Até pouco tempo, a produção de hortaliças que chegava às mesas da população em Xapuri era restrita às hortas domésticas ou, com raras exceções, saiam de pequenas lavouras da agricultura familiar. A maior parte era comprada diretamente dos produtores, no Mercado dos Colonos, com uma pequena oferta nos poucos e pequenos supermercados da cidade, que traziam de fora algumas, até então, novidades, como rúcula, brócolis e acelga.
Ainda hoje, a situação não é muito diferente daquela de uma década ou duas décadas, mas desde 2010 um paranaense de Campo Mourão enfrenta as adversidades para estabelecer um padrão diferenciado de produção de hortaliças em Xapuri. O agricultor Alexandre Carvalho, de 48 anos de idade, chegou ao Acre com sua família há cerca de 12 anos, depois de largar o emprego que tinha em Ariquemes, Rondônia, no ramo da pecuária.
Dono de uma área de 10 hectares nas cercanias da cidade, Alexandre começou a produzir hortaliças de maneira protegida, realizando testes e buscando informações na internet. Desta maneira, desenvolveu uma técnica pela qual – mesmo sendo cultivada na terra – a sua alface, por exemplo, apresentava características visuais da alface hidropônica, mostrando que era possível obter um produto com qualidade através de determinadas regras e com quase nenhum agrotóxico.
Alexandre conta que iniciou o seu cultivo sem possuir qualquer experiência com a atividade. Com a ajuda da esposa, se aprofundou nas pesquisas, leu e releu projetos acadêmicos sobre o assunto e construiu as primeiras estufas para o cultivo de hortaliças. Muita gente duvidou do futuro do empreendimento, mas quem visitava o lugar na época em que ele começou confirmava ser possível produzir verduras em escala comercial no Acre, apesar das dificuldades.
“No começo foi difícil. Ficamos quase um ano plantando e arrancando do chão alface sem nenhuma qualidade. A gente via que não tinha condição para ser vendida no mercado. Ouvi de muita gente que estava ficando louco, jogando dinheiro fora porque no Acre seria impossível viver da produção de hortaliças”, conta o empreendedor que nunca desistiu do seu intento.
No entanto, depois de alguns anos, Alexandre parou com a produção de alface na terra e passou a se dedicar à hidroponia. O motivo foi a facilidade em controlar as pragas que, a partir de certo momento passaram a tornar esse tipo de produção inviável para ele. Mesmo com o maior custo dessa modalidade de produção, foi a maneira de se manter na atividade, sendo que sempre foi seu objetivo evitar, o quanto possível, o uso de agrotóxicos.
Alexandre tem no alface o principal produto da sua área de cultivo, apesar de também produzir outros tipos de hortaliças, em especial o coentro e a cebolinha, base do tradicional “cheiro verde”, item obrigatório nas cozinhas acreanas. Ele explica que o foco no alface se dá em razão de ser um produto que pouca gente opta por plantar, pela delicadeza e o cuidado que se exige, que é muito maior. Contudo, ele também se dedica de igual maneira às outras espécies indispensáveis como o couve.
Atualmente, Alexandre atende com a sua empresa, a Fonte Nutri, 14 pontos fixos de vendas em Xapuri, o que para o tamanho da cidade não é pouco. O volume de produção, segundo ele, varia muito durante o ano, dependendo da época, mas ele chega a entregar 600 pés de alface em uma semana. Uma das melhores épocas, para ele, é a de fim de ano, quando cresce a demanda pelos produtos.
Um dos grandes desafios do agricultor, que diz não contar com nenhum tipo de apoio governamental ou financiamento bancário na sua atividade, é manter a sua produção sob controle biológico, evitando o uso de defensivos tradicionais. Tem dado certo na grande maioria das vezes, mas recentemente ele foi obrigado a recorrer a esse tipo de produto, liberado pelo Ministério da Agricultura, motivado pela falta no Acre do produto biológico que utiliza.
Alexandre tem plena convicção de que é possível se plantar qualquer coisa no Acre em escala comercial, inclusive verduras e legumes, entretanto, fatores como a falta de incentivo e, até mesmo, de reconhecimento em nível local do trabalho que é feito, oferecem dificuldades e desestímulo para quem labuta nesta área de produção tão importante. Ele confessa que já pensou em vender a estrutura que possui para se dedicar a algo menos trabalhoso.
“Aqui você tem que estar dentro o tempo todo, não podendo descuidar um instante sequer”, ele diz mostrando o sistema de bombeia a água no sistema de cultivo da alface hidropônica. “Caso ocorra, eventualmente, de um dispositivo desse desligar acidentalmente e não estarmos aqui, perde-se toda essa produção que você está vendo em questão de horas”, explica o produtor que emprega, atualmente, três funcionários em sua horta.
Ao mostrar o seu trabalho e a maneira como produz, o agricultor deixou algumas mensagens que considera importante no que diz respeito à valorização de quem trabalha na área. Primeiro, ele destacou a falta de conscientização da população para os benefícios do consumo de alimentos saudáveis, o que aumentaria demanda por verduras, frutas e legumes. De outra parte, Alexandre diz que a falta de estrutura e apoio a quem planta é uma das coisas mais lamentáveis.
“Muita gente que cultiva esses produtos, muitas vezes não consegue trazer até a feira por falta de acesso para chegar até a cidade, principalmente no período invernoso. É necessário que as autoridades competentes se sensibilizem em ver esses detalhes e fazer um pouco mais por quem precisa escoar o que produz. Mas isso é apenas uma mera opinião de minha parte”, conclui o empreendedor.