A falta de manutenção da BR-364 não é a única responsável pelo isolamento do povo do Vale do Juruá. Provavelmente, as obras no Aeroporto Internacional de Cruzeiro do Sul, planejadas pela empresa Vinci Airports (administradora), também o farão. E por uma insensibilidade.
As obras na pista têm um cronograma que não dialoga com a necessidade do povo da região. Fechar para pouso e decolagem das 8h30 às 17 horas é um desrespeito, para dizer o mínimo. Pode ter um sentido em uma região onde haja alternativas para as empresas de táxi-aéreo, mas não para o Aeroporto Internacional de Cruzeiro do Sul.
Caso essa ideia seja concretizada, associada à chegada do verão, cidadãos de Marechal Thaumaturgo, Jordão, Porto Walter ou municípios do Amazonas serão prejudicados. Sobretudo para atendimentos de saúde. No verão, os rios da região ficam praticamente intrafegáveis.
Ninguém contesta a necessidade de que a pista receba melhorias. Mas isso deve ser feito observando o povo; as dificuldades geográficas; as particularidades da nossa região. Tudo na Amazônia requer um manejo diferente. Até mesmo uma simples intervenção de engenharia em uma pista igualmente simples.
A obra é fruto de decisão da empresa Vinci Airports. É ela quem administra os aeroportos de Rio Branco e Cruzeiro do Sul após privatização. A Vinci opera em 52 aeroportos na Ásia, na Europa e em várias regiões da América. Aqui no Brasil está em oito cidades: Manaus, Boa Vista, Rio Branco, Porto Velho, Tabatinga, Tefé, Cruzeiro do Sul e no Aeroporto Internacional de Salvador.
Dos oito aeroportos que administra no país, sete estão na Amazônia. A Vinci, se não aprendeu, vai ter que tomar lições urgentes para tratar com a gente daqui. Porque dos 30 anos de contrato que tem pela frente, a empresa precisa compreender o tempo das coisas
onde a mata e os rios ainda mandam.
Na sessão de ontem (30) da Aleac, o deputado estadual Edvaldo Magalhães (PCdoB), que é da região do Vale do Juruá, exigiu da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa um gesto de cobrança. “Aleac precisa se posicionar no sentido de cobrar da empresa o novo
cronograma da obra e de funcionalidade do aeroporto”, apontou o parlamentar.
O presidente da Casa, deputado Luiz Gonzaga (PSDB), sabe que o colega comunista não exagera quando diz que “manter o aeroporto fechado para pousos e decolagens das 8h30 às 17 horas, cinco dias por semana, por três meses, é inviável”. A decisão para a recuperação da pista, nesses termos, está errada.
A empresa Vinci precisa observar que os parlamentares (e as pequenas empresas aéreas regionais) não brincam quando querem pressionar. E o histórico os favorece. Já houve problema semelhante em Rio Branco durante a administração da Infraero. As próprias empresas de táxi aéreo acionaram a Justiça Federal para que a estatal revisasse a decisão. Na época, o martelo da Justiça determinou que a reforma acontecesse primeiro em uma metade e depois na outra. E assim foi feito.
A sugestão dada na tribuna da Aleac ontem é que a empresa ponha operários para trabalhar das 5 da manhã às 11h30min. E libere a pista o restante do dia. Basta usar o bom senso que se percebe o acerto da proposta.
A Vinci não é nenhuma novata no segmento. Se tiver profissionais que se adéquam às diversas situações que exigem a boa gestão dos negócios, saberá perceber que a proposta está dentro do razoável. Caso a empresa não perceba, saberá obedecer por meio da Justiça. Ouvir antes do aperreio posto é melhor e mais barato.
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