O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, que foi aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL) nos últimos anos, já sinalizou nesta terça-feira, 1, que está aberto para compor uma aliança com o novo governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva. As declarações do dirigente foram dadas durante um evento da XP Investimentos e confirmadas pelo Brazil Journal.
Entre os pontos de vista expostos por Kassab, um que chamou atenção seria o nome do petista do Acre, o ex-governador e ex-senador Jorge Viana, para a pasta econômica. “Ele quer fazer um bom governo. Para o ministério, os nomes são esses que já estão circulando. Ele gosta do Jorge Viana, Rui Costa, Camilo Santana, Wellington Dias e Alexandre Padilha.”
Perguntado quem ele próprio escolheria, Kassab disse que ficaria com Jorge Viana, dada sua experiência administrativa como governador do Acre e sua experiência parlamentar como Senador. “Essa experiência de gestor dá uma visão mais completa a um ministro.”
Kassab acha que o Governo Lula não vai “forçar para a esquerda.” “O Meirelles é o pai do teto, e ele veio a público dizer que o próximo Governo precisará gastar mais R$ 100 bi. Foi o Lula que pediu ao Meirelles para falar nestes valores, isso já foi fruto das conversas dos dois.”
Para Kassab, “Lula não vai colocar ninguém para gerar instabilidade com o mercado. A transição será o Alckmin ou o Mercadante. Se for o Mercadante não precisa assustar, não seria nada demais.” (Horas depois, Alckmin foi confirmado como coordenador.) Para ele, Geraldo Alckmin “não será ministro, mas vai indicar.”
Kassab disse que Lula terá que tomar cuidado porque, “fora a questão ambiental, educação e saúde, o Brasil não está ‘fechado’ com ele, e ele sabe disso. Por isso, vai ser um Governo de centro-esquerda. E o PSD é centro-direita. Em comum, teremos a economia.”
O PT “terá que ficar mais ao centro, e nós (PSD) somos de centro-direita. Precisamos ocupar este espaço na política brasileira. Não posso falar pelo PP e pelo PL. O que posso dizer é que o PSD está disposto a participar de uma coluna vertebral dentro do Governo que não seja fisiológica. A base do Lula será mais sólida que a do Bolsonaro. A do Bolsonaro estava muito vinculada a interesses pessoais dos parlamentares. Se for convidado, o PSD vai analisar o convite e pode apoiar, desde que não seja um governo exageradamente à esquerda.”
Para Kassab, “o PL está dividido no meio entre bolsonaristas e os que já estavam no partido antes. O Valdemar não quer briga com Lula nem com Bolsonaro.”
E depois da instabilidade dos últimos anos, “todo mundo está mais maduro: Lira, Lula, Ciro, Valdemar…”
O presidente do PSD estimou que a base parlamentar de Lula “hoje é de no máximo 150 deputados – antes de compor. Com o PSD, pode subir para 200.”
Kassab prevê que, com as cláusulas de barreira e a proibição de coligação nas eleições proporcionais, o número de partidos vai cair de 12 para 7 até 2030. “Vai ser mais saudável.”
“A tendência das emendas do relator é ir diminuindo ao longo do tempo. O Lula não vai deixar dinheiro das emendas saírem ‘online’. Hoje o Lira manda e o Ciro certifica. É automático. O Lula não vai dar essa moleza. A emenda vai ser impositiva, mas a execução terá seu prazo.”
Kassab prevê que, para ter chance de se manter como presidente da Câmara, Lira “terá que fazer uma série de concessões”, e Lula “não pode errar na articulação com o Congresso.”
Kassab disse ainda que defenderá que membros das polícias, do Judiciário e do Ministério Público tenham que respeitar uma quarentena de seis anos após deixar o cargo antes de poderem se candidatar. “Essa politização das corporações está acabando com o Brasil,”
Kassab disse ao Brazil Journal. Já existe um PL tramitando que cria a quarentena. A tributação de dividendos vai passar, “mas com moderação. Você não pode aumentar a carga muito mais. O Brasil não aguenta mais pagar tanto imposto.”
“O Brasil perdeu uma grande oportunidade de fazer uma reforma tributária quando descobriu o pré-sal – que era uma enorme receita extraordinária – porque em muitos modelos da reforma existe uma queda de arrecadação nos diversos entes federativos, e você precisa financiar um período de transição para que os entes se preparem e reduzam custos.” Ele disse ainda que só acredita em reforma tributária junto com uma reforma administrativa que melhore a qualidade do serviço público e reduza o custo da máquina. “A situação positiva dos estados é temporária por causa dos recursos de alívio à covid, mas esses ganhos já foram gastos. Os estados estão pior do que parecem.”