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Opinião: O fator partido político nas eleições de Rio Branco

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*Ermício Sena


Em qualquer roda de conversa que se tenha com eleitores de Rio Branco, há a constatação que por aqui se vota em pessoas e não em partidos. Esse personalismo não é uma característica só dos eleitores de nossa capital, estudos tem demonstrado que na cultura política de sistemas políticos como os da América Latina, esse personalismo ao modo do que descreveu Weber, é acima de tudo uma entidade carismática do político (Weber, 2015). 


No nosso caso, podemos dizer que em grande medida, a maioria dos votos majoritários dados aos candidatos a prefeito, governador e presidente, são conquistados a partir dos atributos que o eleitor ver nesses políticos, em especial nesse carisma que, em tese, não traz nenhum benefício ao eleitor do ponto de vista de boas políticas públicas.


Dito isso, nos vem algumas questões: Se os eleitores de Rio Branco destinam a maioria dos seus votos aos candidatos individualmente, os partidos devem ser descartados do ponto de vista pragmático? Se a resposta a essa questão for positiva, significa que os partidos não tem nenhuma importância na hora dos políticos definirem a qual agremiação irão se filiar? E a pergunta que não quer calar: o ex-prefeito de Rio Branco Marcus Alexandre deve se filiar a qualquer partido ou deve se manter fiel a sua antiga sigla, o Partido dos Trabalhadores.


Em primeiro lugar, vale destacar que os partidos políticos distribuem dois tipos de incentivos no interior de suas organizações: os coletivos e os seletivos (Panebianco, 2005). Os incentivos coletivos, tem a ver com a identidade que os filiados adquirem na sua militância; partidos que se organizam com seus membros defendendo causas, pautas e programas partidários, se enquadram nesse tipo e todos se veem como participantes na sua defesa e na defesa de seus líderes. Os incentivos seletivos são os benefícios que a organização destina às suas lideranças e que uma vez alçadas a essa condição, irão gozar de status e material para fazer frente às disputas eleitorais, recebendo por parte de sua militância a legitimidade para atuar nas instituições nas quais os partidos receberam sufrágios para assumi-las.


No Acre e em especial em Rio Branco, poucos partidos tem essas duas varáveis para oferecer a um político que deseje disputar cargos eletivos, como o de prefeito da capital. Parece razoável supor que o ex-prefeito de Rio Branco Marcus Alexandre deva considerar essa questão na hora de se filiar a um partido para fazer a disputa da prefeitura de Rio Branco em 2024, a não ser que vá ouvir apenas o senso-comum daqueles que, provavelmente com boas intenções, o aconselham a tomar uma decisão que o leve a ter apenas uma sigla para competir e não para lhe ajudar programaticamente e oferecer quadros que possam, eventualmente, ajudar na gestão.


Essa questão não é pouca coisa, se olharmos para o atual governador, ele tem carisma e um partido, mas não tem um programa e nem quadros para fazer frente aos desafios que a gestão moderna requer. O mesmo já afirmou inúmeras vezes que não consegue planejar e nem executar bons projetos, porque tem dificuldades no quesito de bons gestores. Por outro lado, o desastre na atual gestão do Estado, casada com a leniência, complacência e participação do próprio governador com os escândalos enumerados na Operação Ptolomeu, mostra que muitos gestores, além de fazerem parte do escândalo, são poucos que vem a público o defenderem, mostrando que ele tem um partido, mas não tem pessoas que defendam um programa, já que o próprio partido não articula um.


Outra questão que se coloca é sobre o que o pensador Albert Hirschman nos ensinou no seu livro “Saída, voz e lealdade”, onde analisa essas questões, que em linhas gerais, busca mostrar que para todos os sujeitos, em todas as organizações, existem três alternativas, inclusive nos partidos políticos (Hirschman, 1973).


a) Sair, por descontentamento ou frustração com expectativas não realizadas. Essa alternativa na maioria das vezes é a mais difícil, uma vez que a saída carrega consigo muito tempo dedicado à organização, relações afetivas duradouras, projetos realizados e não realizados, sentimento de pertencimento e a marca indelével pra fora da organização de que o indivíduo um dia teve lado do ponto de vista programático.


b) Voz, para manter-se firme na expectativa de mudar as relações internas de poder. Nessa quadra, só ficam aqueles que mesmo vendo suas expectativas não sendo realizadas ou realizadas em parte, sabem valorizar a organização como sendo um ambiente de permanente disputa, esses sabem que no jogo do “ganha-ganha”, nem todos são ganhadores em determinados momentos históricos, podendo ocorrer de, por exemplo, um militante ser “indicado” a um cargo na ou pela organização e, certamente, outro membro da organização se sentirá menos valorizado, mas que isso faz parte do processo político no interior da organização.


c) Manter a voz e a lealdade para com a organização. Essa alternativa é a mais coerente de todas para quem não perde de vista que uma crise na agremiação pode também ser uma janela de oportunidades para renová-la, para constituir nós numa rede que seja mais permeável às suas expectativas, para transformar as oportunidades em alternativas e não em oportunismo, para fortalecer a identidade com a organização e a partir dela disputar o poder, que ao final e cabo é do que se trata em temos de processo político.


Dito isso, penso que a saída é a alternativa mais radical, sem meio termo, sem diálogo, sem parâmetro pra medir outras formas de convivência. Em termos gerais, significa que haverá um rompimento que mesmo que, como acontece em muitos casos, haja um retorno, ele sempre será doloroso.


Por aqui já tivemos casos de filiados ao Partido dos Trabalhadores que foram instados muitas vezes para saírem de seus quadros, o caso mais proeminente é o do ex-prefeito, ex-governador e ex-senador Jorge Viana. Quem mais que ele foi convidado a sair do PT, tirar a marca do partido de sua imagem para disputar eleições? Aqui reside muito sobre “saída, voz e lealdade”, Jorge Viana soube trabalhar muito bem com as variáveis “voz” e “lealdade”, mas nunca com a “saída”, muito pelo contrário, sempre deixou claro que só disputaria eleições se fosse pelo Partido dos Trabalhadores. Esse exemplo é para ilustrar com uma figura pública que tem uma imagem vinculada ao PT, mas pode ser exemplo para o militante comum, que na maioria das vezes só tem a alternativa de militar com a voz e a lealdade.


Por último, fazendo uma análise de trilhas a serem exploradas pelo ex-prefeito de Rio Branco Marcus Alexandre no sentido de se filiar a partidos que disputaram a última eleição, do ponto de vista estritamente do rendimento eleitoral. Algo não está suficientemente explicado nas análises de parte da imprensa e “especialistas” em eleições. Trata-se do fato de que Marcus Alexandre sairia do partido do Presidente da APEX-BRASIL Joge Viana para ir para o PSD do Senador Sérgio Petecão ou o PMDB do ex-prefeito, ex-governador, ex-senador e ex-deputado federal Flaviano Melo, com o presidente do Brasil sendo do Partido dos Trabalhadores.


No último pleito para governador, Jorge Viana, numa campanha de menos de dois meses obteve 27% dos votos, o Senador Sérgio Petecão, numa campanha de 4 anos, obteve 6%, já Flaviano Melo foi derrotado na disputa para deputado federal. Para quem conhece a História política do Acre e seus atores nas últimas décadas, não está autorizado a ver normalidade num movimento desse. 


HIRSCHMAN, Albert. Saída, voz e lealdade: reações ao declínio de firmas, organizações e estados. Tradução: Angela de Assis Melim. São Paulo: Editora Perspectiva S.A., 1973.


PANEBIANCO, Angelo. Modelos de partido: organização e poder nos partidos políticos. São Paulo: Martins Fontes, 2005.


WEBER, M. Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 2015.


*Doutor em Ciência Política


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