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De barracão em barracão… Rio Branco segue em ré

A semana foi agitada no barracão Prefeitura de Rio Branco e no barracão Câmara de Vereadores. Mas o que os “barracões” dos antigos seringais têm a ver com a rotina política da Capital de 2023? Ora… têm tudo a ver. Era neles que as “contabilidades criativas” dos patrões seringalistas ganhavam forma à época; era ali que os guarda-livros sustentavam com números bem desenhados a escravidão que escorria junto com o látex. Em boa medida, tudo continua na mesma. Pelos barrancos daqui, tudo gira em torno desses barracões institucionais.


E nesta semana que terminou a relação do barracão Prefeitura de Rio Branco com o barracão Câmara de Vereadores promoveu um espetáculo à parte. O aparente ponto central é o empréstimo de R$ 340 milhões pleiteado pelo Executivo Municipal com o Banco do Brasil. Ao que os fatos demonstram, uma operação de crédito desta monta, caso não houvesse nenhum cálculo eleitoral envolvido, deveria ter sido trazido a público antes. Deveria ter sido oferecido ao debate há mais tempo. Mas, ao contrário: a Prefeitura de Rio Branco, certa de que não encontraria dificuldades na Câmara para aprovar o projeto, deixou para o último momento.


O argumento oficial é que esse recurso será usado para “investimentos”. No entanto, quando se observa a que o Executivo classifica como “investimentos”, percebe-se que parte significativa do dinheiro será usada para custear a manutenção da atual máquina pública. O próprio prefeito Tião Bocalom chegou a afirmar em entrevista a este site (no dia 29 de março deste ano) que tinha em caixa algo em torno de R$ 400 milhões. Ora, a lógica administrativa exige que se mantenha o custeio da máquina pública com recursos próprios e não se apele a operações de crédito para isto.


Desta forma, portanto, não se está aqui criticando o empréstimo em si. Aliás, o dinheiro oferecido pelo Banco do Brasil é, sim, muito barato: 5,5% ao ano é uma condição muito atrativa. O que não dá para entender é pleitear R$ 340 milhões para asfaltar ruas e construir casas cujo projeto, apressado, apresentou um protótipo cujas paredes parecem não aguentar um esbarrão de menino danado no primeiro tropeço correndo dentro de casa.


A Câmara de Vereadores, por sua vez, quis valorizar o próprio passe. Em uma relação escandalosamente fisiologista, negou o projeto. A gula por cargos e a péssima articulação da liderança do prefeito na Casa destruíram a possibilidade de diálogo. A fala do presidente Raimundo Neném ameaçando “cortar gordurinhas” e regalias dos pares, caso os seus interesses fossem retirados, é um momento de raro vômito na cara do povo. É um escárnio.


A lógica dos Três Mosqueteiros do “um por todos e todos por um”, citada pelo presidente na tribuna, como se a Câmara de Vereadores fosse um bando de confrades interessados em garantir os seus exclusivos bocados, é outro acinte escarrado pelo presidente na cara de todo cidadão riobranquense. O próprio Raimundo Neném foi contraditório: ao exigir respeito do líder, reivindicando uma postura republicana com a Prefeitura de Rio Branco, acabou expondo o negócio de balcão em que se transformou a relação entre a Câmara e a Prefeitura. Prova maior disto foi a repercussão imediata no Diário Oficial.


Ninguém esperava que os quatro anos de Bocalom fossem tranquilos com a Câmara de Vereadores. No início do mandato, queria “17 fiscais do prefeito na Câmara”. Livrou-se, por 14 votos a 2, de um processo de impeachment ainda em agosto de 2021, primeiro ano de gestão. O placar, claro, exigiu recuo de Bocalom e capacidade de “diálogo” com os “17 fiscais”.


No meio desse espremido entre a Câmara e a Prefeitura, está o povo que continua assistindo a tudo bestificado.


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