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No Dia do Índio, povos do Acre vivem ascensão enquanto resgatam e preservam cultura

Por
Sandra Assunção

Índios da da etnia Nukini – Foto: Marcos Vicentti


Os indígenas brasileiros têm uma nova realidade neste Dia do Índio, 19 de abril, de 2023. Pela primeira vez na história do país, duas mulheres indígenas ocupam os cargos mais importantes da República relacionados a políticas públicas dos povos originários. Sônia Gujajara é a Ministra dos Povos Originários e a advogada Joenia Wapichana presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).


Francisca Arara, do povo Shawãdawa do município de Porto Walter, interior do Acre, é a assessora especial indígena do governo do Acre desde janeiro. Ela é licenciada em pedagogia em ciências da natureza pela Universidade Federal do Acre (Ufac), no Campus Floresta, em Cruzeiro do Sul. “Me orgulho de ser uma mulher indígena do povo Arara e estar nesta função. O objetivo da retomada da assessoria indígena ligada ao gabinete de governo é reorganizar a pauta indígena do Acre”, destaca.


“Os povos indígenas têm Plano de Gestão de suas terras para garantir a preservação. Temos 204 Aldeias e estamos em 14% do território acreano e temos mais de 2 milhões de hectares de terras intactas. Temos muito a contribuir com a política de serviços ambientais e de mudanças climáticas e com a preservação”, pontua Francisca, lembrando que em julho vai realizar o 1° Fórum dos Povos Indígenas, que contará com 150 lideranças.


Quantos e onde estão

No Acre, há cerca de 23 mil indígenas de 15 povos vivendo em 35 Terras Indígenas, sendo 24 regularizadas. Há grupos de índios isolados, ainda não identificados, e um grupo de recente contato.


O Vale do Juruá é a região que concentra a maior parte das Terras Indígenas do Acre, somando 29 TIs. A maior parte dos originários vive nos 5 municípios do Vale do Juruá Marechal Thaumaturgo, Porto Walter, Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves e Mâncio Lima, além de Feijó, Jordão e Tarauacá.


Índios da etnia Puyanawa- Foto: Marcos Vicentti

Agora, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE realiza uma nova contagem dos povos originários no Estado. Os dados do Acre ainda não foram divulgados, mas números preliminares registram um aumento da população indígena no Estado.


Fazendo a diferença

No Acre há indígenas que fazem a diferença para seu povo atuando na área de saúde, como professores, agentes agroflorestais e em outras áreas. Neste 19 de abril, o ac24horas conta a história de 3 indígenas, que buscam garantir melhoria na qualidade de vida de índios e não indígenas.



A médica Aline Moura Diniz, formada em Cuba, de 34 anos, é do povo Nawa do Rio Môa. Quando voltou para o Acre formada, conseguiu o Revalida e foi atender seu próprio povo Nawa, além dos Nukini e dos Puyanawa. “Foi uma emoção muito grande porque saí de uma forma e voltei apresentando resultado, cuidando da saúde do meu povo e de outros indígenas. As meninas se inspiram em mim e quero que surjam muitas médicas indígenas que voltem para entregar resultado”, enfatiza. Mesmo grávida, segue atuando na saúde indígena, além da UPA. Muitas vezes trabalha ainda com pintura e adereços indígenas.


“Eu nunca sofri preconceito quando vou trabalhar pintada, mas alguns se assustam quando abrem a porta e me veem assim. Já quando estou pintada e atendo na aldeia, sinto que eles me consideram realmente da família. Se sentem representados e acolhidos por um igual”, conta ela que foi aprovada em Concurso Público da Sesacre e agora é funcionária efetiva do Estado do Acre.



Estudando sempre em escolas públicas, Samea Puyanawa do Nascimento, da Aldeia Barão de Mâncio Lima, passou em um vestibular para cursar psicologia na UNB em Brasília. Mas no Acre, alcançou boa nota no Exame Nacional do Ensino Médio- Enem e por meio do Prouni conseguiu uma bolsa integral em faculdade particular de Cruzeiro do Sul com 17 anos. Se formou em fisioterapia em 2022 e trabalha atualmente em uma clínica particular, além de atender a domicílio também. Agora espera um Concurso ou alguma outra oportunidade de atender seu próprio povo de forma mais efetiva. “Atendo sim os indígenas de minha e outras etnias, mas estou esperando uma oportunidade de contratação, por meio de Concurso para poder atender mais, ampliar”, pontua, destacando que atualmente cerca de 15 jovens indígenas da Aldeia Barão estão cursando faculdade. “A educação é um caminho para que jovens indígenas possam percorrer para ajudar seu povo e a sociedade. Meu conselho é que todos estudem, se esforcem muito, porque todo esforço vai valer a pena. Os jovens que fazem faculdade e estudam em Cruzeiro do Sul vêm todo dia, toda noite mesmo pela estrada com as dificuldades. E surgem as oportunidades diferentes do que era antes, a gente vê as coisas mudando e se desenvolvendo”, ressalta.


Jósimo também é da etnia Puyanawa da Aldeia Barão de Mâncio Lima. Cedo percebeu que a Educação seria o caminho para mudar a vida dele e dos parentes. O resgate da tradição é prioridade nessa caminhada que já subiu vários degraus e o próximo será um pós-doutorado.


Ele estudou em escolas públicas de Cruzeiro do Sul e viu o esforço do pai para se formar em pedagogia na Ufac. Depois, a família voltou para a Terra Indígena e o pai foi dar aulas. Jósimo também foi professor na aldeia até que foi para a Universidade de Brasília- UNB, onde se formou em antropologia Sociologia e fez mestrado em Direitos Humanos. “Na capital, a vida não foi nada fácil e precisei superar as dificuldades financeiras, psicológicas e a própria pedagogia da universidade, mas obtive uma ótima formação. Participei de Programas de Iniciação Científica, estágio na Funai e extensões. Em 2018, fui para o doutorado no Museu Nacional/UFRJ, onde estou produzindo um estudo etnográfico com foco na língua Puyanawa”, relata.



O bom desempenho de Jósimo o levou para os Estados Unidos em 2019, onde ele se aprimorou ainda mais como bolsista Fulbright na University of Arkansas. Enquanto espera ser chamado para a UFAC, Jósimo é professor em uma universidade particular em Cruzeiro do Sul e começou uma especialização em Ciências da Religião pela Ufac. E faz o que considera de extrema importância: resgatar e preservar a cultura de seu povo.


“A educação tem transformado a minha vida e atualmente, na comunidade, junto aos velhos, venho desenvolvendo um trabalho para resgatar e preservar a memória Puyanawa”, explica ele, que já pensa no Pós-doutorado com contatos no instituto Edgar Mohin, na França e outras nos Estados Unidos.


Como antropólogo, Jósimo aborda um tema polêmico, que ele chama de romantização do Etnoturismo. Para ele, as constantes visitas de turistas brasileiros e estrangeiros nas Terras Indígenas deveriam produzir mais resultados práticos para os povos indígenas. “Vejo um movimento muito grande, muita procura pelas aldeias do Acre, mas que isso não seja pautado só no turismo espiritual, do rapé e da ayahuasca, mas que gere algum resultado para os jovens. Isso serve para as lideranças indígenas também, que se preocupem mais com esse aspecto e procurem garantir benefícios coletivos”, questiona.


O Txai: “Um tempo de esperança”

O indigenista Luis Antônio Batista de Macêdo, o Txai Mâcedo, sertanista da Funai desde a década de 80, acompanhou os tempos “sem direitos dos indígenas” e diz que ainda há vários problemas a serem resolvidos, mas reconhece que os povos originários vivem um novo momento.



“É um momento de conquistas de espaços importantes em Brasília e no Acre. No Acre, é um momento forte de esperança, de avanço na efetivação dos direitos territoriais e de cidadania dos povos indígenas. Há o reconhecimento dos não índios aos índios, que estão orgulhosos e felizes”, conclui o Txai.


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Sandra Assunção

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