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Saúde do Acre já realizou mais de 300 cirurgias bariátricas; saiba como acessar o serviço

Por
Leônidas Badaró

A obesidade é considerada uma doença crônica e uma das maiores dores de cabeça das autoridades em saúde, já que o excesso de peso é responsável pelo surgimento e agravamento de várias comorbidades, como hipertensão, diabetes, gordura no fígado, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral, por exemplo.


 


No Brasil, de acordo com relatório Vigitel 2021, realizado pelo Ministério da Saúde, a população com sobrepeso é de 57,25%, e o índice de obesidade ficou em 22,35%. No Acre, a situação é ainda mais preocupante, pois o número de pessoas com excesso de peso no estado é maior que a média nacional e chega a 59,87%. Já na capital, o número é assustador, quase 70% (68,32%) pesa a mais do que deveria. Entre os que estão obesos, o Acre também tem números maiores do que o restante do Brasil com índice de 24,54%. Em Rio Branco, mais uma vez, o quantitativo é ainda maior, sendo que quase cerca de um terço da população (32,84%) é obesa.


 


O combate á obesidade é uma política pública da saúde brasileira. Dieta, uso de remédios indicados pelos médicos e exercícios físicos são os mais comuns e os mais recomendados métodos para quem quer perder, de forma saudável, os quilos a mais.


 


No entanto, uma solução considerada extrema tem sido popularizada ao longo dos últimos anos: a cirurgia bariátrica.


 


Chamada tecnicamente de Gastroplastia, a bariátrica é um procedimento cirúrgico para a redução do estômago e é considerado extremo por ser indicado apenas para pacientes obesos e a última alternativa para se conseguir perder peso.


 


Apesar de ter se popularizado nos últimos anos, a cirurgia ainda é cercada de mitos e de muita desinformação.


 


Médico Romeu Delilo

Quem pode fazer

 


A reportagem do ac24horas conversou com o médico cirurgião Romeu Delilo Júnior, que em 8 anos operou mais de 400 pacientes somente no estado do Acre. O experiente profissional conta que a bariátrica é uma das últimas opções para tratar a obesidade. “Quando um paciente obeso não consegue perder peso, a cirurgia é uma forma de tratamento. A bariátrica hoje é indicada para pacientes com grau 2 de obesidade com comorbidades e pacientes com obesidade grau 3″, afirma.


 


A cirurgia bariátrica é recomendada para indivíduos obesos com Índice de Massa Corporal (IMC) a partir de 40. A fórmula é simples, basta dividir o peso pela altura ao quadrado. Com o IMC a partir de 40, o paciente já é indicado para a cirurgia. Nos casos de IMC entre 35 e 39, o paciente precisa apresentar pelo menos duas comorbidades para ter a indicação do procedimento.


 


Os mitos da bariátrica

 


Com a popularização da bariátrica, surgiram diversos mitos que envolvem o procedimento. O principal deles é o de que a cirurgia por si só vai resolver todos os problemas relacionados à obesidade. Romeu Delilo explica que a bariátrica não faz milagres. “Tudo parte do princípio de que a cirurgia bariátrica não é milagrosa e sim uma forma de tratamento. Eu sempre digo aos meus pacientes que nós não vamos curar a obesidade, já que ela é uma doença crônica e progressiva. O que vamos fazer é tratar da mesma forma que a pessoa usou medicamento, a dieta da sopa, da lua, da água, ela vai fazer um tratamento, porém cirúrgico”, explica.


 


A intenção é mostrar que o tratamento da obesidade por meio da cirurgia bariátrica depende muito do paciente depois.


 


“Ele vai perder peso naturalmente, já que vai ter o estômago reduzido, vai ter o trânsito intestinal modificado e vai perder 40 a 45% do peso inicial no período de um ano a um ano e meio. É importante lembrar que não há perda de peso da noite para o dia. Vale colocar na cabeça do paciente que vai depender muito dele no pós-operatório. Vai precisar ter uma dieta balanceada, saudável, praticar exercício físico para ter sucesso tanto na perda quanto na manutenção, que é a parte mais difícil”, explica.


 


Um outro fator importante alertado pelos médicos é que cada organismo reage diferente após passar por um procedimento cirúrgico. “A gente costuma dizer que a cirurgia é organismo dependente, vai reagir de acordo com cada paciente. Só que a maioria, em torno de 70% vai ter uma mudança de vida muito grande. É uma melhora na auto estima impressionante. Lógico que vai ter paciente que vai ter mais dificuldade para perder peso, tem paciente que vai sentir mais desconforto, tem alguns que vão sentir mais dor no pós-operatório e tem paciente que nem acredita que fez a cirurgia porque não sente simplesmente nada”, diz Delilo.


 


Atualmente, o procedimento mais comum utilizado é o método de bypass: nesse método o estômago é reduzido com cortes ou grampos e é feita uma alteração no intestino para reconectá-lo à parte do estômago que irá permanecer funcional. O procedimento é feito por laparoscopia, que é um tipo de procedimento cirúrgico em que o médico observa os órgãos internos por meio de pequenos cortes e da inserção de uma ótica conectada a uma câmera, que processa as imagens de todo o abdômen.


 


“O que me motivou não foi a parte estética, mas foi por saúde, eu tinha muito medo de morrer”, diz paciente


 


Danielle Maia tem 34 anos e fez a cirurgia há cerca de 5 meses. Ela conta que a obesidade é uma doença de família e diz que relutou muito em fazer o procedimento. “Há 15 anos atrás um primo fez a bariátrica fora do Acre porque aqui não fazia. A experiência foi muito ruim porque era ainda uma cirurgia de barriga aberta e ele passou um bom tempo na UTI. Minha família ficou tão traumatizada que quando a minha mãe decidiu fazer, escondeu de todo mundo e só contou tipo faltando um dia para acontecer”, conta Danielle.


 


Ela fala ainda que só decidiu pela bariátrica porque tinha muito medo de morrer. “Eu mesmo tendo muito medo de qualquer procedimento hospitalar, eu decidi fazer pela minha saúde. Eu tinha muitos problemas como diabetes, pressão alta e eu ia no cardiologista duas vezes por mês e mesmo tomando remédios muito fortes não resolvia. Minha saúde estava totalmente debilitada”, conta Danielle.


 


Hoje, com 28 quilos a menos, Dani, como é chamada pelos amigos, comemora os resultados. “Se eu soubesse que o resultado seria tão bom, eu teria feito 3 anos atrás quando a minha mãe tentou me convencer. Eu quero perder ainda mais peso. Eu tive dificuldades, claro, tive entalo e vômitos, tenho que compensar as vitaminas, mas acredito que tive muito mais benefícios. Não sai completamente do jeito que a gente quer, tem flacidez, mas hoje eu entendi que estou em um processo de emagrecimento. Estou muito feliz. Hoje, eu como de tudo, mas em quantidade pequena”, conta.


 


Radialista que perdeu quase 70 quilos comemora a nova vida


O radialista Dell Oliveira, 44, completa no próximo mês de março 3 anos que fez a cirurgia bariátrica. A perda de peso impressiona. Basta olhar para as fotos de antes e depois para se ter uma ideia da redução corporal. Dell perdeu 69 quilos desde que se submeteu ao procedimento.


 


“O que me levou a fazer a bariátrica foram as comorbidades que começaram a aparecer. Quando fiquei com pressão alta e pré-diabético resolvi fazer a cirurgia. O grande problema é que a nossa cabeça continua “gorda”. Por isso, é importante o acompanhamento do pós-bariátrico para que a gente aprenda a lidar com os limites que são impostos. Para mim foi uma decisão muito boa, hoje não faço mais uso de nenhum medicamento, apenas de vitaminas”, explica.


 


Dell conta que apesar de muito feliz, teve problemas após a cirurgia. “O problema que eu tive foi em relação ao álcool. Como sempre gostei de tomar minha cervejinha, consegui perceber que é preciso atenção redobrada, já que se você tomar álcool em excesso pode trazer malefícios. Quem me pergunta, eu digo que foi a melhor decisão da minha vida, mas é preciso um acompanhamento muito sério antes porque ela provoca uma mudança radical nas nossas vidas”, sintetiza.


 


“As vezes bate a dúvida quando como alguma coisa e faz mal”, diz Alice

 


Alice Holsbach, 53 anos, completou na última sexta-feira, 20, quatro meses que fez o procedimento. Apesar de afirmar que não se arrepende, Alice é o tipo de paciente que apresenta mais dificuldades no pós-operatório.


 


“Eu não me arrependo, mas às vezes bate a dúvida quando eu como alguma coisa que me faz mal. A gente se limita a tudo, come muito pouco, muita coisa o seu estômago não aceita mais e você não tem mais vontade de comer”, diz.


 


Alice conta que não sente mais fome. “A gente não sente fome, come porque sabe que é importante se alimentar. Se eu comer uma colherada a mais do que o estômago permite me sinto mal, sinto mal estar, tontura e os primeiros dias são bem difíceis”.


 


Apesar dos desconfortos, Alice já perdeu 20 quilos.


 


Cirurgia é feita pelo SUS ou de forma particular


Como a obesidade é um considerado um problema de saúde pública, a cirurgia bariátrica é fornecida pelo Sistema Único de Saúde e há vários anos é realizada no Hospital das Clínicas que faz parte da Fundação Hospital do Acre.


 


O primeiro procedimento foi realizado em 2008. Até hoje, já foram realizadas 320 cirurgias bariátricas na unidade de saúde. Em 2022 foi o ano em que mais procedimentos foram realizados, totalizando 73 cirurgias de janeiro a dezembro.


 


Apesar do procedimento ser gratuito, existem critérios para conseguir ser contemplado, como explica Alysson Morais, coordenador do Programa de Obesidade da Fundhacre. “O paciente precisa chegar aqui com um encaminhamento específico para a cirurgia bariátrica”, diz.


 


O processo não é rápido, já que o paciente, pela complexidade do pós-cirúrgico, precisa ser acompanhado e ter os laudos de uma equipe multidisciplinar. “Depois que preenchemos o cadastro já marcamos a primeira consulta que é com o endocrinologista. Os laudos exigidos são o do próprio endócrino, psicólogo e algumas vezes também o psiquiatra, fonoaudiólogo, nutricionista, cardiologista e pneumologista. Este processo dura alguns meses, já que para algumas especialidades são necessárias pelo menos 6 consultas mensais, além da realização de diversos exames”, diz Alysson.


 


A boa notícia é que graças ao número recorde de cirurgias feitas no ano passado, a fila de espera não é grande. “Com a obtenção de todos os laudos, a média de espera após ser cadastrado na Central de Agendamento de Cirurgias é de, no máximo, 5 meses”, explica o coordenador.


 


É essa expectativa que vive Luana Beatriz de Souza, de 28 anos. Com 168 quilos, ela se diz ansiosa para fazer a bariátrica. “Estou muito ansiosa porque é uma mudança grande de vida. Não é um processo fácil, as pessoas pensam que fazer a cirurgia é o caminho mais fácil ou é por preguiça ou porque não quer fazer uma dieta, quando não é assim. Eu sempre fui fortinha, mas não era gorda. Quando passei por um evento na minha vida, eu entrei em depressão e descobri que havia adquirido um problema na tireoide. Eu quero perder 80 quilos. Depois que tive meu filho foi que decidi mesmo fazer a cirurgia, já que agora preciso de saúde para cuidar da minha cria”, diz Luana.


 


Para quem tem mais pressa e condições de arcar com as despesas, a cirurgia é feita de forma particular. O custo sai em média no valor entre R$ 28 a R$ 30 mil reais, dependendo do hospital escolhido.


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