Moradores do bairro da Base, à margem do Rio Acre, em Rio Branco, estão passando boa parte do tempo em comunhão na beira de ruas alagadas.
O bairro da Base foi um dos primeiros pontos de ocupação da capital e é tradicionalmente o ponto de soltura dos fogos da virada do ano, bem como a casa do bloco de carnaval Sambase. Na tarde de ontem, segunda-feira, o Rio Acre media 16,80m, a maior parte das ruas do bairro estavam alagadas, mas o bairro continuava agitado. É que a alagação faz parte da cultura bairrista do local.
Sônia Maria, de 69 anos, mora há 63 na mesma casa. Ela atendeu a reportagem sentada em frente sua residência, com bota 7 léguas e água no meio da canela, na rua Floriano Peixoto. Por causa das alagações, o filho chegou a construir uma casa no 2° Distrito da cidade, mas Sônia não aceitou. “Não teve quem me tirasse daqui, tudo é perto, todos se conhecem”, justificou.
“Estamos acostumados a passar por alagação. Quando o poder público chega aqui, a maioria dos moradores já têm se articulado e se ajudado, e o bairro da Base é isso, festeiro, movimentado, e tentamos passar por isso com a maior autoestima e esperança possível”, disse a empresária Izabel Dantas. Ela é uma das 10 pessoas que, ao som do samba, comentam os mais diversos acontecimentos recentes na parcial alagada Rua do Estado do Acre. Não faltava cerveja, cachaça, conversa boa.
Hallen Melo, também morador da Base, explicou o motivo dos moradores do bairro continuarem lá, mesmo passando por momentos difíceis: “a gente sempre passa esse aperreio, mas sair daqui não é simples. Muita gente não tem condições, e é um bairro cativante. Aqui estamos alagados, mas estamos numa roda conversando, preocupados, mas brincando, vigiando nossos bens”, diz.
Segundo projeções do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), o nível do Rio Acre provavelmente atingirá a cota de 17,02 metros às 12 horas desta terça-feira, 28 de março de 2023.
Dados da Defesa Civil apontam que cerca de 38 mil moradores estão atingidos de alguma maneira pela enchente do Rio Acre na capital acreana. As pessoas desabrigadas são aproximadamente 1,9 mil pessoas e as desalojadas devem superar as 4 mil, segundo dados da Defesa Civil.