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Reflexões de um escriba desacelerado

Apesar da clássica competência, o espetáculo da Esquadrilha da Fumaça não deixou empolgações durante o fim de semana. As coisas foram meio mornas nos últimos dois dias. E isso causou movimentações internas inesperadas.


De repente, o silêncio falou alto. Na sala de trabalho, silêncio e solidão. Uma rápida ida à redação do site (o tempo de um café e um cigarro) e o silêncio também estava por lá. Quietude. Cabos, máquinas, telas, flagrantes de anotações rabiscadas pela pressa, tudo denunciava a efemeridade deste tempo atual. Um olhar panorâmico por aquilo. Uma vida inteira sintetizada ali, naquele bocado de chão.


O cigarro acabou. O retorno à sala de trabalho foi seguido por uma parada, uma poltrona e um livro. Um prazer descoberto por quem nunca teve o tempo e a erudição necessários para ter intimidade com Machado ou Guimarães Rosa. Não deu para acarinhar esses mestres.


Tinha que fazer dinheiro. Apesar de lidar com informação e com a palavra, a narrativa sempre saiu meio por instinto, na marra. Para quem foi parido no seringal do Zezinho do Jarinal (região da Transacreana, atualmente por trás do bairro Calafate), a cartilha Caminho Suave sempre foi um luxo.


Dois filhos, quatro netos e 37 anos de casamento depois, não é possível dizer que o cansaço foi instalado. Isso não. A luta é a boa luta de sempre. A peleja é a peleja de sempre. Será assim até o último tanto de fôlego. O que há é certa impaciência pelas contradições óbvias que não se resolvem por aqui.


A pressa em dar em primeira mão determinada notícia sempre existirá. Mas o que há hoje é algo bem diferente. Há um descarte do furo que maltrata o peito do escriba. Algumas vezes, o esforço pela informação exclusiva é grande. Noticia-se. Algumas horas depois (se tanto), aquela labuta toda já tem que dividir espaço com alguma briguinha entre “digitais influencers” com alguma confusão afetiva do momento.


Um policial ataca covardemente um adolescente. Aquela imagem, aquele gesto (que mereceriam artigos, debates e análises) passam a “ficar velho” dois, três dias depois do crime cometido. E tudo vai ficando assim, meio envelhecido, após uma semana do ineditismo.


A pergunta é: tanta pressa pra quê? O site ac24horas sempre vai trabalhar para ser o primeiro a noticiar primeiro determinado fato. Essa luta ninguém abre mão dela. Mas o que se estar a indagar é a praticidade do trabalho. O que as autoridades têm feito com as informações que são apresentadas?


O que está sendo feito de efetivo na Segurança, na Economia, na produção agrícola, no urbanismo, na infraestrutura? Por vezes, tem-se a impressão que o leitor é bombardeado com um número enorme de informações que nem ele e nem as autoridades sabem direito o que fazer com elas.


Reside aí, talvez, o grande erro de quem trabalha com jornalismo on-line: informar por informar. A necessidade de acompanhar aquela informação (que, em outros tempos, chamava-se “suitar”), apresentando consequências práticas é algo que tem caído de moda. Quais providências foram tomadas? O que o Governo ou a prefeitura fizeram?


É certo que o Acre carece de equipes maiores nos sites? Talvez. A segmentação dos leitores exige isso. Informações cada vez mais detalhadas para um público que parece cada vez mais especializado. Mas já temos isso por aqui? Não podemos cair na armadilha de copiar um “espírito” dos grandes centros sem ter resolvido coisas bem mais básicas por aqui. Mais um cigarro e mais meia dúzia de páginas. Boa semana.


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