Os dias já não são mais os mesmos na velha e pitoresca Tarauacá. Localizada a 400 quilômetros de Rio Branco pela sofrível BR-364, a cidade é conhecida, entre outros dotes, por produzir o maior abacaxi do Acre – quiçá do mundo.
O fruto superdesenvolvido segue sendo produzido e apreciado, mas são contextos mais recentes que têm colocado a localidade que se situa na foz do rio que lhe dá nome com outro chamado Muru como destaque em alguns noticiários.
Recentemente, uma blitz de trânsito na cidade cujo alvo eram ciclistas chamou a atenção e ganhou tom humorístico na internet, apesar de a ação ser séria e pertinente, por se tratar de medida educativa para os adeptos dos veículos de duas rodas movidos por tração humana.
Sem um dado oficial à mão, tem sido dito que Tarauacá possui a maior frota de bicicletas do Acre, o que justifica, apenas por isso, a preocupação do poder público com o comportamento dos condutores desses veículos em meio aos chamados automotores.
Também há poucos dias uma apreensão nada comum, mas também justificável, ganhou comentários controversos nas redes sociais quando caiu nas páginas noticiosas. Não era droga, nem produto contrabandeado. Era carvão vegetal em sacas sem origem – crime ambiental.
Mas também no campo político-administrativo tem ocorrido muita coisa incomum em Tarauacá – algumas nem tanto assim justificáveis, segundo o Ministério Público. Diz-se por lá que a atual prefeita, Maria Lucinéia, que é dada a vaticínios, afirma já ter recebido a visita de Jesus Cristo em sua casa.
Em 2014, ela previu que o marido, Jesus, que não é o Cristo, seria eleito deputado estadual, o que se confirmou, chegando ele, depois disso, à Câmara Federal. Maria Lucinéia também previu que seria prefeita. Bingo.
Passado isso, aparenta que os poderes milagrosos de ‘Néia’ se exauriram como em um passe de mágica. Ela não previu a derrota do marido na tentativa de reeleição para deputado federal e que logo o mundo desabaria sobre a cidade em uma enxurrada de denúncias do MP contra a sua administração.
Entre as investidas do órgão fiscalizador, investiga-se nepotismo cruzado, fraude em licitações e farra de diárias – muito disso numa relação muito íntima com os vereadores da cidade em esquema de aprovação de leis de interesse mútuo que chegou a ser batizado de “pacote de bondades”.
Com ou sem previsões e aparições, a acreaníssima Tarauacá segue seu curso, assim como os rios que a banham, de maneira lenta e tranquila, mas também passível dos repiquetes. Em tempo: além do celebrado abacaxi gigante, a cidade também tem a fama de ser o recanto das mulheres mais bonitas do Acre.
