O usuário do transporte coletivo de Rio Branco tem provas diárias da incompetência da Prefeitura na fiscalização e gestão do sistema. O gesto da empresa Ricco, a única a operar na cidade, fecha um ciclo de exclusão e descomprometimento com o cidadão. Aliás, a “entrega” de 13 linhas de ônibus para a RBTrans é demonstração inequívoca de que o cidadão é um detalhe incômodo tanto para a empresa quanto para a atual administração da Prefeitura de Rio Branco.
O que está em jogo nessa roleta de incompetência em que se transformou o sistema de transporte coletivo da Capital? A resposta mais imediata: dinheiro. Quanto? R$ 1,5 milhão. De onde? Da Prefeitura de Rio Branco, claro. O Executivo apresentou ao parlamento, na sessão de quinta-feira, mais uma proposta de suplementação orçamentária para que a RBTrans repassasse o recurso à empresa.
Os vereadores não colocaram a matéria em pauta. Uma demonstração de poder calculada pelo presidente da Casa, Raimundo Neném (PSB). O argumento formal dos parlamentares guardou relação com um suposto desconhecimento sobre a “tabela de cálculo”. Então, tá. Resta saber sobre quais “cálculos” estavam a fazer contas.
É preciso sempre lembrar ao leitor do ac24horas uma máxima da política (sobretudo do tipo paroquiana): em uma casa política, como a Câmara de Vereadores, os “cálculos” são sempre de somas e multiplicações complexas. Exigem muitos “noves fora… nada”. E o bocado do “nada” sempre sobra para o povo. É, praticamente, uma lei.
A semana que começa neste domingo (12) será quase nula no parlamento mirim. Só haverá sessão na terça-feira, em função dos dois feriados que há por esses dias. E dificilmente haverá apreciação da matéria no único dia de trabalho da semana. A análise da suplementação só deve ocorrer a partir do dia 21.
Enquanto isso, comunidades dos bairros Universitário, Mocinha Magalhães, Ufac, Esperança, Distrito Industrial e mais oito linhas estarão calculadamente excluídas pela Ricco e pela Prefeitura de Rio Branco.
Existe um novo ponto de tensão na queda de braço entre o Executivo e o Legislativo municipais. E vem em uma espécie de diminutivo: “Valtim”. O chefe do Gabinete Civil da Prefeitura acumula desafetos. E a situação piorou com a saída de Helder Paiva, afastado após ser acusado de um suposto caso de assédio. Paiva, de perfil conciliador, era uma espécie de para-raio contra crises na relação entre as instituições com a atual administração da prefeitura.
O presidente da Casa, Raimundo Neném (PSB), nega relação entre as recusas da Câmara com a pressão pela saída do chefe da Casa Civil. Há quem acredite. O fato é que, em ano pré-eleitoral, todo chefe de Executivo que pretende se reeleger, tem várias frentes de negociação a manejar. Quem souber fazer conta “de cabeça”, sem precisar ficar contando nos dedos as incertezas, conquista vantagens na tabuada política.
O diabo é que Bocalom insiste em não sofisticar os gestos. De marceneiro e eletricista a trovador desafinado, a postura populista parece enraizar-se na conduta do prefeito. Não faz o que disse que faria no sistema de transporte coletivo e já planeja atacar com “gratuidade no transporte coletivo”. Essa será a versão defendida pela Casa Civil da Prefeitura de Rio Branco.
Qual o cálculo de Bocalom? A intenção quase juvenil é colocar a Câmara de Vereadores contra o povo. O prefeito também ainda não compreendeu o que já advertiu o presidente do parlamento mirim: Bocalom não tem base de apoio na Casa. E querer manipular a opinião pública para mascarar a ingerência do Executivo na agenda do transporte coletivo. É um risco caro. E caro para o povo, bem entendido.
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