Embora seja cada vez mais comum ouvir falar sobre pessoas que vivem relacionamentos não monogâmicos, também conhecidos como abertos, o estigma relacionado a esses indivíduos, e os impactos negativos para a saúde mental, ainda persistem. É o que mostra um novo estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, e publicado na revista científica Personality and Social Psychology Bulletin.
O trabalho foi dividido em duas partes. Na primeira, os responsáveis entrevistaram 372 pessoas em relações “não monogâmicas consensuais” – quando, de forma resumida, cada parte pode se relacionar com outras pessoas. Quase metade (40%) disse passar por experiências negativas de preconceito. Embora seja a minoria, a maioria (70%) dos demais disse que limitava o número de pessoas que sabia sobre a sua relação afetiva.
Os pesquisadores afirmam que os resultados acompanham estudos anteriores, que mostraram que as pessoas tendem a encarar relacionamentos não monogâmicos de forma mais negativa que aqueles conhecidos como “fechados”, em que as relações ficam restritas aos dois indivíduos.
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Eles destacam ainda que, no novo trabalho, quatro temas relacionados aos estigmas foram mais citados pelos entrevistados. Foram eles: expressões de desconforto ou desaprovação; perda de recursos ou comportamento ameaçador; desvalorização ou diminuição de seu caráter e desvalorização ou diminuição de seu relacionamento.
Na segunda parte do estudo, os pesquisadores entrevistaram 383 voluntários para avaliar o impacto desse estigma no bem-estar dos indivíduos. Eles constataram uma relação entre os preconceitos e um maior sofrimento psicológico, e observaram que essa associação acontece até mesmo em relação ao estigma antecipado – expectativa em relação a como as outras pessoas irão tratar o relacionamento – e ao julgamento internalizado – visão negativa que eles próprios poderiam carregar sobre o modo de se relacionar.
“Obter uma melhor compreensão do estigma e como ele está ligado ao bem-estar permitirá desenvolver e implementar intervenções para mitigar efetivamente os efeitos nocivos do estresse para pessoas consensualmente não monogâmicas”, defende a autora do estudo Elizabeth Mahar, em comunicado.
Ao portal HealthDay News, a professora assistente de psicologia na Universidade Chapman, nos EUA, Amy Moors, e pesquisadora sobre o tema, diz que esse preconceito existe embora na realidade haja uma grande diversidade entre pessoas que vivem relacionamentos abertos.
— Agora há tantas pessoas que se envolveram em relacionamentos abertos quanto americanos que possuem um gato. E isso inclui todos de todos os grupos: brancos, negros, liberais, conservadores, sulistas, nortistas, republicanos, democratas, religiosos e não religiosos — afirma Amy, que é também co-presidente de um comitê da Associação Americana de Psicologia que se concentra na não monogamia consensual.
Ela cita estimativas de que cerca de 20% dos americanos já tenham se envolvido em uma relação do tipo. Para a pesquisadora, muito do estigma criado sobre o assunto está relacionado à visão de que pessoas envolvidas em relacionamentos abertos são menos confiáveis e menos satisfeitas.
Ela diz que “há muitas razões para isso”, como crenças religiosas, uma falta de exposição ao conceito – que ainda é novidade para a maior parte da população – e até mesmo o medo de que a popularização dos relacionamentos abertos leve o seu parceiro em uma relação monogâmica a se interessar pela ideia.
— Mas seja qual for o motivo, quando você recebe mensagens de todos e de todos os lugares dizendo que o que está fazendo é errado, isso tem um custo real. Isso leva a uma autoestima mais baixa, uma sensação de bem-estar menor e, às vezes, custos econômicos muito reais, como não ser contratado para um emprego ou ser discriminado — acrescenta a especialista.
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