A semana que termina foi recheada de temas que relacionam Economia, Negócios, Política Ambiental, desenvolvimento e crescimento econômico. O Bar do Vaz foi representativo com entrevista do presidente da Acisa, Marcello Moura; do presidente da Federação das Indústrias do Acre, José Adriano; e do secretário de Estado de Indústria e Comércio, Assurbanipal Barbary. Todas as respostas tinham algum cálculo, tamanho o cuidado que as palavras exigem para os negócios.
Nos últimos anos, falar em “desenvolvimento regional” no Acre descamba para três empreendimentos: Acre Aves, Dom Porquito e Peixes da Amazônia. É questão de tempo. Seja em balcão de um boteco ou em um salão de evento grã-fino, se alguém resolve falar de economia regional, lá vem o trio da parceria público-privada- comunitária.
E, claro, o patinho feio do tripé é a Peixes da Amazônia. O mais intrigante em relação a este projeto, especificamente, é o que não se diz dele. Por exemplo: poucas vezes é ouvida a informação sobre o desenho administrativo da Peixes da Amazônia, que é o mesmo da Dom Porquito. O que explica o êxito de um projeto e a derrocada de outro?
Não há uma resposta simples. E nem seria um modesto editorial que traria um manual de gestão de um projeto que só de investimento estatal apresentou R$ 27,3 milhões e mais R$ 12 milhões em debêntures. Sem contar os R$ 15 milhões de um fundo de investimento; R$ 16,35 milhões de sócios privados; R$ 19 milhões do Banco da Amazônia. Um editorial não seria tão enxerido em querer mexer com gente tão graúda.
Mas há alguns nortes que precisam ser apresentados: 1º) houve erros no escopo do projeto, na base do projeto. Com destaque para a parte elétrica. Levar energia elétrica que sustentasse a fábrica de ração, frigorífico e o centro de alevinagem consumiu boa parte do capital de giro do empreendimento; 2º) a base da produção do Acre era praticamente nula, incapaz de abastecer uma gigante com capacidade de produzir 20 mil toneladas por ano de pescado; 3º) o governo não errou sozinho.
É este terceiro tópico que precisa ser melhor explicado. O leitor atento vai observar que o empresariado local aplicou R$ 16,35 milhões no projeto. Quem investe tanto dinheiro em um projeto vai ficar calado sobre os rumos da empresa? Quem destina dinheiro conquistado a duras penas na iniciativa privada local em um projeto como este vai apenas obedecer às decisões oficiais?
Provavelmente, não. Ora, se é provável que as decisões tenham sido compartilhadas, por qual razão o ônus do insucesso só cai nos ombros do Governo do Estado do Acre? Também não há uma resposta simples.
De uma maneira muito genérica, a composição societária da Peixes da Amazônia está descrita quatro parágrafos acima. Mas esse quadro ainda pode mudar. E o presidente da Agência de Promoção das Exportações do Brasil, o ex-governador Jorge Viana, passou a ter um papel estratégico para fortalecer o caminho para uma possível mudança. Estratégico porque ele sabe que o presidente Lula conhece o projeto de cabo a rabo. Já participou até de inaugurações, junto com Evo Morales, Sebastião Viana e toda a turma. E do que a Peixes da Amazônia está precisando hoje? De um investidor com capacidade para aportar de R$ 30 a R$ 35 milhões para garantir o pagamento das dívidas e colocar a engrenagem para funcionar novamente.
Não é pouco dinheiro. Por aqui, não há ninguém com condições. Mas no Planalto Central muita coisa se resolve na base da conversa e do jogo de cintura que o mundo dos negócios exige. É possível mudar. É preciso acreditar. Caso contrário, corremos o risco de cair na armadilha de que só estradas nos salvarão da miséria. As estradas precisam levar a algum lugar. É preciso olhar para o que está à margem das estradas que já existem.