A impressão que dá é que alguém sempre tem algo para relembrar do antigo e saudoso Mira Shopping, o primeiro centro de compras numa edificação com diversas lojas e marcas de renome nacional no Acre. Os nascidos até a década de 90 guardam com carinho as lembranças da época em que viram a porta automática e a escada rolante pela primeira vez na capital acreana.
O Mira Shopping, pertencente ao Grupo Miragina, foi responsável por proporcionar novas e inesquecíveis experiências na época em que subir e descer de uma escada, várias e várias vezes seguidas era uma atração à parte do empreendimento. Inaugurado em 1996, teve seus anos de glória por quase uma década, quando foi afetado por uma forte crise que findou no encerramento das atividades no ano de 2011.
Foram cerca de 15 anos de história e muitas memórias deixadas no coração dos acreanos, que até hoje comentam os tempos de Mira Shopping com muita nostalgia. Pizza hut, Kopenhagen, MeM eram algumas das franquias instaladas no local. O espaço abrigou 50 empreendimentos com propostas ousadas e alguns deles até pioneiros, como a chegada do restaurante a quilo na praça de alimentação, uma estação de boliche, entre outras opções.
Com ar condicionado central, elevador, escada rolante e estacionamento próprio, o empresário José Luiz Felicio se orgulha em ter participado da administração daquele que ficou conhecido como o primeiro shopping center do estado do Acre. A ideia de abrir o negócio partiu de seu pai, o visionário Abrahão Felicio, após abandonar o projeto de construir um hotel no mesmo local.
“O Mira Shopping fez muito sucesso, mais até do que nós esperávamos. Primeiro pelas novidades, em ter a primeira escada rolante, por exemplo. Todos os dias formavam filas para andar nela. Lembro que as pessoas subiam pela escada e desciam pelo elevador, era muito legal”, conta Felicio.
O elevador foi feito com extrema qualidade, todo em inox, tanto que até hoje continua funcionando perfeitamente. A escada rolante foi a primeira do estado e da região, já que nem mesmo no estado vizinho, Rondônia, ainda não tinha essa estrutura mecânica como método de transporte em local algum.
“A porta automática era outra coisa que as pessoas gostavam muito. Elas ficavam perguntando como é que aquilo abria e fechava sozinha. Se aproximavam, viam abrir, esperavam fechar e voltavam de novo. Por isso que digo que o sucesso foi mais que o esperado, justamente por causa das novidades, das coisas que as pessoas não conheciam”, afirma o empresário.
Outro motivo do sucesso foi o capricho dos lojistas no momento de montar os espaços das lojas. “Era tudo muito caprichado. Quem pegou para fazer a loja naquela época, pegou para dizer: minha loja está linda”.
Em sua estrutura havia subsolo, o térreo, 1º e 2º pavimento. No térreo e 1º pavimento ficavam distribuídas as 50 lojas e no 2º pavimento ficava o boliche, que inclusive disponibilizava um calçado todo especial para jogar, que hoje não existe mais. O cinema estava planejado para ser aberto numa segunda etapa do negócio, o que não chegou a acontecer.
“A praça de alimentação, por ser bem diversificada, atraia muita gente. Era o verdadeiro point da cidade naquela época. No geral, frequentavam pessoas de todas as idades, as famílias. Era muito cheio todos os dias. Havia um mix de lojas, tinha loja para tudo e todos os gostos. Para se ter uma ideia, já tínhamos loja que vendia Plus Size, coisa que só veio para cá muito tempo depois do Mira Shopping”, garante Felicio.
A ideia de trazer algo realmente inovador, que ainda não existisse no Acre, foi alcançada com sucesso. Antes mesmo de o prédio ser o Mira Shopping, a família tinha no mesmo local a lanchonete Miragina, que foi o primeiro lugar em Rio Branco a servir pizza e chopp. “Nós nos orgulhamos de ter feito parte disso”, diz José Luiz.
Mas o que teria levado ao fim um negócio que já havia dado certo e que ainda era bastante promissor? Um dos administradores do negócio conta que após a crise financeira de 2007, as coisas começaram a desandar. “O shopping bombou e deu certo por uns oito anos. Era prestigiado por todos, incluindo autoridades, políticos, mas houve uma sequência de coisas ruins junto à crise”, relata.
Próximo ao Mira Shopping, precisamente em frente ao estádio José de Melo, no Centro de Rio Branco, havia uma praça com um local conhecido como ‘Bebódromo’ onde o público frequentava para ingerir bebida alcoólica e fumar. Esse local fechou e a partir daí houve a migração desse público para a praça de alimentação do Mira Shopping.
“Era um público diferenciado, que não comprava nas lojas, que não consumia, mas ocupava lugar. As famílias chegavam à praça de alimentação para comer e havia muitas pessoas bebendo, fumando, e isso, de certa forma, acreditamos que pode ter afastado as famílias”, lamenta o empresário.
A partir de então o Mira Shopping passou a conviver com uma propaganda negativa. “Foi uma série de coisas ruins. Não podíamos fazer nada. Foi uma crise tamanha que os lojistas que tinham feito empréstimos para montar as lojas começaram a sentir dificuldade para o pagamento”. E então as lojas foram fechando, uma atrás da outra. “Chegou num ponto que ficou inviável [manter aberto]”.
O prédio ficou fechado por algum tempo. A família ainda cogitou transformar o espaço no plano inicial, que era um hotel. Já tinha nome, arte de fachada, projeto arquitetônico e até construtora contratada. No entanto, todos foram surpreendidos com a morte de uma familiar muito próxima, Sara, irmã de José Luiz. “Ela trabalhava muito comigo. Isso abalou muito a gente e desanimamos”.
O grupo acreano que administrava o Mira Shopping chegou a trazer profissionais experientes da Bahia e São Paulo para tentar administrar e levantar o empreendimento, mas em um período em que as coisas já não estavam tão bem quanto no início. “Pensamos ainda em montar o cinema, mas já estávamos meio desanimados. Acreditávamos que se tivéssemos montado o cinema iria melhorar bastante, mas já foi tarde e vimos que o investimento poderia não valer a pena, fora que também já não tinha mais clima por conta da perda de minha irmã”, destaca José Luiz.
Apesar de o negócio não ter seguido adiante, é um período em que a família recorda com muito carinho. “Nós temos lembrança de ver a satisfação das pessoas em estar ali, num lugar bonito, climatizado, fazia frio lá dentro. A expressão de satisfação das pessoas de verem novidades, lojas bonitas…”.
O Mira Shopping foi inspirado em grandes shoppings centers do país. “Tudo que tinha que era novidade, nós fazíamos. A decoração de natal, por exemplo, ainda tenho até hoje guardada, foi comprada de uma das maiores empresas do Brasil. Os festões de natal até hoje não deixaram cair nem mesmo um fiapinho”, comenta José Luiz.
Eles já estão acostumados a serem perguntados pelo empreendimento até os dias de hoje. “As pessoas sempre falam que sentem falta do Mira Shopping. O capricho que tivemos em fazer, os turistas que frequentavam muito o local”.
À época, a família confrontou outros empresários que criticavam o fato de o Mira Shopping trazer inovação, como a porta automática e a escada rolante. “Tiveram empresários que tentaram nos desestimular, dizendo: pra que colocar escada rolante? Esse povo não conhece isso. Mas eu dizia: se nós não colocarmos, como eles vão conhecer? Essa coisa de inovar sempre foi uma marca nossa”, finaliza o empresário.
Atualmente, a família decidiu fazer apenas a locação do prédio em que ficava o Mira Shopping. Primeiro para a secretaria estadual de educação. No momento está locado para a prefeitura de Rio Branco, que instalou três secretarias no espaço.
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