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No Acre, bar de rock estilo europeu faz atendimento restrito só para “selecionados”

FOTOS: SÉRGIO VALE

 


Quem não faz parte do ciclo de amizades de Ricardo Melo de Souza (43), dificilmente será aceito no Chicos Rock Bar, um dos espaços mais restritos da noite acreana. A seleção de clientes é proposital e faz parte de um modelo europeu de negócio trazido pelo empresário há exatos 10 anos para a capital do Acre.


A ideia é manter um ambiente agradável entre velhos conhecidos com direito a cerveja gelada, comida boa e ainda proporcionar um atendimento personalizado a cada um deles. O nome do local é uma homenagem ao pai de Ricardo, Francisco Sá de Souza, que também já foi dono de bar e ficou conhecido como Chico Sá.



O estabelecimento funciona na própria casa de Ricardo e se tornou um espaço de lazer coletivo, porém estritamente delimitado. “Só recebo amigos. Não abro o espaço ao público, só para amigos. Eles me ligam, chegam aqui para curtir sua própria companhia, dar uma relaxada do dia a dia, comer um bom petisco e tomar uma cerveja bem gelada”.


O empresário não indica que seus clientes levem outras pessoas fora do nicho de conhecidos para o local. “É dessa forma que funciona. Se quiser levar outra pessoa, pode até levar, mas quem leva fica responsável por ela, caso algo fora de controle aconteça”.



É assim que funciona o modelo europeu onde o dono do bar atende, faz a comida e recebe as pessoas. Para Ricardo, o início foi desafiador. “Entrar de cabeça e realizar tudo sozinho não foi fácil, mas já tive funcionários em outros empreendimentos e tive muitos problemas. Nossa carga tributária no Brasil é bem alta e resolvi apostar e tentar fazer isso”.


Como recebe poucos clientes, esse estilo de atendimento torna o serviço mais exclusivo e personalizado. “Recebo a pessoa no portão, aperto a mão e já sei o que ela quer, a cerveja que ela toma, o que gosta de comer. Quando você coloca um funcionário, ele não dá a atenção que aquele cliente quer. O cliente não quer estar pedindo cerveja, ele quer ser servido sem ficar levantando a mão, sem ficar gritando, é essa a visão”.


O rock como temática

 



A paixão pelo mundo do rock começou quando ele ainda era adolescente e trabalhava numa loja de discos de seu tio, a Zepelim Records. “Naquela época eu gravava músicas do vinil para fita cassete, que eram mais baratas e acessíveis. Eu já tinha aptidão para essa área do rock and roll e sempre pensava em montar algo temático voltado para o rock”.


Aos 15 anos, Ricardo foi embora de Rio Branco e só retornou à capital acreana 10 anos depois, quando abriu o Chicos Churrasquinho, onde vendia espetinho e reunia alguns amigos no final da noite para ouvir rock. “E assim surgiu a ideia de abrir um bar só para amigos”.


Foi em 22 de junho de 2013 quando o Chicos Rock Bar foi oficialmente aberto. “Estamos fazendo 10 anos de atividade. Resolvi empreender nessa área porque já tinha conhecimento de bar e eu só afunilei o nicho para a temática de rock, que eu também já conhecia desde os 14 anos”.


O empresário afirma que um bar temático requer conhecimento da área e muitas vivências. “Já trabalhei em bar. Meu pai tinha um bar e desde pequeno trabalhei com ele. Com o tempo me formei na área de turismo e isso me ajudou mais ainda a me especializar na área de alimentos e bebidas”.


Um nicho sem crise

 



Para a maioria dos empresários, a pandemia de Covid-19 foi cruel, mas para Ricardo e o Chicos Rock Bar, ajudou a alavancar o modelo de negócio. “Dentro das dificuldades, encontrei oportunidades. É um serviço limitado porque é para poucos amigos de infância, pessoas com quem estudei, que fui conhecendo ao longo dos anos. Isso vai fazendo uma seleção daquelas pessoas com uma energia boa, o que torna o ambiente em algo perfeito”.


Os amigos foram se acostumando aos poucos com a proposta do bar e passaram a entender o empreendimento. “Eles chegam, já pedem algo, sabem o tempo que demoro, e vou lá e faço a comida. Os que vêm aqui já entendem, sabem que é só eu e é preciso uma paciência a mais. Mas eles vêm para relaxar, esquecer um pouco o mundo lá fora”.


O dono do bar diz nunca ter sentido dificuldade em empreender a ponto de pensar em fechar o Chicos, no entanto, as burocracias do estado, questões de legislação e documentação chegam a incomodar o empreendedor local. “O público do rock é um público que não tem crise e nunca pensei em fechar”.



Melo acredita que o Acre tem grande potencial para qualquer empreendimento, todos os níveis de públicos e para qualquer segmento de música, tanto do rock, sertanejo, samba, pagode, funk, basta ter criatividade para gerenciar o negócio e sempre inovar. “Como a gente tem um público muito restrito e não há uma rotatividade turística, nenhum incentivo turístico pelo estado, temos que nos virar nos 30 para trabalhar com as pessoas que moram aqui”.


De acordo com o empresário, um dos segredos é não fazer a mesma coisa da mesma forma o tempo todo para não perder o interesse do público. “Quem empreende no Acre pode ganhar a vida em qualquer lugar do mundo, porque aqui é uma prova do empreendedorismo, não temos apoio de nada. O estado não apoia, o turismo e a secretaria de turismo não ajudam. Se o estado não investe no turismo, a gente não tem incentivo”, declara.


Ele detalha que seu público comporta pessoas que preferem ficar à vontade, sem que ninguém fique olhando se estão arrumados ou não. “Eles vêm curtir o momento sem que ninguém fique olhando, criticando ou julgando. Preferem um ambiente descontraído, sem que ninguém se importe com o que estão fazendo ou deixando de fazer”.


A cerveja gelada, a comida e a limpeza dos banheiros são itens apontados pelos clientes como alguns dos principais diferenciais do bar. “A energia do local também compõe o conjunto de coisas que fazem o diferencial”, completa Ricardo. Para ele, os 10 anos de Chicos Rock Bar representam erros, acertos, ganhos, perdas e muitas experiências.


“A gente vai aprendendo ao longo dos anos e polindo, tirando o que não serve mais e deixando o que é bom. Dez anos são 10 anos, a gente passa por muitas dificuldades, mas aprende. Por mais que não dê certo, você começa de novo e não começa do zero, porque já tem a experiência. Você sabe de onde começar para seguir em frente novamente, desviando dos erros e acertando novamente”, conclui.


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