O ex-presidente do Peru, Pedro Castillo, que está preso por tentativa de golpe, disse nesta terça-feira (13) que não renunciará “jamais”. Mais cinco manifestantes morreram na segunda-feira (12), nos protestos no país, que pedem a renúncia da presidente Dina Boluarte, elevando para sete o total de mortos desde domingo (11).
O ex-presidente do Peru, Pedro Castillo, que está preso por tentativa de golpe, disse nesta terça-feira (13) que não renunciará “jamais”. Mais cinco manifestantes morreram na segunda-feira (12), nos protestos no país, que pedem a renúncia da presidente Dina Boluarte, elevando para sete o total de mortos desde domingo (11).
“Jamais renunciarei e abandonarei esta causa popular que me trouxe até aqui. Quero pedir às forças armadas e à polícia nacional que entreguem as armas e deixem de matar este povo sedento de justiça”, disse Castillo em uma audiência judicial que avalia sua apelação contra a prisão provisória.
A situação continua tensa no Peru, desde a prisão e destituição, na última quarta-feira (7), do presidente Pedro Castilho, após tentativa de fechar o Congresso.
Sua sucessora Dina Boluarte anunciou uma iniciativa de projeto de lei para adiantar em dois anos as eleições previstas para 2026. Mas sua proposta acabou atiçando os manifestantes, que exigem a liberação do presidente destituído, a dissolução do parlamento e eleições imediatas.
Na capital peruana, centenas de pessoas que participavam de protestos e tentavam chegar ao Congresso foram dispersadas pela polícia com gás lacrimogêneo. “Não vamos esperar dois anos. Durante este tempo eles vão acomodar as coisas do jeito deles”, disse uma das manifestantes à RFI.
Dina Boluarte “não nos representa. Não foi eleita pelo voto popular. Queremos que o Congresso seja fechado porque não nos representa, e que restituam o presidente (Castillo) e que faça uma nova Constituição”, completou.
“Estamos cansados de congressistas golpistas, traidores, 70.000 jovens estão desempregados”, reclamou Fabián Isaías, agricultor da província de Huancayo (leste de Lima).
Morte de menores de idade
Na noite de segunda-feira (12), cinco manifestantes morreram, um deles em Arequipa, segunda maior cidade do Peru, no sul do país, durante ação da polícia para recuperar a pista de pouso do aeroporto local que estava tomada por quase 1.500 manifestantes.
Quatro outros civis morreram durante a repressão policial a protestos em Chincheros e Andahuaylas, também no sul do país.
“Temos informações de sete mortes nas regiões de Abancay e Arequipa”, desde domingo, disse à AFP uma fonte da Defensoria do Povo peruana. Entre os mortos, estão dois adolescentes de 15 e 16 anos.
Em Chincheros, os manifestantes incendiaram a sede do Ministério Público e uma delegacia. No aeroporto de Arequipa, a polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar as pessoas que bloqueavam a pista de pouso com pedras, paus e pneus em chamas. Os manifestantes, alguns vestidos com chapéus e trajes tradicionais, queimaram cabines de vigilância e destruíram a iluminação, levando ao fechamento do aeroporto e ao cancelamento de voos.
Na mesma cidade, uma fábrica de produtos lácteos foi invadida por manifestantes, de acordo com imagens de vídeo segurança. O governo declarou, na segunda-feira, estado de emergência por 60 dias em sete províncias do sul do país.
A Corporação Peruana de Aeroportos e Aviação Comercial fechou o aeroporto Internacional Alejandro Velasco Astete, de Cuscos após manifestantes tentarem invadir de maneira violenta suas instalações.
Para tentar conter as manifestações, o governo destituiu na segunda-feira os 26 prefeitos regionais do país, nomeados pelo governo de Castillo, argumentando que “estimulam os protestos”.
O alto comissariado da ONU para os direitos humanos indicou em um comunicado que estava “profundamente preocupado com a possibilidade de uma escalada da violência”, no país. “Devido à quantidade de protestos, incluindo greves previstas esta semana, faremos um apelo a todos os envolvidos para que sejam moderados”, completou.
Em geral, Lima não apoia Castillo, um professor do meio rural e líder sindical sem contato com as elites, enquanto as regiões andinas se identificam com ele desde as eleições de 2021.
Apoio internacional a Castillo
Os governos de esquerda do México, Argentina, Colômbia e Bolívia expressaram, nesta segunda-feira, seu apoio a Castillo em um comunicado conjunto.
“O presidente Castillo Terrones, desde o dia de sua eleição, foi vítima de uma hostilidade antidemocrática, violadora (…) da Convenção Americana sobre Direitos Humanos”, diz o comunicado assinado pelos quatro países e divulgado pela chancelaria da Colômbia.
“Exortamos os que integram as instituições de se abster de reverter a vontade popular expressada com o livre sufrágio”, acrescenta o documento, sem mencionar que Castillo foi destituído ao tentar fechar o Congresso.
Greve
Organizações agrárias, de camponeses e indígenas anunciaram uma “greve por tempo indeterminado”, a partir de terça-feira, para pedir o fechamento do Congresso e eleições imediatas e uma nova Constituição, de acordo com comunicado da Frente Agrária e Rural do Peru.
O serviço de trens entre Cusco e a cidadela inca de Machu Picchu também foi suspenso pelos protestos, de acordo com a companhia operadora.
O coletivo que reúne uma dezena de organizadores pede a “imediata liberação do ex-presidente”, que foi detido por policiais que faziam sua segurança quando se dirigia à embaixada do México para solicitar asilo político. O Ministério Público do Peru o acusa de rebelião e conspiração. Ele também é investigado por corrupção.
A expectativa está agora na reação do Congresso à proposta de eleições antecipadas, porque isso significaria que eles diminuiriam também seus mandatos. Para isso seria necessário uma reforma constitucional, um processo que pode levar até um ano.
A demanda de novas eleições se associa a uma forte rejeição ao Congresso. Segundo pesquisas de novembro, 86% dos peruanos desaprovam o Parlamento.
(Com informações da AFP e RFI)