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Pinheiro: sobre economia, política e lacunas

Há perdas que dificultam vislumbrar quando o luto será superado. O vácuo deixado pela morte do empresário George Pinheiro é exemplo. Será difícil preencher essa lacuna. Das atuais lideranças do setor privado do Acre, quem tem condições de ao menos manter o nível do debate defendido pelo baixinho com cara de patrão?


George Pinheiro foi talhado para ser patrão. Estatura muito modesta, semblante quase sempre marrento, pronto para dar um carão. Sem contar o vozeirão ameaçador. Não ria com muita facilidade: dava ao dia a dia a gravidade que as decisões exigiam. Mas quando sorria, parecia deixar aflorar o espírito do avô que tudo permite.


Natural de Boca do Acre, Pinheiro construiu conquistas por aqui mesmo. Aliás, era apaixonado pela História do Acre. Tanto é que se aventurou na política. Chegou a disputar a vice-governança na chapa liderada por Rubem Branquinho. A dupla compunha o viés liberal daquela eleição com quatro chapas.


Habilidoso, compôs com o governador eleito naquele distante ano de 1991, Edmundo Pinto: assumiu a presidência da Eletroacre, na ocasião. Ficou pouco tempo. O assassinato do governador apressou a ida de Pinheiro para um lugar estratégico para a sua formação enquanto homem público: a Sefaz.


O período que assumiu a Secretaria de Estado de Fazenda, já na gestão do ex-governador Romildo Magalhães, serviu para reforçar a sua convicção da crença no setor privado. Foi uma época difícil porque o governo era fraco. Era fraco da Sefaz para fora. Porque os sindicatos sabiam que a negociação com Pinheiro exigia preparo.


Mas ele sempre soube conduzir as conversas com os servidores. Os sindicalistas tinham em Pinheiro uma fala de segurança em um governo muito fragilizado. O que era possível fazer ele cedia; o que não era possível oferecer era dito sem rodeios.


No governo de Jorge Viana, quando a integração comercial com o Peru passou a fazer parte da agenda pública do Palácio Rio Branco, Pinheiro foi o Consul do Peru no Acre. Fez o que era possível para agilizar o comércio regional, apesar das burocracias estatais, tanto de Brasília quanto do Acre.


Homem acostumado a mandar e a ser obedecido, Pinheiro era empresário, mas quase não conseguia esconder a vontade de ser governador. Talvez até tenha assumido isso em alguma oportunidade. Mas foi na presidência da Confederação das Associações Comerciais do Brasil, a poderosa CACB, que a voz de George Pinheiro passou a ser ouvida em fóruns muito restritos e qualificados do debate econômico brasileiro. Temas como reforma tributária, desburocratização, privatizações, valorização do pequeno e microempresários passaram a ser parte da rotina.


Em Brasília, nos círculos de homens taludos e risos fartos tratando de economia, um desavisado talvez notasse um vazio na roda. Mas se olhasse para baixo, veria que tinha um acreano de voz grossa falando e sendo ouvido. Era George Pinheiro, no meio de quem decidia. Quem herdará o legado do baixinho de semblante marrento não se sabe. O fato é que debate sobre economia e desenvolvimento aqui no Acre, por enquanto, ficou um pouco mais pobre.


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