco, 27 de novembro de 2023.


Prezada Direção da Unimed,


É com pesar que escrevo esta carta. É uma das raras vezes em que a escrita, meu instrumento de ofício há 38 anos, me desagrada. Escrever nunca é fácil. E ainda mais quando o gesto é motivado por um problema de caráter pessoal. Revelo uma injustiça que sai de minhas entranhas na esperança de representar o que ocorre com muitos acreanos que ousam em usar um serviço de uma cooperativa médica que, de parceira mesmo, pouco tem, como se verá.

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É preciso remontar a julho de 2023. Com 60 anos de idade e aproximadamente 40 de teimosia com o cigarro, o corpo vai apresentando as fragilidades da hora. Passei a apresentar dores nas pernas. Era um incômodo fora do normal. Passei a ter dificuldades para andar. Iniciei os primeiros exames aqui mesmo no Acre, sempre tendo a cobertura do plano de saúde, religiosamente pago, como previsto em contrato.


Uma bateria de exames e os papeis com nomes estranhos colocaram na minha rotina palavras mais próximas da Medicina e da Farmácia. “Cateterismo cardíaco, angioplastia” e outros termos técnicos começaram a estar estranhamente comigo.


Quase todo dia era um médico diferente a ir, agulhadas aqui, pílulas para acolá, aquele cheiro de consultório, as esperas, as senhas. Ah… as senhas! Teve um dia que olhei para o visor, anunciando as senhas e vi que eu estava entre os atendimentos prioritários. Ri porque fui um privilegiado de envelhecer em um lugar sempre tão excludente.


Era a vida de quem, sexagenário, começava a apresentar problemas de saúde. Mas (sempre é bom lembrar) o pagamento do plano de saúde feito em dia. Arrisco-me a dizer que ter um plano de saúde privado é o único luxo da minha vida, além de torcer para o Flamengo. Em uma terra de gente tão empobrecida e com uma saúde pública tão precária, ter um plano de saúde particular beira ao luxo. E isso deveria fazer com que a direção da Unimed se sentisse mais responsável em tratar melhor os seus clientes. Mas sigamos.


Eis que chegou um diagnóstico: problemas nos rins. Foi o que os médicos daqui disseram. A saúde dos meus dois companheiros tão maltratados estava alterando minhas taxas e bagunçando com a saúde das minhas veias. Foi um diagnóstico parcial. Ainda seria necessário maior detalhamento. Como eu pago o “plano nacional da Unimed”, eu e minha família apostamos nele: avaliamos que poderíamos finalizar o diagnóstico em São Paulo.


A dificuldade em andar continuava. O incômodo também e isso começou a limitar algumas atividades. Mas, à exceção disto, tudo estava normal, inclusive minhas carteiras diárias de cigarro. Como o caso não foi classificado como grave pelo corpo clínico daqui do Acre, não acionei a UTI no Ar, cujo serviço é coberto pelo pagamento do meu plano. Eu teria direito, mas arquei com os custos das passagens. Fui a São Paulo terminar o que iniciei aqui, viu, Unimed/AC?


No voo, comecei a sentir fortes dores nas pernas. Ao ponto de, ao desembarcar, já fui colocado em uma cadeira de rodas. Saí direto de Guarulhos para o hospital Beneficência Portuguesa. Aqui, é preciso fazer uma distinção. Em São Paulo, há duas “beneficências”.


Falando de forma simples: uma atende pelo SUS e empresas conveniadas; a outra só particular. Justamente nessa que atender estritamente clientes particulares é que possui a serviço de urgência e emergência. E era o que eu estava precisando naquele momento em que comecei a perceber que a minha vida estava em risco.


E quem avaliou isso não fui eu que não tinha juízo para mais nada a não ser sentir dor. Foram os médicos que me avaliaram. Foram eles que sentenciaram: “ele tem que ir para a outra unidade” – Beneficência Torre. Mal sabia eu que foi justamente neste momento que meus problemas com a Unimed começariam.


Para resumir um pouco a história, os médicos da Beneficência Portuguesa que atendem exclusivamente pacientes particulares, após outras baterias de exames, chegaram a um diagnóstico: meu coração estava prestes a explodir. E não era de raiva do Flamengo.
As minhas dores nas pernas, a minha dificuldade em andar, a preguiça dos meus rins, tudo tinha como causa o danado do coração. A alta taxa de potássio (descoberta de imediato) criou no meu corpo um cenário de morte.


Foram colocados 4 stents (molinhas que se colocam nas veias do coração para deixar o sangue passar); quatro sessões de hemodiálise; duas sessões com psicólogo; quatro sessões de fisioterapia; duas consultas gerais com nefrologista; duas sessões com pneumologista e, para fechar, um período oito dias na UTI. Eu quase vi a famosa luzinha branca no fim do túnel. Não é fácil, meu querido leitor. Estar nessa situação muda a vida de qualquer um. Sobretudo quando vem a fatura: foram exatos R$ 176,4 mil. Salvei-me! E o verbo segue assim na primeira pessoa porque não tivesse eu a condição financeira que conquistei com trabalho, eu não teria sobrevivido.


E aí começa uma batalha para fazer com que a direção da Unimed no Acre compreenda que ela é responsável por ressarcir ao menos parte dos custos que tive. Não é brincadeira! Além do psicológico da gente ficar moído quando passa por um processo desses, não contar com a sensibilidade da Unimed é um processo que me maltrata o peito. Logo eu que não posso ter mais tanta raiva.

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Não contente em fazer um diagnóstico equivocado, a Unimed trabalha com a lógica de que eu “procurei um hospital não conveniado”. Ora, ora, minha prezada diretoria da Unimed/Acre, faça-me o favor! Seja razoável e reconheça o óbvio. No instante em que em fui transferido para a Beneficência Portuguesa, que atende estritamente clientes particulares, eu estava com fortes dores. Já disse e repito: o meu juízo só raciocinava dor, dor, dor. Quem apontou para onde eu deveria ir foram os médicos do Beneficência Portuguesa que aceitava o plano nacional da Unimed. Eu não estava em condições de decidir nada. Foi a Unimed, por meio dos médicos da Beneficência Portuguesa, quem me levou para onde eu deveria ir.


Sou filho da D. Cosma Vaz e do Sr. Alfredo Azevedo. Nasci no Seringal Zezinho do Jarinal (atual região do Calafate). Meu corpo foi maltratado porque o couro foi endurecendo de tanta pancada. Não tenho costume de recuar quando me sinto injustiçado. A indiferença e a insensibilidade da Unimed/AC são velhas conhecidas. Nunca imaginei que um dia eu seria vítima delas. Sou um sobrevivente da Unimed. Digo isso em tom de lamento,


Abraço-os fraternalmente,
Roberto Vaz


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