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Qual mãe irá chorar pelo seu filho hoje?

É preciso dizer de forma clara: o sistema de segurança pública do Acre está falido. E falido porque não consegue demonstrar eficácia. Exceção feita ao trabalho do Corpo de Bombeiros e da Polícia Civil (esta, em um ou outro aspecto pontual). Tudo o mais é um amontoado que mistura vaidade, corporativismo, incompetência, ingerência, descaso com o cidadão. Sobretudo, o mais pobre. As execuções de dois adolescentes na manhã de ontem deveria encher de vergonha a cara do “operacional” Cel. Gaya, secretário de Estado de Segurança Pública.


Sim, porque deveria partir da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública a orquestração envolvendo Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Detran, Iapen e ISE (este, por enquanto, integra o sistema). Mas o que se vê é inoperância de cabo a rabo.


Em um período de apenas uma hora e meia, dois estudantes foram executados em Rio Branco. Os crimes ocorreram no bairro Santa Inês, Segundo Distrito, e no bairro Caladinho, parte alta da cidade. Júnior Henrique Miranda, 15, foi morto em um beco da Rua da Sanacre. Adriano Barros Cataiana, também com 15 anos, foi assassinado dentro de um ônibus no bairro Caladinho. Ambos, mortos com um tiro na cabeça. O primeiro assassinato aconteceu por volta das 11 horas da manhã e o segundo aproximadamente ao meio-dia e meia.


Quem da Segurança Pública teria hombridade suficiente para consolar a mãe que soluçava dentro do ônibus sacudindo o filho morto? “Por que mataram você, meu filho?”, desesperava-se a mulher aos prantos. Que explicações, um “operacional” daria a uma mãe dessas?


Do comandante da Polícia Militar do Acre, Luciano Fonseca, também não parte nenhuma centelha de esperança. No bairro Jorge Lavocat, na sexta-feira da semana passada, um policial esbofeteou a cara de um adolescente de 17 anos em uma cena aprovada por muitos. A resposta do comando, diante da vergonhosa postura do policial, foi protocolar. Nenhuma veia de indignação diante da cena.


Fonseca falou do “devido processo legal”; falou do trabalho da Corregedoria da PM; falou da Justiça Militar. Tudo em um tom como quem escolhe um ângulo novo em foto de formatura de oficiais.


O paradoxal da situação é que a mesma sociedade que chora a juventude roubada e morta é a mesma que aprova atos de justiçamento promovido por policiais. Desde que o “justiçado” seja um pobre, claro. É o cidadão que se cala diante de policiais militares que fazem, despudoradamente, policiamento de postos de combustíveis, com viaturas estacionadas quase ao lado da bomba de abastecimento, enquanto os bairros ficam vulneráveis a tudo.


A sensação de insegurança é grande em todo momento. Quando precisa do trabalho das forças de segurança com o mínimo de inteligência, o cidadão percebe que os instrumentos de investigação é pau, pedra e dentes. É o que tem. O que resta, talvez, é bravura para esbofetear a cara de adolescente. Adolescente pobre, claro.


O Plano Estadual de Segurança Pública e Defesa Social foi uma ferramenta importante. O documento foi elaborado há três anos e revisto ainda no primeiro quadrimestre de 2023. Revisão atrasada, já que o correto seria a revisão bienal. Planejar é importante. Sem dúvida. Sem planejamento, a possibilidade de a execução ser atrapalhada é grande.


O que o site ac24horas chama atenção é que não adianta fazer o planejamento, necessário e obrigatório, quando o comando se mostra falho, vacilante, omisso. Em comunidades onde o Estado é ausente em tantos setores, como o Jorge Lavocat, Santa Inês e Caladinho, qual o acerto, a exatidão e a presença do trabalho da Sejusp?


Em todas as entrevistas coletivas do famoso Sistema Integrado de Segurança Pública, o secretário Gaya, na cabeceira da mesa, fica postado na frente de um painel onde há uma inscrição em latim de boteco: “Simul nos Fortis”. A ideia de que a união traz fortaleza, no caso acreano, pode ser relativizada. No caso concreto, os fatos e a sensação de insegurança mostram que incompetência unida deixa o povo ainda mais vulnerável. E a pergunta insiste: qual mãe irá chorar seu filho hoje no Acre?


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