O 7 de Setembro nunca foi tão normal. Tanto aqui no Acre quanto em qualquer canto do país. Sobretudo em Brasília. Teria sido o mais do mesmo, não fosse a manipulação ideológica que a data passou a contar nos últimos dois ou três anos. E é evidente que isso teve impacto importante, senão jamais pautaria tantos artigos e editoriais, Brasil à dentro. Aos fatos.
Quando se fala sobre a “normalidade” do que aconteceu no dia 7 de Setembro de 2023, relaciona-se isto ao fato de que não se teve um presidente da República agredindo instituições; não se teve presidente da República convocando militantes para atentar contra a ordem e as instituições democráticas; não se teve segmentos econômicos custeando excursões para Brasília para pedir a volta do regime civil-militar; não se teve presidente da República xingando ministro do Supremo Tribunal Federal ou se autoproclamando “imbroxável”.
Nada disto houve no último dia 7 de Setembro. A “normalidade”, no entanto, ofereceu sutilezas. O lema do evento deste ano de 2023, “Democracia, Soberania e União”, é um grito não apenas às margens do Ipiranga, mas um eco de 59.563.912 vozes nas beiras dos barrancos de todos os rios do país. Três palavras calculadas que dialogam com ideias caras para o ambiente militar e preservam valores muito machucados entre 2019 e 2022.
Não houve discurso presidencial em 2023. A normalidade dos gestos disse muito mais. A foto do presidente da República com os representantes das Forças Armadas; a presença da presidente do STF, ministra Rosa Weber; o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD/MG); os soldadinhos desfilando; os modestos armamentos tupiniquins; as bandeirinhas do Brasil; a Esquadrilha da Fumaça; o público regular de sempre etc. etc. Tudo sem surpresas. O destaque mesmo ficou por conta do Zé Gotinha, o promotor da vida que retornou fortalecido após ter sido maltratado durante quatro anos.
Os que ainda militam na lógica “imbrochável” exigiam, para o evento da última quinta-feira, a multidão inflamada e sedenta pela quebra da normalidade democrática dos anos recentes. Mas isso serve apenas para manter uma militância ativa que tentou relacionar popularidade e lisura das eleições com o número de pessoas nos eventos de 7 de Setembro. O grotesco da relação soa até hilariante. Na verdade, trata-se de uma militância agora sem rumo, na busca por outro líder que lhe reanime a esperança, sobretudo nas redes sociais, o rio de águas revoltas por onde ecoam também muitos crimes e intolerâncias de toda ordem.
No Acre, a cena também foi de normalidade. O governador Gladson Cameli soube conduzir com tranquilidade os protestos das famílias de Sem-Teto da comunidade Terra Prometida e do Grito dos Excluídos, um movimento nacional com agenda diversa de reivindicações que realiza mobilização em todo o país desde 1995. O Grito dos Excluídos é um movimento que contesta a ideia de “Dia da Independência”.
Sob a ótica da imagem política, Gladson Cameli passou incólume por tudo isso. Aliás, Gladson tem passado sem se despentear por vários problemas: uma gestão que apresenta poucos resultados; obras públicas quase inexistentes; o fantasma da Operação Ptolomeu (que, inclusive, paralisou parte das poucas iniciativas que tinha na construção civil); até problemas com a liderança do governo na Aleac esta gestão oferece. Ele nem se assanha. Rasga o sorriso de meninão bem cuidado, ensaia uns requebros para a direita, para o centro e um pouquinho para a esquerda e lá está um bocado de povo a lhe bajular o ego e a lhe salvar o dia.
À imprensa, rodeado por bandas, fanfarras, bandeiras do Acre e do Brasil, protestos e pessoas que também lhe aplaudiam, ele falou sobre Democracia, liberdade de expressão e sobre o desafio de diminuir desigualdades sociais e econômicas.
Só foi agressivo com um assessor palaciano que lhe infernizava os ouvidos enquanto tentava falar com os repórteres. No mais, foi a liderança cortês de sempre. Quanto ao público, estava o bocado de tantos outros anos. Tudo normal, para decepção de alguns.
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