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Pesquisadores estudam alternativas econômicas ao desmatamento no Acre

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Raimari Cardoso

Reportagem publicada nesta semana pela página Um Só Planeta, movimento editorial brasileiro para promover práticas sustentáveis e enfrentar a crise climática, trata de um projeto apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, que vai avaliar e monitorar as alternativas ao desmatamento na Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, em Epitaciolândia, no Acre.


O projeto ocorre no âmbito da Iniciativa Amazônia+10, que recebeu, por meio do Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap), propostas de projetos de pesquisa na região. Na primeira chamada, cujos resultados foram divulgados no fim de 2022, cada um dos 39 projetos selecionados conta com a participação de pesquisadores de instituições de pesquisa de pelo menos três Estados cujas Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) aderiram ao programa.


“As reservas extrativistas são unidades de conservação, onde podem viver populações tradicionais que fazem uso sustentável da terra. Segundo o Plano de Manejo da Resex Chico Mendes, cada ocupação pode utilizar até 10% da sua área, limitada a 30 hectares, para atividades agrícolas, criação de pequenos animais, peixes e atividades agroflorestais”, explica Lucas Ferreira Lima, pesquisador do projeto e pós-doutorando no Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE-Unicamp).


O pesquisador explica que devido ao baixo custo de mão de obra, verifica-se uma atrativa taxa de retorno da pecuária, ampliando as áreas de pastagens dentro da Resex. “No entanto, estamos analisando alternativas, como os sistemas agroflorestais [SAFs] e o látex da seringueira, que podem dar uma renda maior sem derrubar a floresta”, completa.


Além da Unicamp, participam pesquisadores das universidades federais do Acre (UFAC) e do Pará (UFPA). O projeto foi dividido em quatro grupos de trabalho (GTs). Um deles vai analisar a vertente socioeconômica, avaliando o desempenho das famílias nas atividades alternativas ao desmatamento.


O GT ambiental, por sua vez, avaliará a efetividade dos sistemas agroflorestais na conservação da biodiversidade aquática e terrestre, além de suas funções ecossistêmicas. O GT de recomposição florestal promoverá, em duas áreas, a recuperação da vegetação de Áreas de Preservação Permanente (APPs). Enquanto o GT disseminação da ciência produzirá material audiovisual que alimentará o canal do projeto no YouTube.


“Esperamos ter uma compreensão mais clara dos fatores que poderiam efetivamente tornar atrativas novamente as atividades extrativistas em face da alta taxa de retorno proporcionada pela pecuária. As informações preliminares já obtidas indicam que, sem uma conjugação efetiva com políticas de comando e controle, os incentivos econômicos por si só não garantem a preservação da floresta”, afirma Ademar Ribeiro Romeiro, professor do IE-Unicamp e coordenador do projeto.


Um dos gargalos para os agricultores locais é o escoamento da produção. No período de chuvas, entre outubro e abril, as estradas ficam intransitáveis. Frutas cultivadas se perdem e não há como enviar o látex coletado na floresta para fora da Resex. Uma das alternativas a ser estudada é o beneficiamento do cacau, do cupuaçu, da castanha e de outras culturas existentes na reserva. Na forma de geleias, doces e biscoitos, por exemplo, esses produtos teriam uma maior durabilidade e valor agregado.


“Ainda assim, há produtores que têm em suas áreas sistemas agroflorestais há mais de 20 anos e estão obtendo bons resultados. A ponto de vizinhos que preferiram desmatar e criar gado terem se arrependido. Ainda que a pecuária seja uma reserva de valor, ela não dá uma renda mensal como as plantações, que produzem em diferentes épocas do ano e ainda mantêm algumas funções da floresta”, conta Oleides de Oliveira, professora da UFAC e pesquisadora associada do projeto.


Além disso, quem explora os seringais nativos da reserva também já obtém renda maior do que os pecuaristas. Graças a um acordo com uma fabricante de calçados, todo o látex é comprado pela empresa, que continua demandando a matéria-prima e incentivando outros moradores a retornar à atividade que deu origem à Resex.


“Outros que tinham abandonado estão voltando a coletar o látex nativo ou mesmo o de seringueiras cultivadas para esse fim. A empresa, por sua vez, agrega valor ao produto com um selo de borracha sustentável”, diz Oliveira.


A primeira visita dos pesquisadores à Resex, como parte do projeto, ocorreu em junho. Em setembro, serão feitas as primeiras entrevistas com algumas das cem famílias que fazem parte da amostragem (a área tem 970.570 hectares no total). As conversas darão subsídios à primeira análise multicritério para estudar as alternativas mais viáveis ao desmatamento e à criação de gado na Resex.


Uma primeira região de APP degradada foi cercada e terá suas primeiras mudas plantadas ainda em 2023, enquanto as análises ecológicas devem começar em breve.


“Vamos buscar identificar critérios, valores, pontos de vista fundamentais junto aos moradores da Resex e avaliar as alternativas ao desmatamento que se encaixam nos valores dessas pessoas, até para que isso seja sustentável para as próximas gerações”, encerra Lima.


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