Entre os nove estados da Amazônia Legal, o Acre, apesar de ser o segundo menor estado abrangido pelo bioma, apresentou a quarta maior área sob risco de derrubada em 2023, de acordo com a plataforma PrevisIA, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
A previsão da ferramenta é de que o estado acreano tenha 1.269 km² de desmatamento neste ano, caso o atual ritmo de destruição da floresta seja mantido. Entre os municípios acreanos, Feijó aparece entre os 10 com maior risco de desmate em 2023, com uma área de 250 km².
Para fins comparativos, a área do Acre sob alertas de desmatamento da plataforma Terra Brasilis, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 2022, foi de 580,52 km², a quinta maior entre os nove estados da Amazônia legal, atrás de Pará, Amazonas, Mato Grosso e Rondônia.
Os estados mais críticos em relação ao risco de desmatamento em 2023 são os três maiores em extensão territorial: Pará, Amazonas e Mato Grosso. Somados, eles representam 73% da área sob ameaça de derrubada em 2023, um total de 8.582 km², conforme a PrevisIA, que nessa previsão coloca o Acre em quarto lugar.
Já o quinto maior território sob ameaça fica em Rondônia, com 1.094 km², estado que assim como o Acre também faz divisa com o Amazonas. No mapa da ferramenta, é possível ver que as florestas sob maior risco nesses estados estão justamente em suas divisas, onde há uma área de expansão agropecuária chamada “Amacro”.
Desenvolvida pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) a PrevisIA estima que em 2023, se o ritmo atual das derrubadas não for interrompido, a Amazônia Legal pode perder mais 11.805 km² de mata nativa, uma área correspondente a 10 cidades do Rio de Janeiro.
Desenvolvida em parceria com a Microsoft e o Fundo Vale, a ferramenta do Imazon já mostrou uma assertividade de quase 80% na previsão de desmatamento em 2022, o que a consolida como uma tecnologia relevante para auxiliar nas ações de proteção à floresta.
Para validar o quanto a PrevisIA acertou, os pesquisadores cruzaram as áreas que a plataforma previu estarem sob risco de derrubada entre agosto de 2021 e julho de 2022 com a devastação registrada pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon no mesmo período. E o resultado foi que 78,2% da destruição ocorreu em até 4 km do indicado pela plataforma.
Caso se concretize, a estimativa da plataforma é que 2023 tenha o segundo maior desmatamento desde 2008 no Brasil, atrás apenas de 2021. Assim como o Prodes, sistema federal que monitora anualmente a derrubada na Amazônia, o cálculo de risco da PrevisIA leva em conta o chamado “calendário do desmatamento”, que vai de agosto de um ano a julho do ano seguinte.
Os dados indicam que os governos federal e estaduais precisarão agir para evitar que essa estimativa seja concretizada. No Acre, logo após se reeleger, o governador Gladson Cameli acenou para um segundo mandato mais voltado a políticas direcionadas para a preservação ambiental em consonância com o projeto de desenvolvimento do estado.
Essa expectativa foi reforçada nas falas de Cameli para a comunidade internacional durante sua passagem pela conferência da ONU para o clima, a COP 27, em novembro passado. A eleição de Lula para a presidência tem um peso na guinada mais ambiental do governo do Acre após um primeiro mandato em que o discurso foi de oposição à política ambiental herdada dos 20 anos de governos petistas.
Em seu primeiro dia de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou a retomada do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), considerado o instrumento de maior sucesso no combate à destruição de florestas na região, até o momento.
Criado em 2004, envolvendo cerca de 10 ministérios, o plano foi responsável pela redução de cerca de 80% nas taxas de destruição do bioma. O decreto que o ressuscita foi assinado no dia 1º de janeiro e publicado na edição do Diário Oficial da União (DOU) desta segunda-feira (2), com ação ampliada para os demais biomas brasileiros.
A medida vai ao encontro da promessa de Lula de que o desmatamento seria enfrentado de maneira firme em seu novo governo, caso fosse eleito. A recém-empossada ministra do Meio Ambiente, a acreana Marina Silva, também já havia indicado que esta era uma das principais sinalizações que faria ao novo governo, no processo de reconstrução da política ambiental brasileira.
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