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Cancelar homenagens é como queimar livros. Pergunte a Hitler

Por
Valterlucio Campelo

Leio com um misto de tristeza e indignação a notícia de que uma lista de notáveis figuras públicas da história acreana está pra ser cancelada (para usar o jargão moderno), da memória, com apoio da Universidade Federal do Acre. Pretendem lhes retirar todas as homenagens e referências em bens públicos. Segundo consta, são as seguintes: 


Áulio Gélio Alves de Souza (o único vivo); Geraldo Gurgel de Mesquita; Jorge Kalume; Francisco Wanderley Dantas; João de Mendonça Furtado; Omar Sabino de Paula; Rubem Carlos Ludwig; Joaquim Pessoa Igreja Lopes; Zaqueu Machado de Almeida; José Guiomard dos Santos; Edmundo Pinto de Almeida Neto; Joaquim Falcão de Macedo; Mário David Andreazza, Jarbas Passarinho; Euclydes de Oliveira Figueiredo; Sérgio Mário Pasquali; Edilberto Parigot de Souza Filho; Augusto Cézar Sá da Rocha Maia; Félix Bestene Neto e Esther de Figueiredo Ferraz. Observando a lista atentamente, senti falta do bom, honesto e grande trabalhador pelo Acre, Wildy Viana das Neves. Sabe-se lá por quê o velho Udenista, Arenista e Malufista não foi lembrado em uma plêiade de tão valorosos líderes.


Pelo que consta, o MPF cuidará de punir toda essa gente, quase todos mortos. Efetivamente, o castigo recairá sobre suas famílias e suas memórias. O crime que cometeram é que, ao seu tempo, serviram de algum modo ao governo militar e, portanto, à formação do Estado acreano como ele é, logo, merecem ser execrados, extirpados como ordenou o Lula da Silva, humilhados em praça pública o que atinge, indiretamente, as suas numerosas famílias que em soma deve ter milhares de descendentes. Uma geração inteira praticamente jogada na sarjeta da história por esquerdistas que o fazem enquanto usam camisas de facínoras como Che Guevara, tem as estantes entupidas com os livros de Marx e Engels, reciclaram-se no esgoto da Escola de Frankfurt, aplaudem as ditaduras latino-americanas e votam sem pestanejar (pensar não é com eles) em quem se orgulha de ser comunista, aquele regime totalitário que ensinou a Hitler como se faz um campo de extermínio (Gulags) e, ao longo da história, assassinou pelo pensamento que expressou mais de 100 milhões de pessoas.


Trata-se de uma extensão atualizada do “Ministério da Verdade”, uma versão tosca da tragédia orwelliana que rasga o passado e o reescreve ao próprio talante. “Quem domina o passado domina o futuro e quem domina o presente domina o passado” disse George Orwell em seu livro “1984”, uma obra prima que deveria ser leitura obrigatória já no ensino fundamental, mas que poucos marmanjos eleitos leram. No livro, provavelmente conhecido pelos censores, o governo mantém um ministério que apaga literalmente todas as palavras, frases, parágrafos, livros que de alguma forma não sejam condizentes com seu presente de arbítrio e morte. 


Parece que as vedações que estamos vivendo sob o tacão do STF e o prenúncio de mais censura, se passar o projeto de lei 2620 na Câmara dos Deputados, encontram eco onde menos devia, ou seja na Universidade, campo de diversidade e, aviso, diversidade não significa vários tons de vermelho, mas vários tons de todas as cores.


Então, meia dúzia de dementes engolfados pela miséria civilizatória da dominação da palavra e da história, do desmonte de instituições como a Igreja e a música clássica, de derrubada mesmo de monumentos, de renomeação de ruas e avenidas e próprios públicos, se dão o direito, a afoiteza de julgar e condenar ao deslustro pessoas de bem, vidas, nomes, histórias erguidas com trabalho duro, em tempos duros, sob condições duras que gente mesquinha e covarde jamais teria como enfrentar.


Serão as libélulas assassinando as formigas porque elas só sabiam trabalhar? Cada nome daqueles, ao seu tempo TRABALHAVA, erguia e fazia funcionar o Estado com denodo e verdadeira paixão pelo Acre e seu povo. O argumento contra sua memória é tão torpe que a sua contraposição mais rasa, apenas de lógica elementar, bastaria para derrubá-lo. Se não fossem eles e fossem outros Zés e Marias, estariam todos execrados? Significa então, que qualquer um que naquele período exercesse aqueles cargos seria cancelado da história. Livrar-se absolutamente do período não implicaria um lapso histórico? Ao apagar em baciadas os nomes ilustres de um passado recente, vocês não estão sendo, no mínimo, apedeutas com diploma de doutor?


O politicamente correto que serve, como disse Guilherme Fiúza, de esconderijo para o intelectualmente estúpido, parece ter enfiado com força o pé na porta de algumas instituições brasileiras, inclusive da UFAC que ativa ou omissivamente empresta seu nome para essa ignomínia. Não vou tratar de um sequer dos nomes da lista. Não importa que laços de trabalho, amizade e admiração eu próprio tenha com qualquer deles. O que está em causa é o todo. É a sanha vingativa que esquerdistas doentios (sei, é pleonasmo) nutrem contra o que na maioria das vezes sabem de ouvir falar. Pois, lhes digo no seu próprio tom.


Toda essa bagaça que chamamos de nossa terra, existe por causa de pessoas como as que estão prestes a desaparecer  da memória pública pela incúria de quem deveria zelar pela história como ela é, sem o borrador Orwelliano. Engraçado que o fazem escondidos por trás de siglas, sem apresentarem os próprios nomes. Vamos lá, valentes, assumam publicamente sua integridade intelectual. Quais professores endossaram ou foram coniventes com este aviltamento de reputações?


Se pudesse resumir a minha indignação e exemplificar a vileza planejada nos esgotos da esquerda, perguntaria em alto e bom tom: O que seria o Acre hoje sem homens como Wanderley Dantas? Melhor. Quão à frente estaríamos se outros da mesma estirpe tivessem surgido? É do cachaceiro jogador de dominó que vocês sentem saudades?


Vergonhosamente, há quem esconda no tapete alguns resquícios de moral e ética e dê força a sandices com essa. Há os que se omitem, que se calam, que invejosamente veem passar ao lado o fogo da destruição de reputações de gente decente, com quem viveu e aprendeu. Há os que não sabem de nada, apenas aplaudem o circo e os palhaços lá dentro, dando piruetas históricas. E há os que sabem do que se trata, que conhecem esse itinerário macabro, suas curvas e seu destino – o totalitarismo. A história se lembrará de todos.


Espero, se ainda há tempo, que essa “douta” gente tenha juízo, que contenham esse bolchevismo 100 anos atrasado. Não se deixem levar pela maré de vingança e ódio que adentrou o palácio da alvorada e outras instituições, reflitam com lucidez e tino moral, deem meia volta, consultem suas consciências cívicas e entendam que apagar homenagens ocorridas em seu próprio tempo é como queimar livros, pinturas e monumentos, é apagar a história, é enfiar o país no obscurantismo. O que pretendem? Para quê? Querem produzir nacionalmente uma “Ação Contra o Espírito Anticomunista”, análogo ao 10 de maio de 1933 em Berlim (foto acima)? Lembrem-se de Charles Chaplin em “O Grande Ditador”: “Sois homens, homens é o que sois!”.



Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no site ac24horas e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do Percival Puggina e outros sites. 


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