A mesa azul da sede do MDB na Capital, frequentada pelos chamados “Cabeças Brancas” do partido, começa a apresentar resultados concretos. A provável ida de Marcus Alexandre para a sigla deu o que falar nesta semana que se finda. O café da manhã em que o ex-petista participou, junto com caciques do Glorioso na chácara do presidente do diretório estadual, Flaviano Melo, foi um gesto que pode extrapolar os aspectos simbólicos. Há muito de pragmático.
Flaviano Melo sente quase de forma concreta, quase conseguindo tocar no ar, a possibilidade de o MDB ter, novamente, a chave da prefeitura da Capital nas mãos. Um feito conquistado “sem ódio e sem medo” há 23 anos. O perspicaz lobo, agora de bengala, só não pode esquecer que os personagens são bem outros. Não seria exagero dizer que até mesmo o país é bem outro. Flaviano é engenheiro. Homem afeito a cálculos. Mas é bom ressaltar algumas situações para que o site *ac24horas* não seja acusado de não ter alertado.
Marcus Alexandre também é engenheiro. Também tem intimidade com cálculos. Maneja números como quem brinca. E suas últimas decisões demonstram que aprendeu a superar alguns desafios para além, muito além da Matemática. O último entrave superado tem nome e sobrenome: Jorge Viana. E é justamente por este feito que Flaviano, se for experiente como aparenta, deve observar com cuidado.
Alexandre não tenta tirar o 13 de sua testa de forma fortuita. Ele o faz porque aceitou rapidamente a tese de que “ou sai do PT ou não ganha eleição”. Há no ex-prefeito petista o desejo de voltar ao poder. O rio-branquense gosta dele. Habituou-se à rotina de mobilizar, planejar, projetar, arrebanhar recursos, executar e inaugurar.
Então, vejamos: há vontade do retorno ao poder. Esse é um ponto importante. Mas para fazer isso não pode ser pelo Partido dos Trabalhadores, segundo a lógica aceita por Marcus Alexandre. Então, por qual partido será? Pelo PSD? Dificilmente. Até hoje, os líderes que traíram Petecão no último pleito não tiveram a punição devida. A fragilidade da liderança do senador também não lhe autoriza o charme: o desempenho nas urnas é prova inconteste.
São elementos que entusiasmam a bengala do velho lobo do MDB. Marcus Alexandre se aproxima do Glorioso porque sabe que o eleitor que bate no peito ao afirmar que “não vota em partido; vota em pessoas” é o mesmo que rejeita votar no PT. Há um paradoxo a ser compreendido e superado. Alexandre sabe que esse ressentimento se cala com trabalho, com resultados práticos. O que não será difícil, em uma cidade tão maltratada.
A engenharia política que Marcus Alexandre terá que equacionar é a seguinte: sair do PT, sentar à mesa azul e outras multicor, mas sem negar o PT. Isso vai exigir tolerância do MDB e de parte de sua militância que insiste em dialogar com o extremismo de direita.
E Jorge Viana onde fica nesse paneiro todo? Filhote da Arena, curtido no que a política acreana tinha de mais conservador, Jorge Viana nunca teve dificuldade de dialogar, nem à direita e nem à esquerda. Aliás, é conhecido por isto. Em recente artigo neste jornal, o professor da Ufac, cientista social e ex-presidente do PT do Acre, Ermício Sena, faz uma provocação que soa como uma carapanã incômoda no ouvido esquerdo de Marcus Alexandre. “Quem mais que ele foi convidado a sair do PT, tirar a marca do partido de sua imagem para disputar eleições?”, provoca Sena, referindo-se a Jorge Viana. Trata-se de um militante petista não sugerindo um “Fica, Marcus!”. Mas um “Pensa, Marcus!”
As peças estão se mexendo. Quem tiver estratégia que as use. João Correia, um dos quadros mais qualificados do MDB acreano, em recente entrevista de Tv, enalteceu a figura de Tião Bocalom. A militância do atual prefeito caiu feito pato na armadilha: não era um elogio qualquer. Era uma estratégia. Talvez, o professor esteja calculando para valorizar um sol que ele já vislumbra no horizonte. Para enaltecer a própria vitória, tem que, primeiro, valorizar o oponente. É o jogo jogado.