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Sem ciência, tecnologia e inovação, o Acre seguirá no empreguismo de sempre

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Irailton Lima

O desenvolvimento de um estado distante dos grandes centros econômicos do país, com um histórico de fragilidade institucional e escassez de empreendedores reais, daqueles desapegados de privilégios advindos do setor público e dos acordos políticos, é um desafio monumental.  Mais ainda se pensarmos na necessidade da adoção de modelos econômicos que não recorram pura e simplesmente à pilhagem dos recursos naturais – saída comum a regiões que voltaram à absoluta pobreza após o exaurimento da natureza. 


A experiência recente do Acre prova isso. Desde o fim do ciclo do extrativismo e após o desvario da política de atração de especuladores imobiliários, que compraram imensas propriedades e, posteriormente, expulsaram as famílias de seringueiros para transformar seringais em fazendas, na fase de intensiva implantação da pecuária, passando pelo breve período de estruturação da agricultura familiar, na gestão do governador Geraldo Mesquita, quando foram criadas organizações públicas importantes, como COLONACRE, CAGEACRE, EMATER e CILA, além da CODISACRE para o setor da indústria, o Acre patina entre grupos políticos mais interessados em manter o poder usando a estrutura de governo como cabide de emprego que em promover desenvolvimento econômico por meio de soluções criativas e duradouras.


O ciclo da Frente Popular, em parte dele, foi um sopro de realismo frente a tanto desvario e descaminho. A tentativa de estruturação de uma infraestrutura produtiva baseada em recursos florestais, principalmente o manejo da madeira, e assentada na pequena produção familiar, foi solapada pela força avassaladora da crise financeira de 2008, que praticamente fechou o mercado mundial de madeira, e pela concorrência desleal de Rondônia e do sul do Pará, de onde vem saindo madeira “esquentada” retirada de áreas públicas e terras indígenas há várias décadas. A demora na implementação dos mecanismos de remuneração por serviços ambientais previstos no Protocolo de Quioto e, mais recentemente, no Acordo de Paris, é outra razão pela qual a proposta da Frente Popular ficou pelo caminho.  


Ainda assim, dessa experiência resultaram alguns empreendimentos que hoje respondem por boa parte da pauta de exportações e da produção industrial acreana, como a COOPERACRE, a ACRELOG, a Dom Porquito e a Acreaves. 


No cenário atual, de profundas transformações na economia mundial, mais que recursos naturais, capital financeiro e instituições fortes, o que realmente amplia as possibilidades de sucesso de uma região é a capacidade de produzir conhecimento aplicado, gerado por meio de fortes investimentos em ciência e tecnologia, que se traduzam em inovações tecnológicas a serem espalhadas pelas atividades econômicas, gerando produtos de alto valor agregado e com forte potencial de geração de empregos. No caso do Acre, a posição geográfica e o fato de ser parte da amazônia condicionam fortemente as opções. De um lado, precisamos ter clareza que as melhores oportunidades econômicas estão na direção do Peru e do Pacífico, e não de São Paulo. Segundo, que jamais teremos sucesso se nossas elites seguirem na decisão de ignorar o que dizem os mercados mundiais sobre a inviabilidade de atividades econômicas destruidoras de florestas primárias ricas em biodiversidade e fortes produtoras de serviços ambientais, como a floresta amazônica que recobre ainda perto de 85% do nosso território. 


Em recente artigo publicado aqui no ac24horas, o ex-deputado Ronald Polanco e o pesquisador Rafael Galdini mostraram o caminho. Com base no diagnóstico produzido pelo CEDEPLAR, em um amplo estudo financiado pelo Governo do Estado, Assembleia Legislativa e TCE, Polanco e Galdini defendem a proposta de estruturação de uma forte política de ciência e tecnologia, voltada para a geração de inovações capazes de alavancar produtos da bioeconomia amazônica com alto potencial de mercado. O artigo aponta intenções e direções. Mostra que é preciso criar um ecossistema de inovação baseado no que já vem sendo feito, integrando esforços e ampliando parcerias com instituições nacionais e internacionais. Alerta, porém, que algo assim só terá sucesso se for encampado pelo poder público, no caso, o Governo do Estado. Uma abordagem que faz muito sentido. 


O chamamento à mobilização de estudiosos e pesquisadores foi lançado. O debate sobre os caminhos do desenvolvimento, mais uma vez, está aberto. Que sejamos capazes de aproveitar as “janelas de oportunidades” que momentos como esse representam. O que não dá é para seguirmos na disputa entre grupos políticos que apenas usam o estado para acumular poder e privilégios, às custas do recurso público que deveria ser empregado no bem-estar do povo e na preservação da natureza rica e diversa que Deus nos legou cuidar.    


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