A pouca participação na vida ativa da sociedade nacional é um dos problemas enfrentados por estados pequenos e periféricos como o Acre. Quando as coisas acontecem por aqui, já estão caindo de maduras no centro do país. Essa invisibilidade e irrelevância é, inclusive, uma das marcas de nossos 120 anos de história, só alterada, negativamente, pelos escândalos políticos ou por eventos trágicos, como o assassinato de Chico Mendes, e, positivamente, pelos breves anos dos governos de Jorge Viana e Binho Marques, quando ao invés de rabo, fomos parte da cabeça do processo institucional nacional.
De pequena população e com uma economia capenga desde o fim do ciclo da borracha, o Acre não joga peso na realidade produtiva do Brasil. Em termos políticos, é igualmente insignificante, já que representa meros 0,35% do eleitorado nacional (TSE 2022).
Falemos da exceção positiva.
Na breve janela de oportunidade do período de 2002 e 2010, em que governos petistas no Acre coincidiram com a gestão Lula em âmbito nacional, aflorou por essas terras um colorido de modernidade sócio-ambiental que nos colocou na vanguarda de temas chaves do mundo atual, atraindo para cá atenção e recursos financeiros.
Foi período em que, meio que de repente, de lugar de escândalos e terra de coronéis de barranco, viramos espaço de ousados experimentos sociais e institucionais, com importantes avanços em áreas como educação, proteção social (lembremos do desbravador Adjunto da Solidariedade que, com suas unidades territoriais, foi o precursor dos CRAS e CREAS atuais), produção sustentável e meio ambiente. Com isso, o estado passou a ocupar posição de referência na Amazônia e a iluminar caminhos para outras regiões do país. Foi um tempo em que todo experimento social de política pública na Brasil começava pelo Acre.
Até passamos a ser frequentados por instituições respeitadas mundialmente, como o Banco Mundial, o BID e os governos do Reino Unido e da Alemanha, para citar alguns. E a frequentar grupos celetos, como a Força Tarefa de Governadores pelo Clima e Florestas, em inglês: “Governors’ Climate and Forest Task Force”, andando na companhia de ninguém menos que a Califórnia, o mais rico e inovador estado americano, onde ficam o Vale do Silício, a UCLA, a CALTECH e Stanford, ou seja, a região de maior dinamismo tecnológico do planeta.
Foi também quando a economia acreana cresceu anualmente acima da taxa de crescimento do PIB nacional, impulsionada por investimentos em infraestrutura que não eram vistos desde a gestão de Flaviano Melo, no final da década de 1980. Até as cidades acreanas, sempre tão feias e desarrumadas, ganharam parques urbanos e prédios que atenuaram a falta de planejamento e organização municipal.
Mas, como disse inicialmente, foi um breve intervalo. Atualmente, estamos de volta ao lugar de sempre, à condição normal de lugar ermo e esquecido.
E por que ser inexpressivo e irrelevante é um problema? O que ganhamos com o contrário? Muito! Sendo irrelevantes, o que quer que aconteça aqui será desprezado pelo país, tratado como normalidade de um lugar esquecido no tempo e dominado pelo atraso. Aliás, essa é a visão comum sobre nós. Nessa condição, ficamos à margem dos investimentos necessários ao crescimento econômico e ainda mais distantes do desenvolvimento nacional. Quem investe recursos em um lugar de corrupção e atraso? Quem confia numa elite como a que nos dirige hoje? A resposta é evidente.
Muitos poderão não concordar. Alguns até se levantarão com ira. Faz parte do ambiente de liberdade democrática em que cada um faz uso do poder de ter a própria opinião. A realidade concreta, porém, é que, enquanto o mundo discute descarbonização das economias como estratégia para conter a mudança climática; enquanto a preservação do bioma amazônico ganha centralidade no debate científico e nas articulações entre governos nacionais; enquanto na última eleição a maioria dos brasileiros se posicionou contrário à destruição de nossas florestas, por aqui uns poucos ganham muito dinheiro transformando-nos em extensão da economia do gado e da soja de Mato Grosso, derrubando arvores e estimulando queimadas. Para esses, quanto mais distante e irrelevante o Acre apareça aos olhos do país, melhor. O verão chegou!
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