As exonerações do outrora “núcleo duro” do governo de Gladson Cameli têm qual sentido? Qual o cálculo jurídico do governador com a decisão? Algum assessor mais apressado orientou o governador a decidir pelas demissões como um gesto para demonstrar que os acusados pela Operação Ptolomeu III não fazem mais parte da administração estadual? É isso?
Se a lógica foi essa, é preciso lembrar ao leitor que esse raciocínio não para em pé. É de uma ingenuidade absurda. Ou alguém em sã consciência imagina que a PF, MPF ou a própria ministra do STJ Nancy Andrighi irão afirmar em um só coro: “Nossa! Que ousada decisão de um homem honesto! Demitiu todos os acusados de peculato, corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de capitais e formação de organização criminosa que estavam em seu governo! Que coragem desse governante!”
Se o raciocínio dos assessores que ampara a decisão de Cameli foi este… do gesto para os órgãos que investigam e julgam, então, na prática, a decisão de Gladson joga os ex-integrantes do governo na fogueira dos culpados. É um raciocínio elementar, lógico.
Soa como as três negativas de Pedro no cantar do galo: “Não o conheço!”. As exonerações sustentariam uma possível fala: “Nem sei quem são, maninha! Invadiram meu governo. Quando eu me vi, estava cercado dessa gente…!” Na prática, a impressão que passa a quem acompanha de fora é de que Gladson abandonou amigos.
Vale lembrar: o ex-secretário de Estado de Fazenda, Rômulo Grandidier; o ex-secretário de Estado de Obras, Cirleudo Alencar; o ex-presidente do Deracre, Petrônio Antunes; o ex- secretário de Estado de Relações Federativas, Ricardo França e o ex-chefe da Casa Militar, Carlos Augusto Negreiros, foram alvos diretos da terceira fase da Operação Ptolomeu.
Conduzida pela Polícia Federal, a operação aponta prática de peculato, corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de capitais e formação de organização criminosa dentro do Governo do Acre. E mais: com envolvimento do próprio governador.
Se o leitor fizer uma projeção da imagem do governo de Gladson Cameli, ao longo desses quatro anos e cinco meses, só vai visualizar duas fotos com mais nitidez: pandemia e Operação Ptolomeu. Não há nada mais. Talvez, alguma coisa na área de danças e sacolejos.
O Acre está nesse imprensado. Nesse governo cuja imagem só conta duas histórias (ou é pandemia, ou é Operação Ptolomeu), onde fica o Acre? Onde fica o acreano? Até mesmo ações que seriam estratégicas, como a formulada pela Secretaria de Estado de Planejamento com assessoramento da Fundação Dom Cabral, se fragilizam em função do componente político. Triste Acre.
Existe alguma pretensão de que ele queira demonstrar à ministra Nancy Andrighi um gesto de distanciamento
A edição do Diário Oficial do Estado desta quarta-feira, 6, traz exonerações tidas até pouco tempo como improváveis. O governador Gladson Cameli resolveu demitir os secretários Romulo Grandidier (Fazenda), Cirleudo Alencar (Obras), Petronio Antunes (Deracre), Ricardo França (Relações Federativas) e o coronel Carlos Augusto Negreiros (Casa Militar). Todos os gestores foram alvos da 3ª fase da Operação Ptolomeu, deflagrada pela Polícia Federal com autorização do Superior Tribunal de Justiça em março.
Eles foram afastados de seus cargos, mas continuaram recebendo seus salários por 90 dias, período que perduraram as medidas cautelares impostas pela ministra Nancy Andrighi, relatora da ação, que podem ser renovadas novamente por mais 180 dias a pedido da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República (Ministério Público Federal). A magistrada deve decidir a qualquer momento pela renovação das cautelares.
Grandidier, Cirleudo, Petronio, França e Negreiros eram tidos no governo como gestores próximo do governador, do “núcleo de confiança”. Nos bastidores, a exoneração destas pessoas seria um sinal claro para PF, MPF e o STJ que os tidos como supostos “operadores” estariam fora da gestão.
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