A gente exporta 5 vezes menos Castanha do Brasil do que a Bolívia. Não tem explicação. O erro está no Brasil, na falta de políticas, e a Apex agora vai trabalhar isso.
Jorge Viana
A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) está no Acre, praticamente, pegando na mão do empreendedor e colocando frente ao mercado internacional. Rodadas inéditas de negócios prometem despertar o interesse de comércio entre empreendedores locais com o mercado exterior. Para o presidente da agência, Jorge Viana, dessa forma, até mesmo pequenos negócios poderão ganhar o mundo através da parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), ministérios do governo federal e o Banco da Amazônia.
Um amplo leque de opções de produtos regionais aptos para exportação estará exposto até a próxima quarta-feira, 29, em Rio Branco, na tentativa de atrair o interesse de cerca de 20 investidores estrangeiros vindos de 15 países. Viana afirma que nunca esteve tão animado com a possibilidade de, finalmente, ver uma variedade de 64 produtos compatíveis com a floresta ganharem espaço no mercado nacional e ainda no exterior.
Diante de centenas de entusiastas do processo de empreender, o acreano líder da ApexBrasil lamentou o baixíssimo índice de exportação de produtos da Amazônia nos últimos anos, sobretudo da Castanha do Brasil. “A gente exporta 5 vezes menos Castanha do Brasil do que a Bolívia. Não tem explicação. O erro está no Brasil, na falta de políticas, e a Apex agora vai trabalhar isso. Estamos lançando aqui no Acre a primeira rodada executiva com a castanha. Terão técnicos, especialistas, produtores sentados numa mesa discutindo onde está o problema, o por que a gente não produz mais? Por que a gente não exporta mais?”.
A palavra do momento é ampliação das exportações nos estados da Amazônia brasileira e a Apex vem desenvolvendo o trabalho de habilitar empresas capazes de se tornarem exportadoras. Jorge Viana acredita que com essas ações, a Amazônia vai ocupar um espaço maior nas exportações. De acordo com o presidente da ApexBrasil, a empresa acreana Dom Porquito, graças ao trabalho que vem acontecendo em 2023, muito provavelmente se tornará responsável pelo maior percentual das exportações do Acre neste momento.
O evento é uma chance de mostrar ao empreendedor que ele pode se tornar exportador, mesmo num negócio onde tudo começou muito pequeno e a Amazônia mostra que tem um potencial extraordinário, mas ainda um tanto adormecido.
Jorge Viana afirmou já ter realizado 10 edições do evento, em 10 estados diferentes do país. O total contabilizado em fechamento de negócios já chegou a R$ 200 milhões depois que a Apex investiu R$ 4 milhões promovendo os encontros entre compradores e vendedores.
A gente exporta 5 vezes menos Castanha do Brasil do que a Bolívia. Não tem explicação. O erro está no Brasil, na falta de políticas, e a Apex agora vai trabalhar isso.
Jorge Viana
ac24horas: Quando percebeu a necessidade de criar o Programa Exporta Mais Amazônia?
JORGE VIANA: O Brasil é hoje um endereço no mundo, mas nos últimos 4, 5 ou 7 anos, o país entrou em crise interna e isso refletiu no comércio exterior. Qualquer pessoa que pegar o fluxo de comércio exterior do Brasil verá que, há 10 anos, o Brasil estava já onde chegou ano passado.
Com a Argentina, por exemplo, o fluxo de comércio exterior caiu 40% nos últimos 4 anos. Nós perdemos mercado em quase todos os países do mundo e isso foi muito ruim, porque a imagem do Brasil não estava boa, o desmatamento dobrou e a Europa cobrava o Brasil por conta disso. A situação com os indígenas ganhava as manchetes dos jornais e afetava a imagem do Brasil. Eu diria que isso é passado. Agora, é a gente retomar um período de prosperidade e de ampliação das exportações, e nós achamos que era importante envolver as regiões Norte e Nordeste, que mesmo nos bons períodos do Brasil, não estavam exportando o potencial que tem.
ac24horas: Quais transformações deverão ocorrer a partir do programa?
JORGE VIANA: Quando uma empresa é exportadora, ela remunera melhor, paga melhor, o produto está disputando o mundo, então é uma coisa mais refinada, ou seja, é bom você ter uma empresa exportadora. No caso Norte e do Nordeste, nós temos produtos, temos mãos talentosas, mas o pessoal atende mais o mercado interno, não é um estímulo de escalar produção para poder ganhar o mundo.
Então nós, da Apex, estamos fazendo um grande programa junto com o Sebrae nacional, envolvendo Ministério de Desenvolvimento Agrário, o Ministério da Agricultura e Pecuária e Banco da Amazônia. Por isso também essa viagem até o Acre, para criar um programa que vai desde organizar quem tem um produto com a empresa, até organizar essa empresa para que ela possa alcançar o mercado nacional e internacional.
A parte da Apex é de fazer esse segundo trabalho, de habilitar empresa para ser exportadora, mas se nós ficarmos só fazendo isso, não vai ter empresa para a gente habilitar, ou somente poucas, então tem que pegar na mão, fazer esse trabalho que estou fazendo em todos os estados, de buscar o produto.
Tem gente, às vezes, produzindo um chocolate muito bom lá no Pará, ou aqui [no Acre] como a Railda, que trabalha com cupuaçu e já começou a exportar para três países. É um bombom de cupuaçu, mas que pode ganhar o mundo. Outro dia eu estava na Bahia e uma moça falou: eu quero exportar acarajé congelado. Ela está no programa da Apex. Então, se a pessoa quiser exportar, ela tem que ter um estímulo do governo ou outros órgãos públicos, e nisso vai estar o Sebrae, a Apex, alguns ministérios e o Basa. Eu não tenho dúvida de que a Amazônia vai ocupar um espaço maior nas exportações.
Somando os produtos compatíveis com a floresta na Amazônia, que são 64, e vai de produtos como café, cacau, castanha, açaí, temos a nossa participação no mercado internacional desses produtos. De 198 bilhões de dólares, o Brasil participa com menos de 300 milhões de dólares, apenas 0,14% desse mercado, mesmo tendo a maior floresta do mundo. E o Brasil participa com 1,3% do comércio internacional. Então, os produtos da floresta não têm participação nenhuma.
A gente exporta 5 vezes menos castanha do Brasil do que a Bolívia. Não tem explicação. O erro está no Brasil, na falta de políticas e a Apex agora vai trabalhar isso. Estamos lançando aqui no Acre a primeira rodada executiva com a castanha. Terão técnicos, especialistas, produtores sentados numa mesa discutindo onde está o problema. Por que a gente não produz mais? Por que a gente não exporta mais? Isso é um programa da Apex, no governo do presidente Lula.
ac24horas: Quais tipos de negócios do Acre podem ser beneficiados com o Exporta Mais Amazônia?
JORGE VIANA: Nessa viagem agora, estamos trazendo seis cadeias produtivas. Castanha, açaí, cacau, café, carne bovina e carne não bovina (aves, suínos). A Dom Porquito, graças ao trabalho que está acontecendo esse ano, provavelmente vai ser responsável pelo maior percentual das exportações do Acre já agora. Mas isso nós pensamos lá atrás, com a Acre Aves, Dom Porquito, quando a gente fez a Estrada do Pacífico, quando a gente pensava nos portos do Pacífico.
Demora dois dias para um caminhão sair do carregamento da Acre Aves, Dom Porquito ou do FrigoNosso para chegar ao Porto de Lima, no Peru. Provavelmente, o Acre já vai ter esse produto. Mas eu quero que a castanha, por exemplo, concorra e tenha muito a crescer. Daí as empresas que trabalham com castanha precisam ter apoio e participar junto com a Apex. A mesma coisa vale para madeira certificada e para a nossa carne bovina.
ac24horas: Como os empreendedores locais estão recebendo o Exporta Mais Amazônia?
JORGE VIANA: Todo mundo se anima ao ver. Nunca aconteceu isso de ter aqui no Acre 20 compradores que a Apex trouxe de 15 países diferentes para ver esses produtos. Nós vamos fazer na segunda (27) e terça-feira (28), as rodadas de negócios, onde sentam-se frente a frente, quem quer vender e o outro que está pensando em comprar. Quando se faz isso com empresas pequenas, com setores ainda que têm muita dificuldade na economia, você cria um mercado enorme. Muitos jovens estão tendo a possibilidade de, daqui a pouco, ser um exportador, mesmo quando tudo começou pequeno.
Eu acho que a Amazônia tem um potencial extraordinário, mas adormecido. E outra coisa que eu acho que a gente tem enfrentado é o pessimismo, de dizer: ah, não vai dar certo. Dá certo, sim. A estrada do Pacífico que a gente fez, que alguns criticaram há 20 anos, agora está sendo usada para exportar os produtos no Porto do Pacífico como a gente sonhava. E agora só vai crescer. A gente quer que tenha outros produtos. O Acre está produzindo grãos também, soja, milho, os produtos da cesta básica têm que ter apoio. Mas [o incentivo] vai da pimenta do reino ao cacau, café, castanha, açaí, frutas.
A acerola hoje, por exemplo, é muito rentável. Se plantar acerola hoje, tem mercado no Brasil e no mundo. Então a Apex está trabalhando com isso, o governo do presidente Lula abriu 65 mercados mundias esse ano, o que eu chamo de voltar à diplomacia presidencial, e eu diria que nunca estive tão animado, mesmo num período de crise, de dificuldade, a gente pode dizer que está abrindo janelas de oportunidade. Quem quiser se esforçar, trabalhar um ano, dois anos, três anos, daqui a pouco vai vencer.
Nós também estamos trabalhando num programa de empresas de inovação e startup. A Apex vai criar um grande programa. O Acre tem 200 startups, o Brasil um pouco mais de 14 mil e Portugal tem 80. Startup é uma empresa que funciona em casa, no quarto das pessoas. É inovação, é criatividade. É uma área que tem um potencial extraordinário para o Brasil e não só Amazônia. Um trabalho que a gente vai fortalecer a inovação e startups.
ac24horas: Quais os diferenciais deste para os demais programas do mesmo contexto?
JORGE VIANA: Eu acho que tudo vale, lá trás tivemos programas de incentivo, mas nós criamos agora a plataforma Brasil Exportação na Apex, que tem tudo que é informação que a pessoa precisa: qual o mercado para tal produto; como faço para trabalhar com tal produto? Tem lá. É uma plataforma eletrônica que a gente está usando os recursos agora da conectividade, inteligência artificial.
No passado se fazia iniciativa, mas não tinha determinados recursos. Às Vezes tinha os recursos, iniciativas, mas não tinha o mercado, acho que agora temos um ambiente favorável. O Brasil esse ano foi o segundo endereço em investimentos estrangeiros no mundo, perdeu só para os EUA. No ano passado era o quinto.
Então um Brasil que não faz guerra com ninguém, que resolveu seu problema interno, está pacificando, tem potencial enorme, tem energia renovável, é um porto seguro para investimento. Até meados deste ano, já tinha recebido 41 bilhões de dólares de investimentos estrangeiros. E é o segundo colocado, enquanto que no mundo inteiro os investimentos caíram 30% em 2023. Já o Brasil, não só aumentou, como é o segundo endereço para receber investimentos.
ac24horas: Há alguma expectativa de negócios ou quanto o programa pode movimentar no Acre?
JORGE VIANA: No Acre ainda não, mas a nível de Brasil, a gente já está indo para a parte final, colocando comprador com vendedor. No Exporta Mais Brasil, fizemos 10 edições até agora, em 10 estados, e o programa já vendeu R$ 200 milhões em negócios. A Apex colocou R$ 4 milhões fazendo os encontros de comprador com vendedor. Aqui [no Acre] é a décima primeira edição. Certamente, negócios serão fechados na segunda e terça-feira e vamos acompanhar.
Diretor Responsável – Antonio D. F. da Costa
Editora Chefe – Thais Farias | telefone: (68) 99906-7268
e-mail: [email protected]
Artigos e matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores
Fale Conosco: [email protected]