Em sessão da Câmara de Tarauacá realizada no último dia 13 de dezembro, o vereador Francisco Feitoza Batista (PDT), o Chico Batista, presidente da Casa, fez desabafos contra a atuação do Ministério Público no município, e afirmou que os vereadores ou parte deles estão sendo “caçados” pelo promotor Júlio César de Medeiros Silva, titular da comarca.
A reação de Chico Batista se deu um dia após o promotor ajuizar Ação Civil Pública contra o Município de Tarauacá, incluindo no rol de demandados a Câmara, a prefeita Maria Lucinéia, o vice-prefeito, Raimundo Maranguape, e mais 23 pessoas, abrangendo secretários municipais e os vereadores, que estariam sendo beneficiados pela aprovação de um conjunto de leis municipais que foi batizado pelo MP de “pacote de bondades”.
Na sessão, além de Chico Batista, estavam presentes o atual vice-presidente Luzivaldo de Jesus Araújo, e os vereadores Arife Rego Eleamen, Neirimar Cornélia de Jesus Lima, Valdorzinho Vieira do Ó, Pedro Claver, José Manoel dos Santos, Carlos Alberto Reis de Souza, Maria Gleciane Silva de Lima, José Manoel Dourado de Oliveira e Manoel Jerônimo Bento da Silva.
O “pacote de bondades” que é alvo das investigações do Ministério público promoveu, além alteração da estrutura organizacional do município, o aumento de salários na Câmara de Vereadores, o reajuste de 77% no subsídio de secretários, a criação do 13º salário para a prefeita e o seu vice, além da majoração dos valores de diárias pagas a servidores do Poderes Executivo.
No seu pronunciamento, registrado em áudio, Chico Batista se refere à denúncia feita pelo promotor e pergunta se os vereadores que receberam diárias se sentem covardes ou corruptos por isso. “Será que algum colega se sente covarde ou corrupto porque recebeu as diárias? Eu já vi colegas aqui elogiando o promotor, e eu não sou obrigado a elogiar o promotor”, diz o presidente.
Em outro momento, ele diz não se envergonhar dos projetos que foram aprovados na Câmara e que se tornaram alvo do Ministério Público. “Eu não me envergonho de ter aprovado tudo que nós aprovamos aqui. Se for preciso, eu faço tudo de novo, e qualquer colega que precisar de diária, até o dia 30 deste mês, eu dou, se me convencer que ele vai fazer um trabalho para defender esta cidade”, continuou.
Chico Batista também afirma que se sente perseguido pelo promotor, que ganhando por cinco vereadores, atrapalha, segundo ele, o desenvolvimento da cidade. “Eu me sinto perseguido pelo promotor dessa cidade. A Câmara deveria se sentir assim. A gente tem o direito de ir e vir e de expressão. O promotor está atrapalhando o desenvolvimento da cidade”, diz.
O presidente também reclama da falta de união dos vereadores em torno das denúncias feitas pelo promotor. “O que se percebe é que nesta Casa tem 11 pessoas, que podiam muito bem estar afinados, um defendendo o outro, unidos. Tá um para um lado e outro para outro lado. Muitos falando do outro colega, e muitas vezes sendo injustos”, afirma.
“O promotor, ele está aí nos caçando”
Chico Batista seguiu cobrando os demais vereadores por união em torno das denúncias do promotor. “Fiquem muito atentos à necessidade de união dessa Casa, fiquem atentos. Depois vão ver a necessidade da união desse Poder, porque tem gente aqui que ora fala uma língua, ora fala outra, é preciso você ter cuidado com esse comportamento. Gente, nós não podemos estar assim, nós temos aí um monte de pessoas, poderosas, o promotor, ele está aí nos caçando, e nós vamos ficar aqui nos digladiando”, acrescentou.
Por fim, o presidente da Câmara de Tarauacá classifica de “agressão” as denúncias do promotor contra os vereadores. “É uma verdadeira agressão o que está acontecendo aqui nessa cidade, o promotor denunciar os vereadores. É gasto muito dinheiro com um promotor, o Estado paga, e nós ajudamos a pagar, pra ele ficar perdendo tempo em perseguir. Perseguindo aquilo que é direito sagrado. Não tem problema se o juiz acatar a denúncia, eu não vou fugir um milímetro como presidente daqui”, finalizou.
Silêncio dos dez
Após o pronunciamento do presidente, os outros dez vereadores não se pronunciaram a respeito do assunto, de acordo com informações apuradas pela reportagem junto à fonte no município. Segundo as mesmas informações, o silêncio dos colegas diante da atuação ferrenha que o representante do MP vem impondo no município contra atos dos dois poderes pode indicar o isolamento e a perda de liderança de Chico Batista dentro da Câmara.
