Com sorriso no rosto e aspecto completamente saudável, a dona de casa Evilene Conceição Martins, de apenas 27, observava a filha Eloísa, 7, brincar enquanto segurava nos braços o pequeno Adrian, de apenas dois anos. A cena simples, mas muito significativa, seria impossível há três meses, quando a dona de casa passou por um transplante de fígado que salvou sua vida.
Aos 19 anos, quando estava grávida da primeira filha (Joquebede, 8 anos), Eveline descobriu que era portadora do vírus da hepatite. Moradora de Cruzeiro do Sul, a dona de casa seguiu a vida sem sentir os sintomas da doença, e somente em 2020, após contrair a Covid-19, começou a sentir fortes dores, assim como o inchaço abdominal e outros sintomas decorrentes da inflamação do fígado.
“Nesse período engravidei do meu filho mais novo e a minha vida começou a piorar muito, eu não conseguia mais fazer nada, sentia muitas dores e meu corpo nem suportou a gravidez até o final. O Adrian nasceu prematuro e com problemas neurológicos, o que dificultou ainda mais as coisas.”, disse Eveline.
Após passar por uma consulta com uma infectologista, em Cruzeiro do Sul, Eveline foi avisada que a única esperança era o transplante de fígado e daí pra frente ela, o esposo e os três filhos se mudaram para a capital acreana, em uma corrida contra o tempo, para enfrentar a doença que colocava a vida dela em risco.
Quebrando barreiras
Conforme o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) do Ministério da Saúde, mais de 60 mil pessoas, em todo o país, precisam de um transplante para sobreviver. Desses, mais de dois mil aguardam pelo transplante de fígado.
Mas os desafios de Eveline iam muito além de apenas precisar se manter bem para aguardar o tão sonhado fígado para o transplante, ela lutava também contra o medo de ficar internada no hospital que mudaria sua história.
“Meu irmão faleceu com o mesmo problema, aos 22 anos. Ele ficou internado dois meses na Fundação Hospitalar e não conseguiu um doador compatível, então eu fiquei com muito medo de acontecer a mesma coisa comigo, eu resistia ser internada, mas um dia meu esposo mandou um vídeo para a enfermeira Geane, que é de lá do setor de transplante da Fundação, ela “me enganou”, dizendo pra eu ir lá apenas fazer um exame e foi isso que salvou minha vida”, relembra.
Referência na Região Norte
A Fundação Hospital do Acre (Fundhacre) é o único hospital em toda a região Norte do país que realiza transplantes de fígado. O primeiro transplante realizado na instituição de saúde foi em setembro do ano de 2006, um transplante de rim. Logo após, em 2009, foi realizado o primeiro transplante de córnea.
Em 2014 iniciaram-se os procedimentos de transplante de fígado. Ao todo, a Fundação já realizou mais de 430 transplantes e até agosto deste ano, foram doze procedimentos de fígado, número que concedeu ao Acre o posto de quarto estado que mais fez esse tipo de transplante, dentre todos os estados do país, nos seis primeiros meses de 2023.
Conforme o médico Leonardo Toledo Mota, que faz parte da equipe de transplantes da Fundhacre, os principais centros transplantadores estão no Sul e Sudeste do país, por isso, quando os pacientes necessitam de um transplante se deslocam até esses centros, onde aguardam longos períodos até a realização do procedimento, mas o Acre oportuniza um tratamento “em casa”, próximo dos familiares.
“Manter um sistema de transplante ativo traz um diferencial para a Fundação Hospitalar, porque para se capacitar a cuidar de um doente transplantado é necessário desenvolver todas as áreas, desde um centro cirúrgico mais dinâmico, até serviço de diagnóstico mais eficaz, assim como laboratórios e bancos de sangues bem sincronizados. Com isso, não só o cuidado do doente transplantado melhora, mas também o cuidado de doentes complexos, em outras áreas.”, enfatiza o médico.
“Eles merecem nota mil”
Aos 41 anos, o taxista Laude Ferreira do Nascimento, amazonense de Boca do Acre, também é um sobrevivente graças ao transplante de fígado realizado no Acre. Casado há apenas 6 anos, o transplantado, que tem familiares com o vírus da hepatite, já perdeu um irmão para a doença e a cerca de três anos viu sua saúde ir embora aos poucos.
“Meu fígado já estava ruim, atrofiando, aí vim pra Rio Branco, descobri no acompanhamento médico que só um transplante poderia me curar. Bem próximo ao dia do transplante eu achei que eu não aguentaria passar por uma cirurgia, por estar muito debilitado, mas se eu não fizesse eu morreria também, então eu confiei no meu Deus e naquela equipe maravilhosa que merece nota mil.”, comemora o taxista.
Laude destaca ainda a atuação do médico Tércio Genzini, médico que já atua há mais de 17 anos no Acre, e é um dos responsáveis pelo sucesso e eficácia dos transplantes de fígado realizados no estado.
“Que médico humilde, que homem bacana, eu estava nas mãos de Deus que é o médico dos médicos, mas se eu soubesse que naquele dia que ele é um dos melhores médicos do país nessa área, eu teria ficado ainda mais confiante, sou muito grato a ele e a todos que me proporcionaram essa nova vida e peço ao governador, que siga investindo nos transplantes e salvando vidas.”, pontuou Nascimento.
Um prato de comida e uma vida toda pela frente
Após vencer a doença, a fila do transplante e a cirurgia, tanto Evilene como Laude, destacaram a alegria de poder comer a comida preferida, sem restrições.
“Hoje como de tudo e não me importando se estou engordando, porque eu passei muito tempo sem saber o que era o prazer de comer sem me sentir ruim, fiquei magra e fraca, hoje aprecio a oportunidade de me alimentar e agora vou focar minhas forças no tratamento do meu bebê e em cuidar das minhas filhas.”, comemorou, sorridente, a dona de casa.
Já Laude ainda aguarda a liberação para voltar a comer a tão amada farinha. “No dia que fui liberado comi uma galinha caipira, foi muito bom voltar a me alimentar sem a preocupação ou medo, só prazer. Mas ainda aguardo a liberação para comer um bom assado de panela com farinha”, celebrou o taxista que segue no tratamento pós-transplante, mas já planeja ansiosamente à volta para casa e para sua rotina de antes, em Boca do Acre.
Atitude que salva vidas
Vale ressaltar que o transplante só é possível quando a família de alguém que já não tem esperança de voltar a viver, após constatada a morte cerebral, autoriza a doação dos órgãos, para isso o principal passo é que todas as pessoas que desejam ser doadoras de órgãos deixem a escolha clara para seus familiares.
Do governo do estado, resta o compromisso de continuar investindo na missão de salvar vidas. “Todo e qualquer atendimento de saúde é importante, desde a mais simples consulta ao exame mais básico. No entanto, o transplante é algo que muito nos orgulha, já que é a última alternativa entre a vida e a morte de alguém. Presenciar pacientes que estavam no leito de morte, recuperando sua qualidade de vida é algo extremamente gratificante para nós que fazemos parte da Fundação Hospitalar”, explica João Paulo Silva, presidente da Fundhacre.
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