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Michelle fica ou sai: “E agora, José”?

O episódio envolvendo o secretário de Estado Adjunto de Articulação Política, Luiz Calixto, o deputado líder de si mesmo, Edvaldo Magalhães (PCdoB), e a líder do Governo na Aleac, Michelle Melo (PDT), demonstra que o atual Governo do Acre não cansa de tropeçar nas próprias canelas.


Com um agravante: Calixto já foi parlamentar estadual. Inclusive, já esteve em situação semelhante à de Magalhães. Foi minoria na Casa. Assim como o deputado comunista, Calixto sabe o ritmo e o tom da música tocada por ali. Por isso, não deve ter sido surpresa para o assessor do Gabinete Civil quando todos os parlamentares presentes perfilaram em solidariedade à líder do Governo e ao líder da Oposição: repare o leitor na ironia que só a política é capaz de construir.


São coisas que só o Gabinete Civil sob a batuta de Gladson Cameli conseguiu orquestrar por aqui. Do ponto de vista simbólico, Calixto não deu alternativas aos parlamentares. Em determinados contextos, a Aleac age como “bicho de ruma”. Age corporativamente. É próprio de todo Poder representado por um plenário.


E a nota de repúdio, assinada por todos os parlamentares presentes, reflete isso, com um detalhe: exige uma reação do governador Gladson Cameli; exige uma providência diante do factoide político gerado pela performance do assessor palaciano.


“A Assembleia Legislativa do Acre demanda que o governador Gladson Cameli tome as medidas cabíveis para repreender as ações do secretário Luiz Calixto. É necessário que o chefe do Executivo estadual responda aos deputados e à sociedade, demonstrando sua postura diante do desrespeito demonstrado (sic) pelo seu secretário adjunto”.


Há um detalhe captado pelo repórter Leônidas Badaró do site ac24horas na entrevista que fez com o servidor Estevão Nascimento, representando o ISE no arranca rabo do Salão Azul.


Ao lembrar uma reunião no gabinete de governo, quando supostamente Calixto teria dito que Michelle Melo era uma “vendedora de ilusões”, e que o parlamento não teria forças para desfazer uma decisão de Governo, o servidor enredou o assessor nos seguintes termos: “E ainda disse mais: que se a gente quisesse falar mal do Gladson, botar out door, falar o que quisesse do governador pela cidade… que a gente falasse que eles não estariam nem aí…”


O diabo mora nos detalhes, querido leitor. Entre uma linha e outra dessa lembrança do servidor (supondo verdadeira), está evidenciada a solidão a que Gladson Cameli está sujeito no atual gabinete. Passando o traço embaixo, ficam uma evidência e uma dúvida.


A evidência é a mais óbvia: Edvaldo Magalhães, o homem líder de si mesmo (por ser o líder da oposição), conseguiu, sozinho, criar um fato político como há muito não se via. Expôs as vísceras e as fragilidades da relação entre a base parlamentar e o Gabinete Civil. No MMA de barrigas entre o deputado e o assessor, falas como “conheço você e seus métodos” vomitam muita mágoa escondida e ainda por serem reveladas.


A dúvida é: Michelle Melo permanece na liderança do Governo na Aleac? Qual o gesto de Gladson Cameli? Michelle precisa de um gesto do governador, enquanto Líder do Governo na Aleac. Ou ela tem essa resposta de Gladson ou ela passa a estar, praticamente, desautorizada na função. Quais fragilidades Michelle Melo expõe caso decida sair da liderança? Gladson aguentaria Michelle ajudando Edvaldo Magalhães nas arengas diárias?


Os assessores palacianos sempre raciocinam que “parlamentares só querem saber de cargos”. Esse é uma postura muito comum nos gabinetes de governo. Pode ser uma regra. Mas de vez em quando surge uma exceção. Ao final das contas, ninguém está aqui a vender ilusões ao leitor. Não seria exagero imaginar o rosto singelo de Michelle olhando para o governador Gladson, levantando os ombros e as mãos, em um gesto de dúvida, como se perguntasse: “E agora, José?”


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