Há uma armadilha em curso. Um desses jovens pastores que utilizam bugigangas tecnológicas, redes sociais e outros tantos bregueços da internet para falar do que ele entende de cristianismo disse que, se pudesse, “Deus mataria” e “começava tudo de novo”. Essas expressões foram ditas em relação a comunidade LGBTQIA+. Na sequência dessa fala criminosa, o moçoilo orientou que os fiéis que lhe ouviam deveriam “ir pra cima” e que “agora estava com eles”.
A fala ganhou repercussão há quatro dias. É preciso relacionar isso a uma estratégia. É uma evidente armadilha. E é preciso vigilância. A qual “armadilha” se faz referência e por que isso merece um editorial em um site acreano? Explica-se, por partes.
A “armadilha” quase óbvia guarda relação com o período eleitoral passado. Teve repercussão na campanha de Lula a desinformação segundo a qual, caso o candidato petista fosse vitorioso, ele fecharia igrejas e a comunidade cristã passaria a ser perseguida. Isso foi tão forte que o candidato teve que elaborar uma carta desmentindo.
Apesar de nada haver na história de Lula que relacione a antipatia dele por algum credo, a manipulação das informações por parte dos partidos de direita foi tão competente que essa desinformação mostra força ainda hoje. A fala do moçoilo é criminosa. Mas ele responderá judicialmente por ela? Deveria. Mas irá?
Ou haverá uma intervenção política tentando impedir que as acusações feitas na campanha não se concretizem? Caso a Justiça haja como deve agir, os oportunistas ligados ao que se convencionou chamar de “agenda de costumes” agirão automaticamente. A retórica já está pronta: “Cristãos estão sendo perseguidos pelo governo do comunista”; “Lula comete estelionato eleitoral e persegue os cristãos”.
Prova dessa estratégia é tamanha que um “menino-velho” de Belo Horizonte, que se elegeu deputado federal, subiu à tribuna da Câmara dos Deputados esta semana e abarcou:
“Combater o pecado não quer dizer incitação ao ódio. Dizer que nós não queremos que o homossexualismo continue como uma prática bela e imoral… isso é direito nosso. Eu digo: homossexualidade é pecado. Vão ser vocês que vão me impedir de fazer isso? Ah… Mas vai precisar virá ‘muito ser humano’ (sic) e dizer que não pode dizer que homossexualidade é pecado”. E o delírio continua com uma fala reveladora. “Querem amordaçar os cristãos. Querem dizer que a gente não pode chamar pecado de pecado”.
O que isso tem a ver com o Acre? Tudo. O (e)leitor deste editorial, em larga fatia, concorda com o jovem parlamentar. A concordância com essa percepção exige muita maturidade para que não se descambe para o ódio puro e simples. Ter como referência de vida aquilo que é pecaminoso ou não, em tempos atuais, é moeda muito perigosa.
A “armadilha” dita no início do texto é a que já foi repetida nesse espaço aqui em outras oportunidades. Essa discussão sobre “agenda de valores” ou “pauta de costumes” em nada tem a ver com as prioridades do país. Nada. Absolutamente nada. É uma agenda oca, que apenas revela quão carente de Educação o país está. Mesmo porque há uma diferença grande entre o que é “certo” ou “errado” daquilo que é pecaminoso ou não. Só para que o leitor entenda quão perigosa e sutil são as armadilhas: ontem (7), o Centro de Convenções da Ufac estava sendo utilizado para um evento “evangélico”. É certo? É errado? É pecado? #ficadica
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