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Dinheiro público é coisa séria

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Roberto Feres

Aprendi nesses quase 40 anos trabalhando no serviço público que é muito mais fácil comprar um equipamento ou construir um prédio que por essas coisas para funcionar.


Sobre isso, lembro sempre de uma professora que dizia que o mais barato é o hardware. O software e o peopleware custam dezenas ou até centenas de vezes mais.


A compra de um equipamento ou a construção de um prédio são tratados no orçamento público como Investimento e isso é considerado um “gasto bom” dos recursos nos indicadores econômicos. Já a manutenção de uma atividade implica em despesas de Custeio, sempre mal vistas pelos analistas da saúde financeira de um ente governamental.


Dito isso, toda vez que me contam que mais veículos serão adquiridos ou que um novo serviço será criado, costumo perguntar de onde sairá o dinheiro para mais combustível, manutenção, pessoas para operar e uma série de outros gastos que vêm junto com qualquer coisa nova. Mais ou menos o que trata uma tal lei sobre Responsabilidade Fiscal.


Lembro sempre que o dinheiro público é como um cobertor curto: quando você cobre a orelha, descobre os pés. Por isso vemos tantas boas ideias abandonadas pelo meio do caminho, sucateando equipamentos caros que nunca foram utilizados. Os exemplos são muitos e, volta e meia, aparecem como escândalos no noticiário.


Assim, é enorme a responsabilidade do gestor de um órgão quando resolve oferecer novos serviços que demandem por investimentos elevados. Não basta garantir o dinheiro da obra. Tem que viabilizar os meios para que ela funcione bem e cumpra eficientemente sua finalidade.


Sobre isso, nos últimos dias venho acompanhando as notícias de que a UFAC reivindica a construção de um hospital universitário. Como uma ideia como essa pode ser ruim? Permitir que a população do Acre tenha mais opções para tratamento de doenças, assistida por uma equipe médica composta pelos profissionais que são os mais atualizados tecnicamente, com programas de Residência Médica e onde os estudantes (de


Medicina, Enfermagem, Nutrição, Psicologia…) se formem com muito melhor qualidade são argumentos irrefutáveis.


Daí que vem o chato aqui e pergunta: além dos 250 milhões para pôr o prédio em pé vocês já pensaram como vão fazer para pagar a conta do funcionamento? Mal resolvida essa questão, o final das contas é virar mais um elefante branco se deteriorando com o tempo.


Felizmente, conversando com as pessoas certas e que estão à frente do projeto, descobri que gozam da mesma minha preocupação. Também são avessas às aventuras. Sabem o quanto custa um hospital funcionando e têm a solução para que a gestão da nova unidade se incorpore facilmente ao financiamento pelo Sistema Único de Saúde e não dependa do ralo orçamento da UFAC.


A proposta que corre hoje é de integrar a unidade à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, vinculada ao Ministério da Educação – EBSERH/MEC que administra com profissionalismo algumas dezenas de outros hospitais federais pelo país, racionalizando os custos e permitindo uma série de outras vantagens, tanto de custeio como de integração às atividades acadêmicas.


Boas ideias devem ser boas por completo. Ao menos essa parece ser.


Da minha parte, continuarei fazendo meu papel de chato e cobrando (na medida da minha insignificância) que os impostos que pago, e que não são poucos, sejam gastos com responsabilidade para que retornem sempre em serviços de qualidade pelo Estado e não em prédios sem uso ou equipamento inoperantes.



Roberto Feres é Engenheiro Civil e mestre em Engenharia Urbana.


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