Passada a ressaca eleitoral, é hora de olharmos para os eventos recentes e, num ato de imensa ousadia, tentar antever o futuro. E, nele, projetam-se grandes desafios para nosso chão acriano.
Um deles é sobre a definição de quem somos e para onde vamos. Isso é grave, porque somos terra amazônica querendo ser, cada vez mais, cerrado do agronegócio. É como o cão que a partir de certo momento passa a assumir identidade de felino. É evidente que não vai dar certo. Mas, achando-se órfãos de opções, as pessoas aqui têm aceitado de bom grado a “adoção” pelo sertanejo goiano. Já tem até gente falando com o sotaque carregado de “erres” do Centro-Oeste.
Outra questão importante é a que trata do funcionamento dos governos e das instituições de Estado. Será que as coisas voltarão a fazer sentido? Você deve estar achando essa pergunta estranha, não é mesmo? Não deveria. Porque, não faz mesmo nenhum sentido que governos pobres de realização tenham boa avaliação da população e sejam tão bem-sucedidos eleitoralmente. Vejamos o caso do Governo Federal sob Bolsonaro. Não há legado do mandato do atual presidente no Acre. Pelo contrário. Tomemos como exemplo o caso da BR-364 entre Feijó e Rio Branco. Quem trafega por essa estrada sabe bem a lástima em que ela se encontra. Sem manutenção, a estrada é buraco do início ao fim. Quando olhamos para as outras áreas, é a mesma coisa. Nada na educação, na agricultura ou na geração de empregos, para ficar em apenas algumas áreas. E, no entanto, o acreano deu vitória de 70 a 30 para Bolsonaro no último dia 30. Qual o sentido disso? Nenhum.
Alguns dirão: ah, é pela defesa da família, ou “ele é temente a Deus”. Afinal, o que se está querendo? Eleger um presidente da República ou o líder da igreja? Outros atestarão: “é pela liberdade de desmatar e queimar”. De novo, o que estamos buscando? um estadista que nos conduza em direção a um futuro de esperança e harmonia ou um incendiário doidivanas que toque fogo no mundo, num selvagem salve-se-quem-for-capaz?
Liberdade de desmatar e queimar para transformar nossas florestas em pasto ou monocultura para exportação faz algum sentido? Nenhum. A geografia acreana não é a do Centro-Oeste. Nossas terras, na maior parte, não são apropriadas para cultivo extensivo com uso intensivo de máquinas. O solo não suporta e o relevo não permite. O volume de recursos necessários para mantê-la produtiva seria tão elevado que inviabilizaria economicamente a atividade. Mas, o mais grave de tudo isso é a estupidez de se substituir a floresta e tudo que ela pode nos prover de recursos materiais, existenciais e financeiros por atividades com potencial econômico dez vezes menor. Ainda assim, tem acreano começando a se achar goiano ou mato-grossense, como o cão que se transfigura em gato numa tentativa desesperada de assumir nova identidade. O fato é que mais cedo ou mais tarde a natureza cobrará seu preço.
Renunciar a uma identidade fundada na história das pessoas e na interação que construíram com seu meio natural; abdicar de ritos de vida e mitos que emprestam sentido à existência – e fazer tudo isso na velocidade de uma geração – é aventurar-se rumo a uma crise existencial e de sentidos logo à frente. As consequências de tamanha irresponsabilidade são imprevisíveis.
Isso não quer dizer que uma sociedade não possa mudar. Claro que pode. Na verdade, deve. A questão é que a mudança precisa, primeiro, respeitar o tempo e ter dinâmica de processo. Segundo, obedecer a um certo sentido de direção em que esteja guardada a correspondência entre o lugar de partido e o ponto de chegada. Assim como um cão não vira gato apenas porque quer, nossa natureza acriana não permite que viremos sertanejos mato-grossenses apenas porque está na moda ser “agro”. No mais provável dos cenários, seremos transformados em estrangeiros em nossa própria terra – como certos vizinhos aqui ao lado. Definitivamente, esse não parece um bom destino para quem já teve orgulho de ser acriano.
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