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Uma doce economia a ser estimulada

Por
Valterlucio Campelo

Tive a oportunidade de acompanhar na última quarta-feira, 10/05, o titular da Secretaria de Estado de Agricultura – SEAGRI, o Secretário Luiz Tchê, na abertura de um curso de capacitação de apicultores, atendendo cerca de 40 pessoas, jovens, idosos, mulheres, enfim, trabalhadores de 7 (sete) municípios, interessados em dedicar parte, senão todo o seu tempo à atividade que, pelo que presenciei, tem potencialidade para incrementar sensivelmente a renda rural, especialmente se tratando, como no caso observado, de reservas legais.


Cabe aqui uma rapidíssima digressão para dizer que as abelhas se dividem em dois grupos – Apis e Melíponas, sendo as últimas sem ferrão, como a vulgarmente conhecida como uruçu (Melipona scutellaris). As melíponas produzem menos quantidade de mel, porém, de mais alto valor comercial.


O case observado está sendo executado, com participação da SEAGRI e o apoio generoso e engajado do proprietário da Fazenda Filipinas, localizada no município de Xapuri, em uma área pouco superior a 200 hectares da reserva legal do imóvel. Segundo a responsável técnica pelo projeto, a experiente extensionista, Médica Veterinária, Dr.a Maria Edna Rodrigues Costa, ali já se pode instalar 100 caixas padrão do tipo Langstroth, com a perspectiva de aumento para 300 em mais dois anos e incorporação de novas áreas ao projeto, que contará com um meliponário para trabalhar com os alunos da escola local a educação ambiental. Alguns dados parecem necessários para compreendermos a extensão e viabilidade econômica da atividade. Vejamos:


Segundo o professor responsável pela capacitação, o especialista alagoano Pedro Acioli, contando com as condições técnicas necessárias, é bastante razoável que em cada caixa se produza anualmente cerca de 16-20 kg de mel. Cálculo rápido, sem o rigor técnico que um estudo apurado exige, temos que ao preço médio nacional de 25reais/kg (muito inferior ao local, estimado no dobro) resulta em um valor da ordem de 500 reais/caixa. Não é pouca coisa, se imaginarmos a capacidade de replicação da experiência, tendo em vista o imensurável estoque natural disponível nas propriedades rurais, unidades de conservação etc.


Outro aspecto a ser considerado é a possibilidade de agregação de produtos como sabonetes, shampoos e pomadas, mediante técnicas relativamente simples ao alcance dos produtores, tudo isso sob a cobertura de um valor intrínseco que é a sustentabilidade amazônica. 


Não me dei o trabalho de dimensionar minuciosamente a potencialidade econômica deste produto específico no Acre, mas me parece relevante, posto que meros 200 hectares em floresta preservada, próxima de água, árvores frutíferas e pasto apícola (brachiaria, por exemplo), são suficientes para a instalação de 100 caixas de abelhas, com emprego direto de pelo menos 3 trabalhadores. O mel, o própolis silvestre, amazônico, de reserva legal, assim como seus derivados, possuem etiquetas altamente valiosas em um mercado cada vez mais inclinado a prestigiar a produção florestal.


Fiz, entretanto, um exame rápido da oferta/demanda que nos dá alguns indicativos. A produção mundial de mel de abelha aproxima-se dos 2,0 milhões de toneladas, sendo que a China sozinha responde por 25% do total. O Brasil, segundo o IBGE, produz algo como 56 mil toneladas (2,8%), das quais exportou cerca de 80%, sendo o Rio G. do Sul, Paraná e Piauí os estados de maior produção. O consumo per capita mundial é, segundo a FAO, cerca de 240 gramas, mas o consumo médio europeu passa de 1,0kg per capita/ano (na Turquia se consome em média 1.3kg per capita por ano), enquanto no Brasil consumimos ínfimos 60 gramas per capita/ano. Em síntese, o brasileiro consome apenas 25% da média mundial que também é 25% da média europeia. Tudo isso, sinaliza positivamente para haver uma investida no sentido de expandir a produção para consumo interno e externo, mais ainda se tratando de mel amazônico, orgânico.


Acredito que em meio a muitas tentativas e experimentos, a apicultura no Acre poderá criar, dependendo do apoio e condições específicas, principalmente com aporte de tecnologia, equipamento, cuidados sanitários, padronização, marketing e etc, uma economia de largo alcance, respondendo eficientemente ao estímulo que vem do mercado. Com menos de 20.000 hectares de reserva legal replicando a experiência da Fazenda Filipinas, igualaríamos o Estado de Rondônia que mesmo produzindo pouco (90 toneladas), é o 8.º produtor nacional.


Importa deixar claro que não se trata de eleger esta – a apicultura, ou outra exploração, como eixo central do desenvolvimento socioeconômico do Acre, mas de identificar corretamente em nossa diversidade, itens, produtos, nichos que somem na perspectiva de formação do mix de uma economia que produza efeitos transbordantes para setores rurais economicamente deprimidos. 



Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no site ac24horas e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do Percival Puggina e outros sites.  


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