A cantora, Mara Mattero, participou nesta segunda-feira, 14, do Podcast da Jô, transmitido ao vivo pelo ac24horas. No início do bate-papo, ela fala do símbolo de sua arte, seu cabelo, que demorou quase 5h para estar do jeito que ela gosta.
“Eu amo mudar o cabelo desde que eu era criança. Para uma mulher preta ele é como se fosse uma coroa. Quando eu toco nele, eu acredito que a minha força está aqui dentro”, destacou.
Em relação ao assunto que virou tabu, tempos atrás, sobre pessoas brancas usarem tranças, a profissional comenta que a questão, em que muitos destacam ser apropriação cultural, para ela vai de acordo com cada indivíduo.
“É algo bastante pertinente, mas acredito que isso acontece por causa do mercado, que pega as características de determinada cultura, ganha rios de dinheiro, sem dar o devido crédito. Então surge algo, você acredita que aquilo é daquela marca, mas, na verdade, é de alguma comunidade, de alguma parte remota, de um grupo, cultura”, afirmou.
Mattero revela que aos 6 anos de idade sofreu racismo por causa de seu cabelo, momento que a deixou com traumas durante toda a sua vida. “Não foi coisa pouca, me tiravam da fila do lanche na escola por conta do bullying e racismo. Me separavam dos meus irmãos que eram claros, era uma coisa horrível que mexeu muito comigo”.
Aos 12 anos, Mara informa que por essas razões, decidiu alisar o cabelo e quase chegou a perder todo ele. “Uma moça colocou um produto errado, quase caiu tudo e eu chorava muito”. Na universidade, em uma aula de história sobre a arte e cultura africana, ela decidiu reviver os seus fios naturais. “Quando eu fui conhecer o meu cabelo, era como se eu tivesse me vendo pela primeira vez, foi um reencontro”.
De família mineira, mas nascida no interior do Acre, em Brasileia, ela revela como surgiu seu nome artístico. “Gosto de investigar e quis saber minha origem. Minha avó me contou a história de Ana Mattero, que era minha bisavó. Eu achei o nome lindo, forte e também a figura que representava, que veio de uma mulher ‘danada’, e eu fiquei encantada”.
Por conta do racismo, afirma que passou por depressão quase a sua vida inteira. “Acredito que tenha sido por isso, porque foi uma situação muito cruel para mim”. E após passar por terapia, ela destaca que hoje é muito mais feliz. “Antes eu era muito ingênua e não tinha munição. E agora eu tenho. Além disso, esse ano eu me sinto mais conectada com a minha ancestralidade”.
A também arte-educadora explica o processo de criação de uma de suas canções, “Mulher Templo Sagrado”, escrita em 2022, em um momento que estava fragilizada.
“Um dia eu sonhei que estava em uma arena e tinha uma mulher comigo ao meu lado e ela tocou no meu peito e falou, ‘Você é forte e não está sozinha’. Ao meu redor estava milhares de outras mulheres que diziam a mesma coisa para mim. E eu fiz essa música. Quando entendemos que somos deusas de si mesma, podemos acessar todo o amor que existe dentro de nós”, empodera.
Formada em Artes Cênicas, pela Universidade Federal do Acre (Ufac), ela explica que decidiu entrar para o curso aos 18 anos, por saber que aquilo lhe ajudaria. “Eu tentei suicídio quando tive depressão e a arte que me salvou. No último ano do ensino médio eu fiz uma peça teatral e eu amei. Esqueci de todas as problemáticas e que um dia eu fui triste. Depois que eu entrei na universidade, a arte e tudo que ela trás, me resgatou”.