O evento de boas-vindas do MDB a Marcus Alexandre, realizado ontem (2), no auditório da Livraria Paim, foi marcado por uma falsa surpresa: a presença do senador pelo PSD do Acre. Sergio Petecão esteve na sede do partido na manhã de sexta-feira. Conversou com os “cabeça branca” da famosa Mesa Azul. O espírito da conversa reservada era “Petecão, não adianta o lundum. Trinca os dentes e segue conosco. Vem com a gente!”
Diplomatas, os homens de direção do Glorioso foram corteses com o dono do PSD acreano. Flaviano Melo e a tropa emedebista sabem que Petecão não tem alternativa viável a não ser reforçar as trincheiras do MDB. Mesmo tendo ciência disto, cuidadosos com a importância dos gestos na política, chamaram o senador para uma conversa prévia.
Preste atenção o leitor: rompido com Tião Bocalom; arrependido também de ter apoiado Gladson Cameli ao governo, restaria a Petecão se encantar pelos músculos e sofisticação retórica de Ulysses Araújo, ou pelo discurso de fortalecimento da iniciativa privada e da política como mera técnica de gestão de Emerson Jarude.
Só não é possível dizer que Petecão está praticamente isolado para a eleição na Capital em função desse varadouro salvador aberto pelo MDB. A fala “o PSD custa entrar, mas quando entra não sai nem com peia” é muito simpática e essencialmente acreana. Mas o próprio senador sabe que é apenas uma frase de efeito. Ela foi dita porque não havia outra coisa a dizer.
O “custar a entrar”, no caso concreto, foi desconstruído pela sinceridade quase juvenil, muito própria do senador em alguns momentos. “O PSD queria ter o ‘Chame Chame’, mas eu acredito que você deve ir para onde se achar melhor”, confessou Petecão ao ex-paquera Marcus Alexandre.
A cena toda é característica de um jogo de cartas conhecido como “Truco”. O que caracteriza o “Truco”? Em boa medida, a malandragem. Nem sempre vence quem tem as melhores cartas. É preciso uma sintonia fina com o parceiro. Um olhar, um gesto, um mungango diferente já comunica ao parceiro se há ou não há cartas que merecem ousadia maior. A dupla oponente, dependendo da postura dos rivais, aceita ou não o desafio. Às vezes, recua. No truco, o raciocínio lógico, racional, é um detalhe. É ou não é a cara do senador?
Isso não significa que o senador não calcule. Aliás, assim como Gladson Cameli, Petecão tem simpatia calculada. Ele sabe que o PSD tem cartas muito fracas. A carta mais forte chama-se Eduardo Ribeiro. E só. Petecão sabe disso. Marcus Alexandre também. Este, também afeito a cálculos, chegou a um número de ouro que conta três letras: M-D-B.
Agora, Chama Chame treina em tocar bumbo, tirar selfie com quem antes queria lhe ver pelo avesso, renovar o guarda-roupa com outra cor e lembrar o passado “defensor da democracia” do Glorioso. De jogo em jogo, as eleições do ano que vem vão tomando forma. Ganha quem manejar melhor as malandragens com as regras na manga.
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