O comércio varejista acreano agoniza. Não é de hoje, é bem verdade. Os ciclos econômicos calejam a paciência do pequeno comerciante desde sempre. A diferença do atual período de baixa no consumo é que a impressão que se tem é que o “dinheiro sumiu”.
E não é porque o instrumento da moda é o pix. Não há dinheiro circulando, nem em bits e nem em cédula. E não precisa de muita teoria econômica para se perceber o óbvio. Basta olhar, andar pelas lojas do Centro de Rio Branco ou nas galerias comerciais, a nova tendência do mercado imobiliário, para se perceber: as lojas vazias, vendedores escondidos atrás dos balcões comendo ou cutucando celulares.
Os comerciantes mantêm estoques mínimos, não por uma estratégia típica dos empresários de grandes centros. Por aqui, em situações normais de um mercado aquecido, os estoques precisam estar melhor abastecidos em função da distância dos centros produtores. No entanto, os armazéns quase vazios de hoje expõem um comerciante descapitalizado, quase sem condições de oferecer opções ao consumidor, além daquelas que estão expostas na vitrina.
Nas conversas com os comerciantes, os olhares desconfiados aos poucos cedem à conversa franca. “Mas eu não quero me identificar”, pedem. “Você me pediu para ser sincera, não pediu? Pois então, a coisa não vai bem”.
O roteiro da tentativa de entrevista é quase sempre esse. Altera pouco entre uma porta e outra do pequeno comércio varejista de Rio Branco. Como é que um comerciante nessas condições pode participar com qualidade em uma agenda tão exigente como a Black Friday?
Na ponta do lápis, ele não tem condições. A calculadora desses microempresários tem soma diferente das máquinas normais. “O que você quer que eu faça? Que deixe minha loja sendo a única sem a indicação de ‘Black Friday’? Isso não seria bom pra mim, nem agora e nem depois da promoção”, calcula a comerciante com quase 40 anos de atuação no mercado de confecções.
Há muito mais em jogo do que relação de compra e venda em uma microempresa em estados com pouca circulação de dinheiro como o Acre. São comerciantes que talvez tenham baixa capacidade de mudança de segmento: aprenderam a vender um determinado produto e têm pouca disposição em migrar. Mas demonstram uma extrema capacidade de resiliência. Já estão acostumados com os ciclos “de baixa”.
O comércio acreano tenta aderir à agenda comercial dos grandes centros, mas com um comerciante desestruturado e sem capital de giro. Esse contexto apresenta um cenário de um varejo praticamente anestesiado e com baixa capacidade de investimento.