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Como o dinheiro chinês que constrói o Porto de Chancay, no Peru, pode favorecer o Acre?

Por
Thais Farias

Até o início da última semana, o estado do Acre pouco ou quase nada falava sobre a construção do megaporto de Chancay, distante 80 km de Lima, capital do Peru. Uma obra grandiosa que está em andamento há cerca de quatro anos quase foi esquecida pelo governo e empresários acreanos, mesmo com grande potencial para favorecer e elevar a uma nova realidade a economia local.


Agora, na reta final da construção, prevista para ser concluída em 2024, uma comitiva composta por membros do governo acreano e empresários esteve mobilizada no país vizinho para conhecer a megaestrutura e tudo que ela tem a oferecer em termos de exportação, importação e, de quebra, turismo.



A descoberta de uma nova e moderna promessa de negócios surpreendeu aqueles que desconheciam, até então, o propósito do Porto de Chancay: ser internacional, multipropósito e aliviar o Porto de Callao, que já está saturado. O Porto de Chancay promete ser revolucionário, unindo o comércio à rota marítima entre a Ásia e a América do Sul, reduzindo o tempo e custo de transportes. Há, ainda, indicativos de abertura de rota de cruzeiros ancorando em Chancay e partindo para o Havaí (EUA).


Mesmo indiretamente, o Acre pode ter a oportunidade de atingir um novo grau de relevância ao governo brasileiro tendo a possibilidade de se tornar um corredor de passagem para futuras exportações, importações e caminho para o turismo estrangeiro.


Isso porque a construção do porto é a nova aposta de progresso entre os empresários e indústrias acreanas que miram na rota interoceânica Brasil-Peru com objetivo de sucesso. Dessa forma, é imprescindível que as empresas locais estejam com os horizontes também voltados para o porto a fim de fortalecer esse vínculo comercial e fazer o Acre virar de fato um ponto estratégico de entrada e saída de bens e insumos para os demais estados brasileiros.


Com o novo porto, o Acre pode ter um corte de custo significativo no valor dos fretes, bem menor que o deslocamento até o Porto de Santos, em São Paulo. Além disso, facilita o envio direto e agiliza o envio de produtos sul-americanos aos países da Ásia e Oceania e incentiva o comércio com os países das Américas pela costa do Pacífico.


O presidente da Associação Comercial, Industrial, de Serviço e Agrícola do Acre (Acisa), Marcelo Moura, afirmou que a partir desta semana dará início com um grupo de empresários acreanos às conversas para a criação de uma empresa local que atue entre o Brasil e o Peru.


A saída do Brasil para o Pacífico, através do Acre a partir de acordos com o Peru, é uma estratégia de integração econômica da região que já tem sido discutida há muitos anos. Rita Freire escreveu para a Federação Nacional dos Engenheiros que as relações comerciais dos países costeiros da Américas com o outro lado do Pacífico vêm sendo discutidas há bastante tempo, levando à proposta de Parceria Transpacífica, inconclusa até a saída dos Estados Unidos, em 2018, quando o governo Trump, sem sucesso na tentativa de impor restrições excessivas no capítulo da propriedade intelectual e outras barreiras agrícolas, decidiu romper com o tratado em construção.



O artigo de Rita menciona que os demais 11 países envolvidos retomaram a proposta, eliminando de uma vez, não apenas a necessidade de participação dos EUA, mas também o item da propriedade intelectual do acordo e relativizando outros itens exigidos pelos estadunidenses. “Desde março de 2018, iniciaram o processo de submissão do tratado, renomeado agora como Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífico (CPTPP), à apreciação e aprovação em seus países, o que ainda está em curso”, diz o texto.


A parceria reúne Canadá, Chile, Austrália, Brunei, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Cingapura e Vietnã, que representam juntos 13,5% da economia global e um mercado de 500 milhões de pessoas, um emergente bloco econômico maior do que a União Europeia (UE). Por isso, a jornalista destaca que o porto de Chancay tem seu peso na disputa geopolítica e de guerra tecnológica entre Estados Unidos e China. Nesse caso, pendendo mais para os chineses.


O economista Orlando Sabino, também colunista do ac24horas, trouxe à tona na última quinta-feira (11) que somente 8,7% do valor exportado pelo Acre e 1,7% do valor importado no primeiro quadrimestre de 2023 foram realizados pela Rodovia Interoceânica (via Assis Brasil) e que a cada ano há queda no valor das exportações utilizando as alfândegas do Acre: 2014 (75,8%), 2020 (33,1%), 2021 (24,6%), 2022 (23,2%) e agora, nos primeiros quatro meses do ano, 10,3%.



O motivo, segundo Sabino, é que as exportações de soja, milho, madeira e carne bovina não utilizam a rodovia. Somente a castanha e agora a carne e derivados de suínos são exportados por ela. “Ainda não conseguimos concretizar o sonho de utilização dos portos peruanos. Portanto, é louvável a iniciativa da delegação acreana em mais uma tentativa de tornar real a plena utilização da interoceânica”, argumentou.


Enquanto isso, cerca de 30 empresários acreanos buscam acordos com entidades e representantes do país vizinho para a prospecção de negócios para o Estado. Eles acreditam que a região pode entrar na rota comercial entre a China e a América do Sul. Para o presidente da Acisa, o Acre está bem posicionado geograficamente, sendo esta uma oportunidade gigantesca para o seu crescimento.


“Eu estou surpreendido com todo o planejamento que foi feito da China para escoar seus produtos para a América do Sul e para receber a proteína animal e vegetal deste continente. Não tem como o Acre não participar disso. É pensar em transformar Rio Branco em Manaus, por exemplo”, declarou.


Para Marcelo, é preciso agora o apoio do governo estadual e federal para que o Acre se torne uma porta de entrada desta iniciativa. “O Acre pode sim ser uma grande porta de entrada das matérias-primas e de saída da nossa produção agrícola, principalmente. Mas nós temos um grande trabalho, em preparar o Estado juridicamente para ele poder receber todo esse volume de mercadoria. E eu tenho certeza que se a gente trabalhar bem com a nossa bancada federal, gestão comercial, Apex e governo estadual e federal, o nosso Acre vai crescer e se desenvolver muito”, apontou.


O gerente-geral do projeto do porto, Carlos Tejada, garantiu que a obra será concluída no segundo semestre de 2024. A construção é realizada por meio de uma parceria entre a empresa chinesa Cosco Shipping e a Volcan, empresa peruana. Cerca de 1.500 pessoas trabalham diariamente na construção, que tem a previsão de movimentar mais de U$ 300 milhões. Para isso, o governo do Peru e a empresa chinesa Cosco Shipping Ports Limited assinaram um acordo que prevê a construção de um porto, envolvendo investimentos de US$ 3,2 bilhões.


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Thais Farias

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