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Pietá do Caladinho: “Pede pra sair!”

O ac24horas reforça que todos os assuntos tratados neste espaço editorial têm o interesse público como principal referência. A afirmação é necessária para lembrar a discussão abordada aqui ontem (13) quando se tratou da falência do Sistema Integrado de Segurança Pública do Estado do Acre. Na ocasião, o argumento para uso do substantivo “falência” se fundamentou nos fatos, na rotina do povo acreano, sobretudo dos mais pobres e excluídos.


Assim como em tantas regiões do país, as comunidades mais pobres do Acre só sentem a mão pesada do Estado quando ela vem em forma de bofetada na cara. Pode ser também que os mais pobres reconheçam a falência do Estado quando tudo é permitido na periferia, menos o direito à alegria e ao bem viver. No ônibus em que foi executado o jovem Adriano Cataiana, não cabia mais nada ali dentro. Ninguém tinha o direito de atrapalhar o embalo daquela mãe desesperada. O Estado, que nunca esteve por ali com eficácia, não seria naquele momento de dor que iria se fazer presente. O Palácio Rio Branco inteiro, a Sejusp inteira estava na porta daquele ônibus. Não ousaram entrar.


Não havia mais o que fazer. A Pietá do Caladinho merecia um último momento de dor.
A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública divulgou nota oficial tentando rebater os fatos que aqui neste espaço se evidenciou. Em apenas um aspecto, a nota é explicativa. No instante em que trata do porquê do atraso na elaboração do Plano Estadual de Segurança Pública e Defesa Social. O primeiro documento foi elaborado em 2020, com o compromisso de ser ajustado com rotina bienal. Não o foi. Apenas em abril de 2023, foi revisto. A explicação guarda relação com a nova administração federal.


“… com a mudança do Governo Federal, a Sejusp teve que aguardar as diretrizes da Política Nacional de Segurança Pública para que o Plano Estadual pudesse ser desenhado de acordo com o Governo Federal”, pontuou a nota. Este foi o único elemento lógico apontado na nota da Sejusp. Um argumento racional, é preciso reconhecer. Aliás, sobre este aspecto do problema, a nota adianta que as ações previstas no Plano Estadual “devem ser divulgadas nos próximos dias”, com a promessa de ser um documento plural e participativo. No mais, a nota é um emaranhado de “mais do mesmo”.


O site ac24horas não se enganou, desde o momento em que foi anunciado o nome do Cel. José Américo Gaia para comandar os trabalhos da Sejusp. Gaia é homem de comando de tropa. Ali onde a turma obedece às ordens do “direita, volver!” , “sentido” e “descansar” com cara sisuda. Quando se fala que o diretor é “operacional” é preciso que o cidadão fique de orelhas em pé. Sobretudo os mais pobres. Esse adjetivo “operacional”, geralmente, é uma sugestão, serve quase como senha à tropa, para indicar que quem está no comando fez coisas pouco afeitas a protocolos. Talvez o sargento que esbofeteou o adolescente no Jorge Lavocat tenha se inspirado em orientações bem radicais em aulas já dadas pelo coronel em chácara próximo à Capital.


Gaia é “operacional”. Isso, claro, tem um valor. O Estado não treina os elementos de suas forças de Segurança para que eles morram ou não cumpram o seu dever. O policial tem família, tem compromissos pessoais, tem direito a lazer. Ninguém questiona isso. O policial tem direito a um plano de cargos e carreira decente. O policial deve ter treinamentos constantes. O policial deve ter acesso a equipamentos de ponta e saber manejá-los com destreza e eficácia. O policial deve saber usar da força de maneira proporcional ao problema posto; tem que saber reagir na hora certa e da forma certa.


É muita coisa envolvida quando o profissional veste a farda. Ninguém duvida disso. Mas é justamente aí que o cidadão mais se questiona. “Se no tempo do Sebastião Viana era comum ver os policiais militares e civis empurrarem viaturas porque não havia combustível, por que a sensação de insegurança só aumenta se esses problemas estruturais foram resolvidos”? A entrega de equipamentos sofisticados por parte do Governo do Estado era rotineira até o ano passado.


Se o Capitão Nascimento, personagem icônica do filme Tropa de Elite, estivesse pelos rios daqui, bem que ele poderia olhar bravamente para muitos da Sejusp e do Sistema Integrado e dizer sem dó, aos gritos e aos tapas: “Pede pra sair! Pede pra sair!” Certamente, a Pietá do Caladinho também diria a mesma coisa.


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