O Estado do Acre pode perder mais uma vez a chance de ter autorização para exportar carne bovina para China por falta de articulação política por parte da bancada federal. Pelo menos é o que fica claro após ser divulgado recentemente que a lista de 20 plantas frigorificas aprovada pelo Ministério de Agricultura e Pecuária (MAPA) e enviada para o governo chines apresentar inconsistência com uma das indústrias no Mato Grosso está inativa por ter sido incendiada neste ano. O caso veio a tona após a reunião da Comissão de Agricultura e Pecuária ocorrida no final de setembro que debatia a necessidade de prorrogação dos créditos em razão da crise da pecuária no país e, especialmente, no Acre, tema debatido recentemente na federação da agricultura com produtores rurais.
O erro do Mapa foi exposto primeiramente pelo senador Jaime Bagattoli (PL-RO) que levantou a questão das maiorias das plantas aprovadas pelo Ministério pertencerem as grandes marcas como JBS, Minerva e Marfrig, dando a entender que o governo brasileiro deixa de lado o produtor regional. “Eu sei como funciona o Mercado China. Quando eu chego lá no Mapa. Lá por exemplo, tem 12 plantas das 20 que estão na lista das próximas de bovino que são do Minerva, Marfrig e JBS. Ai eu pergunto aos senhores, porque não o BNDES tem investido em outros produtores? Outras industrias frigorificas? O que aconteceu em Rondonia? Nós temos em Rondonia 1,6 milhões de pessoas, nós temos 17 milhões de cabeça de gado. São praticamente 10 cabeças de gado por habitante, ai eu digo pra vocês o seguinte: ficou no Brasil poucas plantas e olha o terrorismo que foi criado nos últimos dias na cabeça do produtor rural. Vai chegar o momento que o frigorífico vai ligar para o pecuarista, vai ligar o pequeno produtor e dizer você paga o frete que ai nós aceitamos o boi aqui. Eu cheguei ao momento que ia acontecer isso porque eles criaram um terrorismo na cabeça. Agora vocês podem ver que a arroba do boi em RO chegou a 175 reais. Hoje tá na casa dos 210, 215 reais. Eu nunca tinha visto em 30 anos. Então nós pedimos encarecidamente que os bancos ajudem nós, que o Mapa ajude nós, para não aprovem planta China desses grandes grupos frigoríficos, nem suino, aves e bovinos. Porque se nós não olharmos para o pequeno produtor nesse país, nós vamos tá liquidado”, desabafou o senador.
As palavras do senador rondoniense foram reforçadas pelo também senador Jayme Campos (União-MT) que informou na reunião que o governo brasileiro habilitou um frigorífico que havia sido incendiado. “Habilitaram para a China agora frigorifico que pegou fogo, né? Frigorifico que não existe em Mato Grosso. Tá sem nenhuma atividade lá, fecharam as portas e você ainda vai habilitar ele para a China? Qual a razão? Só se for uma coisa invisível. Não existe isso ai. Isso é grave. Enquanto dezenas de frigoríficos, em melhores condições, não tem esse privilégio de ser exportador para a China. Qual lambança fizeram também não me interessa, mas o governo não pode permitir”, frisou.
No início de setembro, o deputado federal Coronel Alberto Fraga (PL-DF) acusou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, de ajudar frigoríficos das empresas JBS e Minerva a montarem um “cartel” no mercado brasileiro de exportação de carnes bovinas – o que configuraria como crime econômico. Segundo ele, antes de Fávaro, existia uma lista de 21 empresas responsáveis por exportações de carnes bovinas. Ocorre que, o atual ministro tirou oito empresas dessa lista. Da atual lista, a grande maioria são de empresas ligadas à JBS e Minerva, que são gigantes no ramo da exportação de carne bovina brasileira.
“O que vou dizer aqui é um escândalo, é a comprovação de que nosso país do ‘toma lá, dá cá’ e que a corrupção está longe. O Ministério da Agricultura está transformando a questão de exportação de carnes bovinas em um verdadeiro cartel. A lista aprovada recentemente pelo ministro Carlos Fávaro, tira oito nomes. Dos nomes aprovados, cinco são da Minerva, que comprou recentemente 16 pontos da Marfrig. Ou seja, quem vai mandar no Brasil vai continuar sendo a JBS e a Minerva, formando um cartel e um monopólio que não pode existir”, acrescentou.
“Não é normal e não é correto fazer com que vários frigoríficos que investiram para ser habilitados de uma hora para outra serem derrubados e surgirem outros nomes na lista. A lista se arrasta por dois anos e, de repente, a Minerva aparece com cinco nomes”, afirmou o deputado afirmando que iria protocolar um requerimento convocando o ministro e os donos de frigorificos para uma audiência pública.
Com a possibilidade do governo brasileiro refazer a lista, bancadas como Rondônia, Mato Grosso e Goiás se articulam para manter a influência politica e não perder plantas frigoríficos para Estados como o Acre, Maranhão e Tocantins, que pleiteiam autorização. O Mapa aderiu uma proposta de seleção das plantas com base na cronologia, levando em conta a data de em que estas industrias se habilitam para concorrer a seleção para China, apesar de ter sido defendido pelo presidente da Apex, Jorge Viana, que o critério regionalidade iria beneficiar Estados que ainda não exportavam proteína bovina para ásia eque isso favoreceria o desenvolvimento regional.
No Acre, apenas a indústria Frisacre (Frigonosso) está apta entre 77 plantas para ser habilitada, mas pelo que tudo indica poderá ser prejudicada por falta de apoio político efetivo. O ac24horas procurou alguns membros da bancada federal do Acre e Brasília e ficou perceptivo a pauta não era prioridade, mas apesar disso o coordenador da bancada, senador Alan Rick (União-AC), informou que já havia relatado o problema a equipe do Ministro Favaro e lamentou que a adoção do Mapa em escolher o padrão cronológico para aprovação das plantas, mas defendeu articulação para que a industria do Acre receba indicação do MAPA para possível habilitação de exportação para a China.
“Conversamos com os deputados Alceu Moreira, Pedro Lupion. Aqui nos temos uma planta que pegou fogo. Essa lista precisa ser refeita. Não existe nenhum no Acre e o Acre tá na fila há muito tempo. Observem a questão da Amazônia e regional, vai ter que duplicar a produção e gerar emprego. Estamos no pé no do Ministro. É uma questão de pressão mesmo, bancada. Ja convidei o Ministro para esta na comissão. Estamos no aguardo de se confirmar a data e vamos mobilizar nossos deputados e senadores”, disse.
A reportagem também entrou em contato com o senador Sérgio Petecão (PSD-AC), que está no Peru participando da maior feira alimentar da América Latina. Ele reforçou que a relação com o Ministro Fávaro “é muito boa, é meu irmão”. “Eu não tenho essas informações de frigorifico queimado, mas eu acho que nós temos que lutar sim um frigorifico de nosso Estado. Isso é questão de honra para nós. Eu vou me informar com o Ministro e estudar o caso. Você sabe que hoje a gente vive no mundo da fakenews e temos que tomar cuidado. Vou apurar essa situação”, disse.
Outro senador que foi procurado para falar sobre o assunto foi Márcio Bittar (União-AC). Bittar ouviu os questionamentos da reportagem, foi instigado a responder em alguns momentos, mas não deu retorno. O espaço segue aberto caso o parlamentar queira se manifestar.
Diferente de Bittar, o deputado federal Roberto Duarte (Republicanos-AC) se mostrou solicito a pauta e revelou que a a coordenação da bancada já marcou uma reunião com o Ministro Fávaro na segunda semana de outubro em um audiência pública no senado, mas que existe uma articulação para encontrá-lo já no inicio de outubro. “Queremos reunir nesta semana agora toda a bancada federal para tratar com o Ministro para a gente viabilizar essa situação da planta do frigorifico do Acre. Nós vamos trabalhar para que o Acre seja autorizado a fazer esse comércio com a China para que isso gere emprego e renda para o nosso povo”, disse o parlamentar.
Tido até então como o único entusiasta da aprovação da planta do Acre para exportar para a China, o presidente Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Jorge Viana, disse que tem uma reunião marcada com o Ministro no próximo dia 6. “Eu acredito que com o esforço de todos que seja possível a gente incluir o critério regional, especialmente na Amazônia e no Nordeste, onde você precisa ter também onde tem espaço de criação, plantas habilitadas para determinados mercados como da China. Mas a lista feita, deve ser substituida por alguma outra com um maior número de plantas frigorificas e também, quem sabe, já incluindo o Acre, Maranhão, Tocantins e outras regiões que não estão contempladas. Eu tenho esperança que no governo do presidente Lula e do Ministro Fávaro a gente consiga ter habilitação de uma planta frigorifica para o Acre porque isso vai ajudar muito a consolidar a nossa pecuária do Estado”, destacou.
Em janeiro deste ano, no início do governo Lula, Jorge Viana foi responsável por articular com o Ministro Fávaro colocar os estados das regiões Norte e Nordeste no mapa das exportações brasileiras com o critério da regionalização. Já em março, Viana foi recebido pelo embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, para um almoço exclusivo visando tratar do encaminhamento da habilitação de novas plantas frigoríficas para exportação de carne para o mercado chinês. Em abril, Viana e Fávaro sentaram com o presidente Lula reforçando o critério de regionalização das plantas.
O empresário Rodrigo Pires é um dos defensores da habilitação do Frigonosso para a China imediatamente. Durante a visita às obras do Porto de Chancay, no Peru, nesta semana, Pires expressou otimismo em relação ao impacto que o novo porto pode ter no agronegócio do Acre. Ele acredita que a proteína animal se tornará o principal produto de exportação do estado com a conclusão do empreendimento. No entanto, para que essa transformação ocorra, Pires ressalta a necessidade de habilitar imediatamente o Frigonosso, frigorífico local, para exportar carne bovina desossada para a China. Ele destaca que o transporte rodoviário, realizado por carretas, é viável pela cordilheira, ao contrário do transporte de grãos. Empresas como a JBS e Frigon, de Rondônia, já estão realizando esse tipo de exportação para o mercado asiático, o maior consumidor de proteína animal do mundo.
“Eu vejo que os três senadores do Acre estão muito empenhados, entre eles eu cito Alan Rick, que está na presidência da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado Federal. Em especial também o Jorge Viana, sobre a questão da Apex, que tem defendido muito essa pauta da habilitação para exportação, mas é preciso que o setor entre na briga, a Assembleia, a Federação e a gente traga o ministro no Acre pra ele ver a importância disso. É preciso lembrar que com o aumento de abates, irá gerar investimentos e receita em escala para a pecuária acreana.”, diz Rodrigo Pires.
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