Coordenadora do Naahs há 4 anos, assim que começou a estudar sobre altas habilidades, Jeane logo percebeu que seu filho tinha características consistentes. Ela chegou ao núcleo para fazer investigação na área de química. Passou pela formação e se tornou pesquisadora do assunto. Outros profissionais fizeram a investigação e deram uma resposta que coincidiu com toda história da vida de seu filho, Cristian Jucá, de 19 anos. “Eu não conhecia o Naahs, nem as altas habilidades. Enfrentei muitas dificuldades como mãe para entender o meu filho, agindo de forma severa, porque achava que era coisa de comportamento, quando na realidade era desejo de aprender”.
Cristian aprendeu a ler praticamente sozinho. Aos 17 anos recebeu parecer de intelectual, ou seja, aquilo que tem interesse de aprender, tem facilidade muito maior do que um cérebro neurotípico (indivíduo que tem um neurodesenvolvimento considerado regular). “Na escola, o professor falava: Cristian, vai dar uma voltinha lá fora, porque está atrapalhando a aula. Outra professora dizia: quero que todo mundo responda, menos o Cristian, porque ele respondia tudo muito rápido. Ele recebeu muito bullying quando pequeno”, conta Jeane.
Ela afirma ser um desafio ser mãe de intelectual. Principalmente, quando não se tem conhecimento. “O Cristian sempre foi muito precoce. Deu muito trabalho na escola por não ser compreendido. Fui chamada várias vezes, mas não era por briga, era comportamento, por ser bastante agitado, não prestava atenção na aula porque aquilo ele já sabia. Para mim, como profissional da educação, me doía muito, porque mesmo pedagoga, não sabia lidar àquela época”.
Como mãe, Jeane relutou, a princípio, em enxergar que seu filho era um superdotado. “Ele próprio quis passar pelo processo de investigação. Quando recebi o parecer, eu fui mãe e chorei. Foi resposta para muita coisa, porque até então só achava que ele tinha sido precoce, mas não um superdotado. Foi muito emocionante aprender a entender mais um pouco desse universo que é a superdotação e cada um é diferente em seus interesses, comportamentos e emoções”.
Cristian estuda medicina veterinária, mas quer migrar para medicina: “o Naahs melhorou 100% o meu entendimento sobre mim mesmo e me ajudou a entender porque eu tinha certos sentimentos dentro e fora da sala de aula, porque eu pensava de certa forma, tão diferente dos demais, porque para mim tudo parecia tão fácil e para os outros tão difícil. Quanto o professor começou a ensinar raiz quadrada, eu já sabia, pois tinha estudado sozinho. E até hoje na faculdade acontece o mesmo, mas agora sei como trabalhar esse sentimento, sei que cada pessoa tem seu tempo e sua velocidade”.
No entanto, o estudante garante que teria levado uma vida bem mais fácil se tivesse sido identificado na infância. “Eu fazia muitas perguntas, e os colegas ou até alguns professores, não se sentiam confortáveis com isso. O professor não entendia o que me ocorria, achava que eu estava afrontando, mas de forma alguma, era uma genuína vontade de ajudar. Já fui tirado de sala mais de uma vez. Fui crescendo e comecei a ficar mais retraído. Eles não me entendiam e nem eu mesmo me entendia”, esclarece.